Com o evoluir musical, há autores que defendem que a tal “fusão” era sim um tipo de apropriação ou maneira de tocar dos músicos brasileiros. Um tipo de abrasileirar da música europeia, que terá resultado num género musical robusto e com “assinatura própria” – o choro – provavelmente o primeiro género urbano da música brasileira.
Primeiro dominado pelas cordas e sopro (sobretudo a flauta …que “brasileiramente” se misturava com o modo de tocar o cavaquinho…e posteriormente com a entrada do pandeiro), muitos foram os nomes que foram fazendo a história do Choro. A flauta de Callado provavelmente terá aberto as cortinas…mas posteriormente - a chegada do piano ao Choro, o incontornável Ernesto Nazareth (…e o seu “odéon”) e uma das minhas heroínas da música brasileira - Chiquinha Gonzaga – a primeira mulher no Choro. Chiquinha foi a primeira pianista do Choro, a compositora do tema que se defende ser a primeira marcha do Carnaval e obviamente a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, apesar deste último registo ser controverso. Chiquinha foi uma autêntica revolucionária feminista que via na sua música a maneira de passar “mensagens musicais” com a inserção de sonoridades das classes mais desfavorecidas. O piano era adaptado a sonoridades populares e o nome de Chiquinha Gonzaga foi preponderante para as bases da “Música Popular Brasileira”. Para além disso, já nessa altura, teve o seu nome ligado à defesa rígida dos direitos dos autores e músicos. Incontornável
Já mais tarde outro nome que para mim foi fulcral para perceber o Choro e, pulando de década, para a de 1900, vamos ter a Pixinguinha – sobretudo flautista e saxofonista que provavelmente terá tido o mérito de ter composto o tema mais conhecido deste género musical – o “carinhoso”…para mim um dos mais belos.
Facto interessante desta década é que Heitor Villa-Lobos já tinha composto choros, entregues às sonoridades da música de camara.
E assim continuava caminho o Chorinho e em décadas ia ganhando nomes que o iam tornando mais robusto - pela excelência do instrumento de solistas como Jacob do Bandolim, os provavelbem mais recentes como Dino 7 cordas (o mestre do violão), ou o compositor e letrista que de certa forma se encosta ao Choro – Paulinho da Viola.
Ainda já nesta fase mais recente, actual – os nomes de grupos como Rabo de Lagartixa, Água de Moringa ou Trio Madeira Brasil, onde destaco Marcello Gonçalves – o maravilhoso violão que conheci no tributo de Ney Matogrosso a Cartola – disco incontornável. Muitos destes grupos e músicos tiveram destaque pela excelência da “label” Biscoito Fino que nas suas compilações com as quais iniciou os seus trabalhos, reuniu muitos nomes deste género musical e sonoridade semelhantes.
E foi exatamente numa destas compilações que conheci o nome de Henrique Cazes, que se iniciou com o violão e resvalou para o cavaquinho. Professor universitário, muito publicou sobre a teoria musical sustentadora do Choro e várias as obras musicais dele em tributo aos mestres como Pixinguinha, Waldir Azevedo e até nomes mais afastados do Choro como o de Hemeto Pascoal ou Noel Rosa.
Com outro dos grandes grupos do Choro – “Camerata Brasil”, Henrique Cazes dividiu o que para mim, tendo a consciência de que não será certamente um dos álbuns da discografia mais “oficial” do Choro, provavelmente foi dos que mais ouvi. Por entre o Choro e Bach, perdemo-nos em musicalidade propícia ouvir a sorrir…
Arriscando, diria que, pelas ilhas - há Choro no nosso Luís Rendall e mais recentemente no músico Bau. Fica então a proposta do álbum – “Bach in Brazil”.
Texto publicado originalmente na edição nº1091 do Expresso das Ilhas de 26 de Outubro