UniCV escolhe hoje novo reitor. Conheça as ideias dos candidatos

Professores, estudantes e funcionários administrativos são chamados a escolher, pela segunda vez na história da instituição, a figura que irá representar e governar a universidade pública nos próximos quatro anos. Judite Nascimento, actual reitora e candidata a um novo mandato, tem pela frente os professores Artur Furtado, Corrine Almeida e Eurídice Monteiro.

Qual é a motivação para a sua candidatura? 

Artur Furtado: Em primeiro lugar, devo dizer que existe mais do que uma motivação para esta minha candidatura; existem, pelo menos, três motivações: A primeira motivação tem a ver com o acudir aos apelos. Apelo do pessoal docente, apelo do pessoal não-docente, apelo dos alunos e apelo de muitas outras figuras proeminentes da sociedade política e, bem assim, da sociedade civil que conhecem e tinham proposto e insistido para que me disponibilizasse para me candidatar ao cargo de Reitor da Universidade de Cabo Verde; A segunda motivação tem a ver com a necessidade de cumprimento do meu dever de participação cívica; A terceira motivação tem a ver com a capacidade de responder a um desafio: o desafio de ajudar a resgatar a nossa universidade do precipício (financeiro e científico) para onde foi levada, colocando todo o meu conhecimento, toda minha experiência, o conhecimento e a experiência da equipa profissional de gestão que irei montar, no sentido de, com a contribuição de todos, e estrategicamente, contribuição do Governo, transformar a Uni-CV numa universidade de referência na CEDEAO, na África, em geral, e no mundo. 

Corrine Almeida: Por amor à casa na qual estou há 16 anos, tendo sido transferida do ex-ISECMAR. E, por sentido de dever. Analisando os instrumentos legais da Uni-CV, constatamos que esta está bem servida. Entretanto, a academia está descontente quanto ao que têm sido as práticas e, em muitas situações, estas têm deteriorado. Perante a discrepância entre os normativos e as práticas, urge que avancemos com nossa candidatura que tem por slogan Rebeldia pela Causa Uni-CV. Rebeldia porque estamos determinados a confrontar a realidade conformista instalada e avançar com coragem e vontade no sentido da implementação da Uni-CV escrita e com a qual sonhamos e, de ir mais além. Assim o programa abrange 5 eixos: Organização e gestão, Sustentabilidade, Produção e transferência de conhecimento, Capacitação e Humanização. Cada eixo contempla acções claras, objectivas e viáveis para o desenvolvimento da Uni-CV.

Eurídice Monteiro: Nós queremos congregar docentes, funcionários e estudantes em torno de um projecto para a Uni-CV. A concretização desta candidatura resulta do facto de termos sentido o incentivo, carinho e entusiasmo da comunidade académica. Esta candidatura acredita no país e no futuro do ensino superior em Cabo Verde, que compreende o papel que está reservado às Ciências, à Tecnologia e ao Conhecimento nas sociedades modernas e, em particular, na nossa. É uma candidatura que traz como desafio um novo conceito de universidade assente na ideia de que uma universidade é, essencialmente, um pólo, por excelência, da produção do conhecimento científico, técnico e pedagógico. Uma universidade que ensina, mas que também educa através da promoção de valores e, para isso, em paralelo com o desenvolvimento curricular, saiba criar opções extra-curriculares de desenvolvimento pessoal, profissional e cívico. Uma universidade aberta à sociedade cabo-verdiana e ao mundo, integrada em redes mundiais de produção do conhecimento. Uma universidade que também sirva para promover a nossa identidade. Garanto-lhe que esta candidatura está absolutamente convencida de que Mudar É Preciso.

Judite Nascimento: A minha motivação para a recandidatura baseia-se nos seguintes aspectos: o progresso da Universidade nesses últimos quatro anos; a necessidade de capitalização dos ganhos já alcançados e de consolidação dos projectos implementados durante o mandato actual; a existência de grandes oportunidades no plano externo, destacando-se os programas internacionais para o ensino superior e investigação a nível da Europa, América, África e Ásia (China); o prestígio já granjeado pela Uni-CV nas redes internacionais de que faz parte; e, por último, e não menos importantes, o compromisso sério com a causa da universidade pública, a experiência pessoal e capacidade para assegurar o processo de transformação desse grande projecto nacional que é a Universidade de Cabo Verde. Se os aspectos anteriormente mencionados já eram suficientes para incentivar uma recandidatura, a campanha que tem sido levada a cabo pelos adversários reforçou em nós a convicção sobre a necessidade desta recandidatura, pois tornaram-se evidentes os riscos de retrocesso da nossa instituição, em vários aspectos. 


Quais acha que são os pontos fortes do seu programa?

Artur Furtado: São muitos os pontos fortes e que são, de certo modo, diferenciadores dos outros. Ei-los: Descentralização de poderes e competências da Reitoria para as Unidades Orgânicas (UO) e Escolas (E) da Uni-CV. Os outros programas sugerem desconcentração de poderes, competências e responsabilidades da Reitoria para as UO e E. Nós vamos mais além: propomos empoderar as UO e E com poderes e competências próprias. Democratização da gestão das UO e E, pela via de eleição de respectivos Presidentes e Directores. Mudança de Paradigma de Gestão: Bottom-up model, em vez de Top-down model, em vigor. Nosso modelo pressupõe maior participação, democratização, autonomia e responsabilização. Qualidade do ensino e da investigação científica: Geração, difusão e aplicação do conhecimento, com base na liberdade de pensamento e na pluralidade de opiniões e de críticas, visando a construção de uma sociedade mais plural, mais justa e mais democrática. Transparência de actos e de processos: os gastos dos dirigentes devem ser todos justificados perante a academia, segundo o princípio custo/benefício. Qualidade na docência, por via de formações pedagógicas para todos os professores da Uni-CV, no activo, sem experiência no ensino superior. Criação de um conjunto de indicadores para seguimento e avaliação da qualidade do ensino superior. Criar uma estrutura para mobilização/captação de fundos a nível nacional e internacional para investigação. Valorização dos resultados de estudos e investigação desenvolvidos na Uni-CV. Maior articulação entre a Uni-CV e as escolas secundárias. Criação de incentivos diversos para a promoção da investigação. A nível da administração, reforço e reestruturação da capacidade interna de gestão.

Corrine Almeida: A transparência através da publicação dos vários documentos da Uni-CV (planos de actividades, orçamentos, contas de gerência, relatórios, entre outros), para que cada um saiba o que se faz, porque se faz e quanto se gasta. A oportunidade de participação efectiva de todos através de um plano de comunicação a ser implementado, com estratégias para comunicação interna e externa. Instituir eleições em todos os níveis académicos e concursos em todos os níveis da administração. Destacamos concurso para Administrador Geral, que deverá ser a nível Nacional, para que possamos ter a oportunidade de termos um dos melhores gestores do país. Neste âmbito, criar uma Fundação, que por um lado deverá gerir projectos de prestação de serviço e de investigação, através dos quais serão cobrados overhead que alimentarão a fundação. Ademais, a fundação abrirá um leque maior de oportunidades de acesso a fundos que uma instituição pública não tem, inclusive donativos. E parte, dos fundos deverão ser destinados à acção social, através de atribuição de bolsas e apoios às cantinas. No que respeita à investigação, a Uni-CV deverá ter no seu orçamento um fundo para investigação. Este fundo servirá para apoiar a implementação daqueles projectos de investigação, por exemplo, os no âmbito MAC, em que a Universidade recebe na forma de formações, equipamentos, entre outros, mas não disponibilizam qualquer centavo para realização de determinadas actividades e continuidade dos projectos. Muitas vezes os reagentes recebidos se esgotam e não há como dar continuidade porque não há dinheiro para tal. O fundo para investigação servirá também para financiar projectos de investigação de docentes-investigadores e estudantes, mediante concurso. Mais importante que criar esta oportunidade será a competição que será fomentada, contribuindo assim para desenvolvimento de competências na área de investigação. Mais pode ser visto na página Facebook: rebeldiapelacausaunicv.

Eurídice Monteiro: O ensino, a extensão universitária e a investigação. Concretamente, queremos fazer as seguintes mudanças: Para os alunos, vamos criar uma rede de residências universitárias e promover a equidade de acesso às cantinas e aos Serviços de Acção Social; priorizar a iniciação científica, estágios e mobilidade internacional; incentivar o espírito académico, cívico e desportivo, além de garantir as saídas profissionais e a presença da associação dos estudantes na tomada de decisões relevantes para a instituição; melhorar o acesso à internet e às revistas científicas de qualidade; criar um prémio de estímulo à investigação, inovação e criatividade. Para os docentes, vamos melhorar e afinar o regulamento de avaliação dos docentes e implementar um sistema justo de progressões e promoções na carreira, com a abertura de concursos para professores associados e titulares; criar um programa académico em colaboração com os pesquisadores, técnicos e docentes cabo-verdianos da diáspora, incrementando as suas remessas científicas, mobilizando as suas redes e colocando-as ao serviço da Uni-CV, e incentivando a mobilidade de estudantes, funcionários e docentes da nossa instituição, bem como a sua formação avançada e contínua. Para os funcionários, vamos assegurar a reclassificação e progressão na carreira, no quadro da implementação dos estatutos da Uni-CV e da sua sucessiva revisão; criar bolsas e incentivos de formação do pessoal não docente; prémios de desempenho; formar técnicos administrativos e gestores de programas e projectos de investigação, em conformidade com as exigências dos concursos nacionais e internacionais. 

Judite Nascimento: O nosso programa tem como pontos fortes: a solidez do diagnóstico – a avaliação do estado actual da universidade não foi baseada em percepções e impressões de uma observação à distância, nem em dados e informações transmitidas por terceiros e, consequentemente, em análises superficiais, mas sim baseou-se em factos e na vivência “em campo de jogo”, mas também no feedback que recebemos dos membros da academia e dos nossos interlocutores externos (pessoas individuais, instituições); a clareza da visão do futuro – a experiência de gestão da Uni-CV e o conhecimento concreto da conjuntura nacional e internacional, dão-nos uma perspectiva das tendências e dos desafios que se apresentam para o sistema de ensino superior em geral e para a nossa instituição em particular, a consistência dos objectivos e das metas, pois traduzem as necessidades da instituição e estão em consonância com as capacidades e as oportunidades, tanto no plano interno como no plano externo; a coerência das propostas de acção – que se sintonizam com o diagnóstico e com os instrumentos de Planificação Estratégica Nacionais e sectoriais. 

Artur Correia, Corrine Almeida, Eurídice Monteiro, Judite Nascimento
Artur Correia, Corrine Almeida, Eurídice Monteiro, Judite Nascimento


Estiveram em campanha, apresentaram-se os programas, debateram. Como analisa as candidaturas adversárias? 

Artur Furtado: O meu programa é o único programa que emerge da comunidade Académica: contém no seu apêndice aquilo que são as justas e exequíveis aspirações e propostas do pessoal-administrativo da Uni-CV; as justas e exequíveis aspirações e propostas da Acad-CV (Associação dos estudantes da Uni-CV) e as propostas dos docentes mais ousados da Uni-CV. Por isso, o meu programa, em certo sentido, deixa de ser meu programa, para passar a ser o Programa da Uni-CV, na medida em que engloba todos os problemas identificados na Uni-CV mais todas as propostas de soluções apresentadas pelas três classes da Uni-CV. Por conseguinte, votar Artur Furtado significa votar no seu próprio programa.

Corrine Almeida: Com devido respeito às outras candidaturas, a nossa é a única que coaduna com uma academia, pelo programa que desenvolve: acções concretas que conduzirão ao desenvolvimento do ensino, investigação e extensão; acções que institucionalizarão a transparência e a participação efectiva de todos; mas principalmente, diferenciamos pela postura no processo eleitoral e sem amarras internas, nem externas. No debate ficou claro, a nossa determinação e tranquilidade perante os desafios que nos aguardam. 

Eurídice Monteiro: Somos uma candidatura democrática e com os olhos postos no desenvolvimento de Cabo Verde, logo vemos a existência de vários concorrentes com a maior normalidade. Sabemos respeitar a diversidade de opiniões. Um ponto comum de três das candidaturas, incluindo a nossa, é o afastamento da reitora incumbente que se recandidatou.

Judite Nascimento: Em termos globais e de princípio, consideramos que a diversidade de candidaturas espelha a riqueza da nossa jovem universidade. Contudo, o conteúdo dos programas e o discurso dos protagonistas tem revelado aspectos que devem merecer uma atenção particular da academia. Desde logo, constata-se uma tendência, cada vez crescente, para um discurso do “bota abaixo” em vez da análise cuidada de dados e informações fidedignas e da discussão séria sobre a realidade da instituição e sobre as propostas concretas para o futuro. 


Qual o diagnóstico que faz da Uni-CV hoje, e que Universidade espera deixar ao final do seu mandato, caso seja eleito? 

Artur Furdado: Bem, se é verdade que a Uni-CV cresceu do ponto de vista quantitativo, do ponto de vista de mais estruturas físicas e, incluso, de mais doutores, não deixa de ser verdade que a Universidade decresceu, em termos de qualidade. A Uni-CV decaiu 120 posições do ponto de vista de proficiência científica no ranking das 200 melhores universidades africanas. Em 2015 estava na posição 78ª e hoje está na posição 198ª. Ora isto é sintomático da falta de qualidade que nela grassa. Por isso, a única salvação da Uni-CV é uma aposta forte e urgente numa Nova Visão: Qualidade e Transparência.

Corrine Almeida: Deixaremos uma Uni-CV com determinadas práticas institucionalizadas no que respeita a autonomia das unidades orgânicas, transparência, eleições, concursos, canais efectivos de participação de tal forma que independentemente de quem voltar a assumir o cargo de Reitor(a), conduzirá a Uni-CV sem muitos percalços. Ademais, teremos assentes as bases para efectivo desenvolvimento da qualidade do ensino, investigação e extensão.

Eurídice Monteiro: Existem muitas coisas erradas na Uni-CV. É fraca a qualidade e quantidade de comunicação, e nenhuma a prática da autonomia e democracia. São nulos os mecanismos de prestação de serviços. A investigação tecnológica, a gestão de projectos e a mobilidade são incipientes. Enfim, vamos mudar muita coisa, incluindo o papel da reitora, que deixará de ser o centro da vida universitária, e compartilhará o protagonismo e os louros das conquistas da universidade com outros actores. Vamos deixar uma universidade muito melhor em termos de democraticidade, comunicação e intervenção. Vamos elevar o patamar da Excelência, Eficiência e Internacionalização da Uni-CV, bem como incrementar a autonomia das Unidades Orgânicas, com eleição dos respectivos órgãos, e assegurar a transparência na gestão e administração da Uni-CV. 

Judite Nascimento: Contrariamente ao que se tem afirmado, a universidade tem procurado, cada vez mais, corresponder aos desafios do país. Com efeito, no domínio do ensino e formação a Uni-CV apresenta um leque de ofertas formativas que cobre praticamente todos os sectores de actividade e as áreas de relevância para o desenvolvimento do país. Visando promover a inserção dos diplomados na vida activa, foram criadas duas unidades funcionais: o Centro de Empreendedorismo e Prestação de Serviços e o Gabinete de Estágios e Inserção Profissional. Considerando o cenário actual, as acções para o próximo mandato direccionam-se para as seguintes metas: Consolidação dos cursos e sistematização das ofertas formativas, incremento do acesso às ofertas formativas apostando no ensino à distância e na oferta de cursos pós-laborais. Consolidação das parcerias existentes e reforço da integração da Uni-CV em redes internacionais de instituições de pesquisa e desenvolvimento. Reorganização da estrutura orgânica instalação dos órgãos e unidades de serviço já previstos nos Estatutos, designadamente o Conselho para a Qualidade e Avaliação, o Gabinete de Auditoria e Controle da Qualidade; Criação da provedoria do Estudante; Reforço e consolidação da infra-estrutura tecnológica. Regularização do quadro de pessoal. Consolidar a política de responsabilidade social e ambiental. 

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Autoria:Chissana Magalhães, Expresso das Ilhas,19 jan 2018 6:42

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  16 dez 2018 3:22

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