Boris Johnson

PorEurídice Monteiro,6 ago 2019 6:04

Na passada quarta-feira, dia 24 de Julho deste ano de 2019, foi conhecido o novíssimo ocupante do emblemático número 10 de Downing Street, coração do sistema político britânico.

O seu nome é Boris Johnson, uma figuraça polémica, que esteve à frente da Câmara de Londres e, no começo do turbulento governo da sua antecessora Theresa May, chegou a ser um espectaculoso Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido.

Depois de derrotar, sem lamento, o liberal Jeremy Hunt nas eleições internas para a liderança do Partido Conservador, o ultraconservador Boris Johnson sucedeu a contestada Theresa May e tornou-se o novel primeiroministro britânico, com o compromisso de dar seguimento às negociações do Brexit e superar a crise política que se instalou e vem agudizandose em torno deste processo de desintegração da União Europeia.

Theresa May, que havia alcançado o poder na sequência da renúncia de David Cameron após o anúncio dos resultados pró-Brexit do referendo realizado em 2016, reconheceu por conseguinte os fracassos sucessivos da sua governação nas negociações entre Londres e Bruxelas e os impasses gerados nas discussões dos termos de saída do Reino Unido da União Europeia.

O novel primeiroministro britânico Boris Johnson é um fervoroso defensor do Brexit, tendo sido uma das principais caras da campanha pelo referendo de 2016. Embora tivesse sido apontado como uma das figuras políticas de proa para a ocupação do número 10 de Downing Street, naquela altura viu o seu nome sendo afastado e classificado como pouco qualificado para a liderança de um governo britânico. Conformou-se. Aceitou então o lugar de ministro que lhe foi proposto no governo. Desta feita, depois de uma intensa disputa interna no partido, assumiu as rédeas da governação nas terras da sua majestade. Assim como todos os demais membros que escolheu a dedo para o seu governo, está convicto numa saída triunfante da União Europeia. Com ou sem acordo, Boris Johnson prometeu tirar os britânicos da elegida como uma endémica União Europeia e, diz, que isto terá que acontecer ainda antes da datalimite de 31 de Outubro deste ano.

Este afastamento político da União Europeia, nas palavras de Boris Johnson, traduzirá doravante numa retoma da autonomia do Reino Unido e da sua economia, de maneira a poderem finalmente fazer as coisas que a integração europeia não lhes permitiram fazer durante décadas desta integração comunitária. É assim que, entre as inúmeras verdades falaciosas e incontáveis fake news transmitidas pela via das redes sociais, Boris Johnson apregoa o regate da autonomia política do Reino Unido relativamente à União Europeia como uma importante oportunidade económica. Numa perspectiva nacionalista, uma coisa depende da outra e, por isso, esta propalada correlação entre a política europeia e a economia britânica tem contribuído para a exacerbação do populismo nas terras da sua majestade.

Em quase tudo o que se pode vislumbrar, quer pelo discurso, quer pela aparência, Boris Johnson é parecido com o presidente americano Donald Trump: nas gafes recorrentes, nas declarações inflamadas, nas ofensas sexistas e racistas, nas políticas antiimigração, nas posições extremistas e populistas, pela aderência à política-espectáculo e até na cabeleira loira desgrenhada. Pelo que, através da rede social Twitter, o presidente americano não tardou em congratular o seu novíssimo cúmplice britânico: «Congratulations to Boris Johnson on becoming the new Prime Minister of the United Kingdom. He will be great!» Considerado para muitos como «Britain Trump», Boris Johnson não nega as parecenças e já deixou claro o que se deve esperar dele, recorrendo à analogia trumpiana: «I’ll make Britain great again.» Faça o que fizer, com um Boris Johnson energizado ao leme, não se prevê bons ventos por aquelas bandas nos tempos que se avizinham.

Se por um lado, pairam no ar muitas incertezas quanto aos termos dessa saída da União Europeia; por outro, são cada vez maiores as desconfianças em relação à política de Londres, pelo que já se sente também uma forte pressão na estrutura estatal cujas consequências máximas podem implicar uma decomposição desse Estado soberano, que desde 1707 tem vindo a ser sustentado pela união entre quatro nações (Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda). Tanto a Escócia como a Irlanda têm vindo a manifestar sinais independentistas e reivindicações próprias no decurso das negociações sobre o Brexit. Quer isto dizer que, além de traduzir num choque na comunidade europeia, o Brexit poderá ter consequências dentro de portas ainda não totalmente previsíveis.

Esse recuo nacionalista dos britânicos é visto, por exemplo pelo presidente francês Emmanuel Macron, defensor convicto da união, como um símbolo do maior perigo que a Europa tem vindo a travessar desde a Segunda Grande Guerra Mundial, com inevitáveis consequências políticas, económicas, securitárias, culturais e sociais principalmente para o Reino Unido.

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Por estes e outros sintomas que os extremismos e populismos de direita e de esquerda têm manifestado, também nunca como hoje se mostrou tão importante o lema da União Europeia: unida na diversidade. Que assim seja, por eles e pela paz mundial!

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 922 de 31 de Julho de 2019. 

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Autoria:Eurídice Monteiro,6 ago 2019 6:04

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  29 abr 2020 23:21

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