Notícias de Opinião
Não é só uma nódoa, Senhor Presidente!
Ainda nem conseguimos perceber a razão última que levou à morte de uma mulher pelo seu companheiro e já somos novamente assombrados por uma outra morte de mulher, igualmente causada, tudo indica, por um homem com quem ela vivia ou viveu. E nos últimos tempos tem sido assim. Violência atrás de violência contra as mulheres, em muitos casos, seguida do suicídio do autor do homicídio. Uma tragédia que aumenta de dimensão sempre que para trás ficam crianças.
Nha Balila: o árduo percurso de vida de uma batucadeira santiaguense
Uma infância e adolescência num meio rural áspero No sopé da imponente Serra Malagueta e cujo maciço montanhoso se situa na parte Norte da Ilha de Santiago, no entroncamento entre os Concelhos de Tarrafal, São Miguel e Santa Catarina, mais precisamente no povoado de Tchan di Curral (Chã de Curral), nascia, a 15 de maio de 1929, Isidora Semedo Correia que, desde a mais tenra idade, passaria a ser alcunhada pelos seus pais de Balila, que, na gíria popular santiaguense, significa “bali pena” (vale a pena).
Equívocos para continuar a controlar o passado e o futuro
O governo apresentou na segunda-feira, dia 18 de Março, o programa de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e da libertação dos presos do Campo do Tarrafal. Não se conhece se o acto foi precedido da publicação de uma resolução do governo.
O conforto das memórias, no Dia do Pai.
1.Há pessoas que têm uma memória fantástica, que se lembram de tudo e mais alguma coisa e é um prazer conversar com elas, porque dão cor e som ao passado, fazendo-nos viver o que não conhecemos ou o que já se esvaziou por entre outros momentos. Recordar o que de bom se passou faz-nos bem.
Parceria IILP - EI cria o Corpus Jornalístico de Cabo Verde
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a Media Comunicações S.A., proprietária do Expresso das Ilhas (EI), assinaram um protocolo cuja relevância e o caráter inovador são merecedores do destaque que aqui, singelamente, se procura conferir. Por via do referido protocolo, o EIcede ao IILP, para efeitos de investigação, pelo próprio ou por terceiros, o acervo digital de todas as edições do jornal já publicadas, em número bem superior a um milhar.
O março das nossas vidas
1. «Não tinha tempo para viver como as minhas colegas. Quando as aulas terminavam tinha de correr para casa para fazer a janta para os meus irmãos. Os nossos pais tinham emigrado e eu tinha de cuidar dos mais novos. Acabei o curso muito mais tarde, porque tinha a responsabilidade pelos meus irmãos». «Primeiro, a minha tarefa começou por ser limpar a casa de banho. Depois, também fiquei responsável por limpar a cozinha. Quando todos terminavam de almoçar, eu tinha de lavar a loiça e arrumar tudo. Quando a minha irmã mais velha foi estudar, fiquei eu com as tarefas dela. Pouco a pouco, as tarefas domésticas iam aumentando, até ficar responsável pela janta do meu pai. Tinha dois irmãos machos, mas a eles não lhes eram dadas estas tarefas». «Eu era melhor aluna, mas os meus pais não podiam suportar os custos escolares dos dois e por isso decidiram que o meu irmão é que devia ir estudar. Sei que seria uma grande médica, mas a vida não permitiu. Agora tenho a minha família e não penso mais nisso. Trabalho para que todos os meus filhos possam estudar».
O chumbo a Jassira Monteiro: um choque coletivo no feminino
As celebrações de Março acontecem como uma espécie de presente para as mulheres, e nós em Cabo Verde temos neste mês dois dias plenos para imaginar que somos importantes, de verdade: 8 e 27 de Março. Os discursos que ouvimos nesses dias e os eventos e reflexões que são promovidos levam-nos a tremores internos que bombeiam nossa fé nas mudanças que esta sociedade machista possa fazer, onde há muita aceitação discursiva e ritualística, em nome da igualdade de género, mas as resistências em mudar as atitudes continuam firmes.
Salvaguardar a autonomia do BCV
A iniciativa do INPS de organizar leilões para depósitos na perspectiva de conseguir maior rentabilização das poupanças da instituição continua a provocar polémica. No passado dia 1 de Março o BCV, depois de, em Dezembro, ter recomendado aos bancos que se abstivessem de participar nos leilões veio dar-lhes razão na reclamação então apresentada.
Sangram as mulheres
No mês de março devem ser poucas as mulheres que escapam aos holofotes. Altura em que se tecem freneticamente atividades e comemorações em torno das mulheres e as convidam a ocupar lugares de fala. Dão música. Oferecem chocolates. Colocam uma flor atrás das suas orelhas e sussurram palavras de enaltecimento. Afinal, quem não ama as mulheres? Nada contra, desde que não se fique por aqui.
Tocou o sino para o recreio!
1. Dentro de dias toma posse o novo conselho de administração da RTC- Rádio Televisão de Cabo Verde. Um novo conselho é uma renovação da esperança de que a RTC possa projetar-se para frente em termos do serviço público que deve prestar e do produto que temos direito a ter numa democracia tão bem classificada como a nossa.
De mãos dadas para enfrentar os desafios da modernidade
Março, Mês da Mulher, é sempre o tempo ideal para um olhar sobre a grande caminhada para garantir direitos e oportunidades em pé de igualdade com os homens. Extraordinários avanços já foram feitos, em particular nas democracias, enquanto atrasos se mantêm em muitos países e autênticas regressões se verificam noutros. O acesso generalizado à educação nos diferentes níveis e a empregos em todos os domínios tem traduzido muito desse progresso.
Made in Cabo Verde
Muito se tem falado de propriedade intelectual nos últimos tempos e as razões do falatório não são as mais felizes, pois trata-se da suspeita de plágio de um logotipo estrangeiro e possível apropriação inadequada do mesmo. Custa-me muito a crer que um assunto desta importância não tenha passado pelo crivo do Instituto da Qualidade, pelouro da área da propriedade intelectual em Cabo Verde e verdadeiros responsáveis se deixaram passar tal falha, sem que se tenha feito um pré-registo da marca.
O Manuscrito na Garrafa, um livro inconveniente. Daniel Filipe nos Serviços de Censura do Estado Novo
Menino nascido na orela d’ mar, o poeta e novelista Daniel Filipe tem a reminiscência e os sons do mar das ilhas de Cabo Verde, talvez porque retirado dessa realidade muito cedo na sua infância. Os títulos dos seus livros assim o atestam – Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (Prémio Camilo Pessanha sob o pseudónimo Raymundo Soares, 1957), O Manuscrito na Garrafa (novela proibida pela Censura, 1960), A Invenção do Amor e Outros Poemas (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963, livro de poesia proibido em 1972).
Breve nota de apresentação de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe: Esquema de uma Evolução Conjunta
Breve Nota de Apresentação «A doutrina segundo a qual o contacto das culturas negras com as europeias provoca o aparecimento de uma civilização nova baseia-se na ideia de que toda a civilização vive de empréstimos. E, daí, infere-se que a colonização, pondo em contacto duas civilizações diferentes, levará a civilização indígena a tomar elementos culturais à civilização do colonizador e que resultará desse casamento uma civilização nova, uma civilização mestiça. O erro de tal doutrina está em que ela repousa sobre a ilusão de que a colonização é um contacto de culturas como qualquer outro contacto e que nela todos os empréstimos se equivalem. A verdade é outra: o empréstimo só é válido quando ele é reequilibrado por um estado interior que o solicite e que em definitivo o integre no sujeito, o qual sujeito, assimilando esse elemento emprestado, o torna seu»
Os tempos não estão para activismos fracturantes
Assiste-se actualmente em Cabo Verde ao renascer da tendência para o pensamento único sob a capa de slogans como “cumprir Cabral”, “cultura é resistência” e agora “oficialização Já! do crioulo”. Este último slogan saiu do fórum sobre a língua cabo-verdiana realizado no quadro das actividades realizadas no sábado passado a propósito do dia internacional da língua materna. O activismo que dá corpo a essa tendência autorreferencia-se pela aderência à ideologia da luta de libertação, pelo pan-africanismo e pela negação da especificidade da cabo-verdianidade. Até se faz reconhecer nas suas actividades através de uma espécie de “dress code” supostamente de resistência em que prefere o uso de indumentária típica de países do continente africano ou então a que distinguia os dirigentes do regime anterior.
Debater abertamente para ter agenda própria
Todos queixam-se que em Cabo Verde não se debate o suficiente, que o debate quando acontece é repetitivo ou de fraca qualidade e que não poucas vezes é pontuado por acusações mútuas e tacticismos que acabam por o inviabilizar. Curioso é que neste ambiente de debates difíceis ou inefectivos, decisões cruciais para o futuro são tomadas, investimentos custosos são realizados e riscos são assumidos, sem que se tenha clara consciência do que se passa, para além do espectáculo mediático-político criado para os apresentar.
O Amor tudo suporta (1 Coríntios 13:4-7)
1. Penso que quase toda gente já terá vivido uma situação em que é tão doloroso aceitar uma coisa, que a rejeitamos mesmo contra todas as evidências da sua verdade.
A integração regional na CEDEAO confrontada a novos desafios
O que inspira a situação corrente na sub-região, entre crises sucessivas e a necessidade de um debate refundador da organização sub-regional.
Incertezas aumentam neste ano de 2024
Já na segunda metade do mês de Fevereiro torna-se cada vez mais evidente que o ano de 2024 vai ser um ano de mudanças ainda mais profundas do que se esperava. Crise da democracia, tensões geopolíticas e perturbações no comércio internacional a par do problema crescente das migrações e das alterações climáticas conjugam-se para criar um quadro global volátil. As guerras existentes poderão ser ampliadas e outras poderão emergir das enormes tensões já existentes. O facto de se calcular que quatro mil milhões de pessoas vão às urnas em todos os continentes durante este ano e que se torna difícil prever os resultados e os governos que vão dali surgir empresta um ar de imprevisibilidade ainda maior aos acontecimentos.
Intolerância polariza e divide
De há alguns meses para cá que se vem notando que o espectro da intolerância está outra vez a ressurgir no país. Mostrou-se claramente em Outubro quando o parlamento não aprovou a resolução que visava declarar a celebração oficial do centenário de Amílcar Cabral. Nas últimas semanas a celeuma é à volta do mais recente livro de Manuel Brito-Semedo Cabo Verde, Ilhas Crioulas. A afirmação da cabo-verdianidade como uma realidade de séculos parece colidir com as opções pan-africanistas de alguns. A mesma reacção tiveram quando a maioria parlamentar não viu coincidência entre o pensamento e a acção personificados por Cabral e os princípios e valores que são as referências básicas da II República.
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