Um mergulho na rotina dos Bombeiros Municipais da Praia

PorSheilla Ribeiro (estagiária),14 set 2019 8:35

No dia 11 de Setembro celebra-se o dia do Bombeiro Profissional. Esta data foi escolhida, em memória de todos os Bombeiros que perderam a vida durante as operações de busca e salvamento após o atentado terrorista às Torres Gémeas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.

O Expresso das Ilhas foi conhecer o dia-a-dia dos Bombeiros Municipais da capital, através do Coman­dante Celestino Afonso. Oito horas de manhã são quando começa o dia daqueles que entram para a troca de turno de serviços. Outro grupo que entrara às 8 horas da noite do dia anterior sai após 12 horas de trabalho. 

“Aqui temos 4 grupos de serviços que se dividem em 4 equipas, então cada uma vai fazendo o seu trabalho no seu turno”, conta o Comandante. 

O grupo que trabalhou à noite tem 48 horas de folga, enquanto o grupo que trabalhou durante o dia, terá uma folga de 24 horas. Verificar se todos os meios estão operacionais para informar de alguma anomalia em relação aos equipamentos ou viaturas faz parte da rotina. 

“Temos que verificar se todos os materiais estão em ordem, se estão a funcionar, se as viaturas estão operacionais e colocar em estado de prontidão. Ficamos em stand by para o caso haver alguma emergência”, refere. 

Os serviços 

Em média, segundo o Comandante Celestino Afonso, os Bombeiros Municipais da Praia atendem a 8 ou 10 ocorrências por dia, podendo no entanto, esses números aumentar nos dias mais “quentes”. O serviço de ambulância é o mais solicitado.

“Chamam-nos por causa dos acidentes, quedas, pessoas que se sentem mal, incêndios, transporte de doentes, pessoas que por exemplo são evacuadas de outras ilhas no caso de transferências para o hospital da Praia”, descreve. 

No que se refere a deslocação de doentes do aeroporto para o Hospital, o Comandante dos Bombeiros afirma tratar-se de um compromisso com o Instituto Nacional de Providência Social (INPS) e a Direcção de Saúde.

A nível de incêndio, ao comparar com 10 ou 15 anos atrás, o Comandante diz que o número de ocorrências tem diminuído. O motivo, de acordo com Celestino Afonso, pode ser o facto de que hoje a construção de barracas ter “diminuído”, enquanto houve um “aumento” da ligação de energia eléctrica. 

“Antes havia muita ligação clandestina de energia, o que pode provocar curto-circuito e incêndio e havia muito o uso de velas, que é um dos factores que podem contribuir para o incêndio. Mas, sabemos que a tipologia de construções na Praia tem mudado um pouco, inicialmente as pessoas podiam ter as suas barracas feitas de madeira, plástico, materiais mais inflamáveis, substituindo-os por blocos, que é um tipo de material que não causa tantos problema”, comenta. 

A mesma fonte faz saber que a questão de ligação clandestina de energia ainda representa um grande risco, sobretudo, durante a época pluviosa.

Além desses serviços os Bombeiros Municipais da Praia realizam, no dia-a-dia, um conjunto de outras actividades, incluindo dar formação às instituições, vistorias, recomendações, serviços de prevenção por exemplo, no caís para descarga de barcos de transporte de gás, formação em suporte básico de vida (primeiros socorros) e utilização de extintores e prevenção de incêndios. 

História dos Bombeiros da Praia

Embora não existam documentos que contem a história dos Bombeiros Municipais, Celestino Afonso deu a conhecer que a corporação foi criada em 1978 através do decreto-Lei n.e 7t/78, de 26 de Agosto como Serviço de Prevenção e Extinção de incêndios. 

“Era apenas um serviço de incêndio com uma equipa mínima, e a partir dali veio a evoluir para Bombeiros Municipais da Praia que sabemos ter tido sempre ao longo de toda a sua história algumas dificuldades em termos de meios e do próprio pessoal”, constata. 

O Comandante revela que a criação do Serviço de Prevenção e Extinção de incêndios deu-se devido a um grande incêndio que ocorreu há 41 anos. Plateau é apenas um dos lugares onde a corporação esteve, antes do actual quartel na Fazenda. 

“ Por acaso temos a necessidade de fazer uma reconstituição da história dos Bombeiros desde a fase de criação até hoje, ouvindo as pessoas que estiveram à frente da corporação e que trabalharam durante toda essa época, até hoje”, observa o líder dos Bombeiros Municipais, alegando que ao longo dos tempos houve alguma melhoria mas ainda há necessidade de mais investimentos e aposta nesse sector.

O corpo de Bombeiros da capital 

Na corporação há 32 bombeiros e no aeroporto da Praia (onde também prestam serviços) há 16. Apenas oito são mulheres. 

Segundo o Comandante, uma vez que na cidade da Praia não existe uma organização para a emergência pré hospitalar, os Bombeiros acabaram por contratar, para cada grupo de serviço, um enfermeiro.

“Todos os bombeiros têm formação de suporte básico de vida (primeiros socorros) de uma forma geral, mas sabemos que os enfermeiros têm um pouco mais. Então contratamos os enfermeiros para darem um reforço nesses aspectos, em termos de intervenção no terreno em algumas situações”, esclarece.

Ter um médico e uma ambulância “muito mais” avançada para dar melhor tratamento no local e só depois transportar para o hospital para dar continuidade ao tratamento, é, segundo Celestino Afonso, algo que a nível do Governo já se pensa fazer. A mesma fonte avança que todos os bombeiros municipais são profissionais. 

“De momento, não estamos a apostar na questão de Bombeiros voluntários porque está para sair um estatuto de bombeiros a nível nacional que, precisamente, vem regular essa questão. E sabemos que os voluntários, muitas vezes, têm algumas regalias”, explica.

Segundo Celestino Afonso, tem havido muita procura por parte de pessoas que pretendem dar a sua contribuição, mas só aceitarão voluntários quando o estatuto estiver regulamentado e legalmente instituído.

Os equipamentos 

A mesma fonte relata que os Bombeiros ao longo dos tempos sempre receberam meios em segunda mão provenientes de outras corporações de outros países, uma vez que são caros. Mas hoje, segundo conta, há uma visão diferente, principalmente a nível de ambulância. 

“Já temos portanto, ambulâncias novas para dar melhor resposta”, refere. 

De momento, os Bombeiros Municipais da Praia possuem duas ambulâncias para a prestação de socorros e assistência às vítimas, três viaturas de combate a incêndios, viaturas de encarceramento e viaturas para a recolha de cadáveres. 

Ao longo da sua história, como referido, os Bombeiros Municipais da Praia, sempre receberam doações de viaturas, mais concretamente de Portugal. Mas, a corporação recebe também de outros países como por exemplo Luxemburgo, que doou uma viatura de combate a incêndio entre 2016 e 2017. 

“Uma das ambulâncias foi doação da ADEGA, há pouco tempo recebemos uma ambulância que foi doação de Japão. Uma parceria que sempre procuramos para ver se conseguimos ter as condições mínimas para funcionar”, declara. 

A nível dos equipamentos, Celestino Afonso afirma que a corporação encontra-se numa situação razoável, embora, como qualquer instituição gostaria de ter equipamentos mais modernos e em maior quantidade.

“Muitas vezes, quando falamos em viaturas sofisticadas de bombeiros, falamos em valores exorbitantes que muitas vezes, o país pode não ter condições de suportar. Podemos falar de viaturas de 20 mil contos a 30 ou 60 mil contos, dependendo da sua complexidade”, declara. 

No que se refere a equipamentos a nível de protecção individual no combate a incêndios, Celestino Afonso diz que a corporação carece de mais. Cada equipamento, segundo conta, por pessoa, custa por volta de 100 a 200 contos. 

A mesma fonte declara que mesmo com a carência de alguns equipamentos, os bombeiros da Praia, são referenciados como os melhores de Cabo Verde tanto em termos de material, como também do pessoal. “Pode até ser, mas também temos as nossas carências e temos algumas dificuldades, as quais ainda é necessário trabalhar para conseguir atingir um patamar acima daquilo que temos hoje aqui na corporação de Bombeiros da Praia”, narra. 

Um apelo à sociedade 

Para Celestino Afonso é preciso ter em mente que 5 ou 6 minutos é um tempo razoável para chegar a um lugar após ser dado o alerta, uma vez que há todo um percurso a fazer. Isto quer dizer que quando algo acontece não é possível estar imediatamente no local da ocorrência. “Por vezes quando acontece um incêndio, as pessoas não chamam. Esperam 2 ou 3 minutos e ao perceberem que não conseguem controlar o incêndio, chamam os bombeiros. Automaticamente, pensam que os bombeiros têm de lá estar, imediatamente”, exprime.

O trânsito é um dos condicionalismos da rapidez dos bombeiros, apontado pelo Comandante que afirma que a percepção de que os bombeiros demoram a chegar não passa de uma “inverdade”, uma vez que não estão em cima dos acontecimentos. 

O Comandante afirma ainda que muitas vezes os condutores não respeitam a sinalização das sirenes, ou “ficam” no caminho” sem dar prioridade, ou, “aproveitam-se” da situação para fazer ultrapassagem. 

“Podes encontrá-los atrás da ambulância, porque consegue abrir o caminho, ou à frente por causa do alarme e aproveitam-se. Então, por vezes há um comportamento incorrecto e torna-se necessário chamar a atenção para que as pessoas mudem essa postura no trânsito quando ouvem uma sinalização de emergência de uma viatura de emergência”, finaliza.

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Autoria:Sheilla Ribeiro (estagiária),14 set 2019 8:35

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  16 set 2019 7:33

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