"Ela, como todas as daquela geração, tinha um segredo de cantar a morna que tem a ver com uma vivência vicentina de serenatas e tocatinas ainda com uma certa ingenuidade que se perdeu", disse Titina à Lusa.
"A Cesária tinha um dom que veio de nascença, eu ainda nem caí em mim que ela morreu", disse a cantora.
O músico cabo-verdiano Tito Paris lamentou hoje a morte de Cesária Évora, companheira de palcos e de brincadeiras, salientando que a música da cantora não morre e será ouvida "até ao último dia das nossas vidas".
Em declarações à Agência Lusa, Tito Paris afirmou estar "muito triste" com a morte da sua amiga, referindo que "o mundo da música e Cabo Verde a partir de hoje ficaram mais pobres, tal como enriqueceram no dia em que ela nasceu".
"O artista e o poeta praticamente não morrem. Desaparecem mas não morrem e nós vamos ouvir Cesária até ao fim da nossa vida, ela vai existir com as suas mornas e coladeras até ao último dia das nossas vidas", considerou.
Tito Paris recordou as "brincadeiras" de muitos anos de cumplicidade com a cantora, uma "pessoa muito bem disposta, muito porreira" que praticamente o viu nascer.
"Eu fazia-lhe cócegas, ela tinha muitas cócegas, e brincava com ela chamando-lhe 'a minha namorada', dizendo que ia casar com ela. Ela respondia-me: 'você diz isso só no meio das pessoas, quando estamos sozinhos você não diz nada disso'", recordou.
Quando ia a casa da cantora, Tito Paris tinha também especial gosto em provocá-la, abrindo as suas gavetas e indo-lhe ao frigorífico, o que levava Cesária Évora a censurá-lo: "você pensa que isto aqui é a sua casa?!".
O músico, que produziu o primeiro disco a solo de Cesária Évora, lembrou ainda "os vários momentos em palco" que ambos tiveram.
"Vou ficar com saudades desses momentos", acrescentou.
O músico Hernany Almeida que conviveu muito com Cesária Évora conviveu mais pessoalmente do que profissionalmente com a Diva e diz recorda-la sempre feliz e sorridente.
É uma sensação estranha. O que mais me recordo é do seu senso de humor fora do normal, o seu riso descarado, não a consigo imaginar numa situação triste. A sua existência foi dos acontecimentos mais marcantes para Cabo Verde, afirmou emotivo.
O percussionista Miroca Paris que fez parte da banda de Cesária Évora está muito consternado com a perda. Na altura da sua decisão de por fim à carreira Miroca Paris lamentou o estado da música cabo-verdiana com as recentes perdas de figuras importantes do panorama musical nacional.
"A música cabo-verdiana esta numa fase ""complicada"" , ou seja quero dizer , que estamos em recuperação , perdemos muita luz , perdemos muita inspiração , perdemos muita poesia da terra , também perdemos alguns dos grandes nomes da nossa cultura musical ,como ex. "Manel D'novas , Luis Morais ,Norberto Tavares, Biús".
E agora com a morte de Cesária Évora, Miroca Paris disse ter esperança de não termos perdido tudo mas, reconhece que "a recuperação vai ser longa".
Com Agências