Abordada em 2012 pelos representantes locais da organização do Miss University Africa para representar a beleza crioula no concurso africano, na Nigéria, a belíssima Sofia Fontes, Miss University de Cabo Verde 2013, falou ao Expresso das Ilhas das suas expectativas e promete tudo fazer para trazer um prémio na bagagem. De malas semi feitas, a Miss falou também de como a sua vida se virou do avesso desde que foi escolhida para representar o país e de como está a ser a preparação para o evento previsto para Dezembro, mas ainda sem dia marcado por razões internas do país anfitrião.
Sofia Fontes define-se como uma pessoa simples e humilde, encantada, afável, atributos típicos de uma cabo-verdian que sonha mais além. Natural da ilha do Fogo, Sofia Fontes tem uma característica comum da “sanpadjuda” nacional, aliás a sua beleza de crioula da terra do Vulcão não passa despercebida na rua, algo que desde muito cedo a levou para pequenos palcos. Hoje está prestes a pisar o solo de um dos grandes palcos deÁfrica para dar a conhecer um pouco dos traços e da beleza do povo destas ilhas.
Expresso das Ilhas - Mas afinal quem é Sofia, a moça que chamou a atenção de muitos para o mundo da passarela?
Sofia Fontes - Sou uma menina simples e dou-me bem com todos. Amo a minha família, ela é a minha prioridade. Por ser humana, é lógico que tenho os meus defeitos (risos). Também gosto de sair com as minhas amigas. Por ser uma estudante do curso de Turismo, onde temos uma cadeira que é promoção de eventos, tomei gosto pela área e neste estou centrada nisso. Direcciono os meus eventos para aquilo que ainda não há. Por exemplo, o meu último evento foi o primeiro desfile gay, na cidade da Praia, de modelos gays com roupas femininas em Cabo Verde. Esta actividade é muito pouco feita aqui, porque ainda há aquela mentalidade machista que não queremos ver, e esta é uma das coisas que apoio sempre. Gosto de trabalhar no sentido de ajudar. Apoio muitos jovens na realização de eventos.
De quem são os olhos que detectaram as beldades de Sofia para o mundo de desfile e Miss. Ou, enquanto moça que sonhou com este dia, teve de correr atrás desse sonho?
Basicamente nunca tive aquela vontade de desfilar e nunca corri atrás, na verdade a passarela veio atrás de mim. Quando era mais nova, aos nove anos, surgiu aquela ideia de Miss Zona em Fonte Aleijo, São Filipe. Participei e para mim era uma brincadeira com as minhas amigas e nunca foi nada além disso . Aos 14 anos desenvolvi-me fisicamente e tinha estrutura para manequim e então sempre que havia desfile chamavam-me para participar, mas nunca fui atrás do ser manequim ou do ser modelo. Enfim as informações foram passadas de boca a boca e assim foram surgindo mais convites para a passarela.
Quando foi a sua primeira experiência profissional em passarela?
A primeira experiência aconteceu quando trabalhava para uma ONG, que sempre organizava eventos. Um dia convidaram-me para a organização, e um dos membros da organização perguntou-me ‘porque’ não desfilas? No momento não queria, já que não sabia ou não tinha ideia de aproveitar o corpo que tenho para a moda, mas depois acabei por aceitar e gostei, mas a priori não foi uma paixão nem fiquei com a ideia de que a tenho de seguir. Foi algo que foi acompanhado e aconteceu.
Para quem está no mundo da moda, os cuidados básicos de beleza, sobretudo com a alimentação, mantêm-se em primeiro. Qual o regime diário de Sofia?
Acredito que a mulher cabo-verdiana tem uma estrutura corporal em que a genética contribui bastante. Nunca tive uma preocupação extrema, porque dou mais valor à saúde do que à estética. O que faço é seguir uma alimentação saudável, dou prioridade a alimentos que têm muita fibra. E o que costumo comer no dia-a-dia são legumes, salada, grelhados, aliás adoro grelhado e não vivo sem eles, e em contrapartida evito batatas, feijões, arroz, não os deixo de comer, mas evito sempre que posso. Se como arroz não como batata e vice-versa, tento fazer uma alimentação equilibrada.
Conte-nos como ingressou no mundo dos concursos e como chegou ao título Miss University Cabo Verde?
Em Outubro de 2012 recebi um convite para participar no Miss University Cabo Verde a representar o arquipélago em África. Não queria, porque não me achava apta e uma mulher esbelta para participar num concurso a este nível. Inicialmente éramos cinco, duas da diáspora e três nacionais. Foi feita uma entrevista, onde acabei por ser a seleccionada. Fiquei feliz com o resultado, visto que não corri muito atrás e ali comecei a ganhar o gosto. A ideia apresentada é de que vai ser um concurso, onde a beleza vai ser exposta e avaliada, mas mais importante do que isso, a inteligência de cada concorrente também estará em avaliação, o que considero uma organização brutal, já que não estão dispostos a expor-nos. Por exemplo, não vamos ter desfiles de biquínis, vão ser usadas roupas de gala tradicionais, desfile de free style, vamos participar em actividades de perguntas e respostas sobre cultura geral, demonstração daquilo que mais gostamos de fazer. Trata-se de um mês de convivência, onde não vai ser permitido o uso de roupas curtas. O intuito da organização é mostrar que além da beleza física podemos ter conhecimento e por seres uma Miss universitária, não terás que necessariamente mostrar todo o teu corpo para te definirem. Atrai-me muito por essa parte, e comecei a valorizar-me mais.
Entretanto a edição de 2013 do concurso a nível continental era para ser em Fevereiro, mas, devido a alguns constrangimentos políticos e conflitos internos na Nigéria, acabou por ser adiada para 07 de Dezembro. Esta segunda-feira recebi a informação de que o evento será novamente adiado. A Nigéria enquanto palco de grandes eventos na África, recebe várias actividades em simultâneo e consequentemente os hotéis estão sempre todos lotados e neste momento não há espaço, porque são 54 países da África a marcar presença no evento e um total de 43 candidatas. Já não iremos viajar esta sexta-feira 22, e ficaremos à espera da nova confirmação, mas por se tratar da edição de 2013 há-de realizar-se até finais de Dezembro.
Na sua conversa deixa transparecer que não gosta muito de se expor nos desfiles?
Quem não gosta de uma roupinha curta? Uma roupa curta sempre nos valoriza. E quando digo valorizar é porque mostra o que a gente tem. Eu particularmente adoro uma roupa longa, gosto de sentir que sou e que estou linda, mas com roupas que me expõem menos.
Aqui já não realça a máxima do que é bonito é para se mostrar, mas sim aquilo é que é bonito é para ser descoberto?
É exactamente isso. Considero que se alguém tem que me achar bonita, primeiro tem de me achar bonita por dentro e depois por fora.
Que portas se abriram após o título Miss University Cabo Verde?
Anteriormente tinha feito publicidades para a CV Móvel, BCA e Ministério do Ambiente. Só que depois desse título recebi mais propostas de publicidades, mais convites para aderir às festas. Por ser uma pessoa simples, dou-me muito bem com todos e praticamente consideram-me uma Relações Públicas para contribuir nas festas. Além de promover eventos, tenho uma enorme paixão pela fotografia, há cinco anos fiz uma formação nesta área e actualmente recebi um grande contributo do fotografo Tó Gomes que viu o meu potencial neste ramo e apostou em ajudar-me, o que contribui imenso para o meu regresso para ao mundo da Fotografia. Comecei a fotografar as festas e tenho muita procura. As pessoas que organizam eventos e me convidam passam a informação de que pelo facto de as pessoas saberem que a Sofia estará lá para fotografar é outra sensação. A minha Universidade tem apostado em mim, dando-me uma força brutal. Diga-se que na nossa sociedade, quando se começa a fazer algo e a ser reconhecido, as portas se abrem e muitas.
Por falar em universidade, é fácil conciliar a tarefa de estudante e a de Miss?
Como estou na fase conclusiva da monografia não está a ser difícil. Já não tenho mais aulas, fiz o meu estágio em Portugal, e só estudo as matérias para a tese. Normalmente, sempre consegui conciliar. Trabalhei na área de Marketing e só a deixei para terminar a monografia, mas consigo conciliar agora os eventos e a tese perfeitamente e ainda sobra um pouquinho de tempo para fazer o que gosto.
E a preparação para este evento vai a que ritmo?
Está a decorrer lindamente, continuo a fazer os meus exercícios matinais e a dieta, que sempre fiz mesmo antes do concurso de Miss. Engordei um pouco mais daquilo que é normalmente o meu peso e não estava a sentir-me confortável com o meu corpo. Tive que deixar de lado a vida de modelo por uns tempos e comecei uma luta de emagrecimento. Neste momento estou a fazer exercícios de tonificação do corpo, devido a esta tendência para engordar que desde sempre tenho, e acho que tudo isso é por ter uma estrutura de mulher cabo-verdiana. Uma cabo-verdiana não é seca, tem uma anca, uma coxinha, e eu sou assim, e o que tento fazer é manter o equilíbrio do bem-estar físico e psicológico. Tenho de estar bem comigo mesma, daí resolvi também praticar exercícios aeróbicos e tae bo, mas em casa, neste aspecto confesso que sou muito preguiçosa para ir ao ginásio. É preciso aqui realçar que estou a receber vários apoios de pessoas que estão a confiar, a apostar em mim. Tenho tido apoio do Atelier Cuzas de Unha, que me oferece todo o kit de limpeza de pele e cuidados com as unhas, o Pente Mágico a cuidar do meu cabelo, a Boutique Silvia está a contribuir com parte das roupas, e não é nada fácil, já que na Nigéria não será permitido o uso de roupas curtas, da estilista cabo-verdiana Sónia Tavares que está a coser as peças das minhas roupas tradicionais e da Super Bonita.
Já rola alguma expectativa quanto à sua participação, àquilo que pode trazer na bagagem?
A expectativa é óptima. Sinto a confiança dos cabo-verdianos em mim, tenho recebido mensagens gratificantes mesmo e o bom é sentir essa força e essa confiança. E tudo isso dá-me mais vontade e mais garra para conseguir algum prémio para Cabo Verde. Tenho humildade suficiente para reconhecer isso, são muitas beldades ao mesmo tempo, mas vou fazer o possível para trazer qualquer prémio e quiçá a coroa. Tenho muito orgulho em participar neste evento.
Se lhe aparecer um convite para o mundo dos desfiles de moda deixaria os estudos para o seguir?
Não diria que nunca, mas neste momento digo que não. O que faria sim, era aproveitar isso, mas não deixaria de viver a outra parte da minha vida, a de uma Sofia que está sempre a trabalhar para ajudar os outros. Acho que não conseguiria viver sem as minhas paixões que é a promoção de eventos e a área turística, é impossível viver isolada dessas duas áreas para dedicar-me só à moda e ao concurso Miss. Considero que há coisas mais fundamentais, o sentir-se útil a fazer aquilo de que se gosta e não aquilo que é imposto. Quando o mundo da moda chega temos de ter a noção de que é naquele momento que se vive aquilo, porque nem sempre demora muito tempo. Deve-se dar valor, aproveitar o momento, mas não esquecer que se deve continuar a trabalhar, para que, caso aconteça algum imprevisto, não fiques paralisado. Só assim terás pernas para caminhar e subir na vida.
Planos para o futuro, algo em carteira?
Sou de uma família humilde, típica da realidade cabo-verdiana e a minha pretensão é prosseguir com o mestrado, isto é, como sempre estudei e trabalhei, caso consiga um bom emprego darei continuidade aos estudos. Tenho um projecto que no caso de prosseguir com os estudos e ganhar experiência, certamente dará seus frutos. Não tenho ideia de continuar a trabalhar por conta de outrem e muito para o Governo, quero ter uma empresa própria que abarca o turismo no geral e sei que tenho capacidade para isso. O meu sonho é ter um tour operate, ali consigo ter tudo o que é da área turística e oferecer tudo aquilo de que o turista precisa e isso será no meu país, local que quero ver a crescer.
Quem melhor souber unir beleza e inteligência leva o prémio de 10 mil dólares. Oxalá Sofia Fontes.