Ricardo Jorge Marta de Oliveira Correia, de nome artístico Ricky Boy, é um dos artistas cabo-verdianos que já conquistou o coração dos seus fãs com as suas propostas de Cabo Zouk e Kizomba. Formou-se em pedagogia no Brasil, mas preferiu seguir a carreira artística. Em 2009, lançou seu primeiro trabalho a solo, “9909”. Ricky vive actualmente em Portugal, onde criou com colegas a editora Broda Music. Está em Cabo Verde para promover seu terceiro trabalho que já está no mercado. “In Love” será lançado em Cabo Verde em meados de Julho. Expresso das Ilhas falou com Ricky Boy sobre a sua carreia artista e seu novo trabalho a solo.
Como surgiu o teu nome artístico?
Surgiu no bairro onde vivi na altura na Praia. Como havia mais alguns Ricardos, passei a ser chamado Ricky Boy, depois passou a ser meu nome artístico.
Quando é que começaste a ter os primeiros contactos com a música?
Sou oriundo de uma família de músicos, mas na vertente tradicional. Então desde muito jovem entrei em contacto com tocatina. Aos 16 anos com o Djodje e outros amigos comecei a tocar e a improvisar. Logo depois apanhei o gosto em compor e fazer músicas. Neste processo passamos a cantar nos aniversários dos nossos amigos, depois surgiu o convite para cantar no Quintal da Música. Mais tarde surgiu a proposta para participar nos projectos de Verão. Foi a partir daí que arrancou o projecto como o grupo TC.
O que significa TC?
É uma pergunta a que nunca respondemos e ficou sempre no segredo dos Deuses. Mas posso definir TC como o projecto de um grupo de amigos que ainda não terminou. O facto de cada um de nós viver em países deferente tornou inviável a continuação do projecto. Mas eu e o Djodje pretendemos um dia trazer TC outra vez e fazer músicas juntos.
Além do grupo TC tens também uma produtora juntamente com Djodje, que é a Broda Music…
Sim, eu, Djodje, Dany e o Peps, que era também dos TC, temos uma editora que é a Broda Music.
É a partir da criação da editora Broda Music que fizeste o teu primeiro trabalho?
Sim, com a criação da editora fiz o meu primeiro disco a solo“9909”; depois produzimos o CD “Chek in” de Djodje e outro álbum meu que é “Djam dicidi”. Depois gravamos o disco “Feedback” de Djodje e agora “In Love”. Ainda este mês vai sair mais um trabalho produzido pela Broda Music de um jovem da ilha do Sal.
O teu primeiro álbum “9909” foi considerado um dos melhores discos de 2009. O que significou para ti esta distinção?
Olha, foi motivo de grande orgulho, pois foi um disco feito com muitas dificuldades, porque naquela altura foi tudo feito por mim e o Djodje. Corremos atrás da produção, pagamos estúdio e foi numa fase em que não estávamos com muito poder financeiro para isso. O estúdio ficava a 20 e tal minutos de distância de estação de comboio em Lisboas e tínhamos de andar a pé para lá chegar. Foi um trabalho muito penoso, mas graças a Deus tudo correu bem. O disco foi muito bem aceite nos vários espectáculos pela diáspora: Suíça, França, Luxemburgo, Itália, EUA, Inglaterra e Portugal.
A boa aceitação do CD estimulou a tua carreira?
Sim, é por isso que estou a produzir cada vez mais.
“9909” é um nome estranho para um CD. Como surgiu?
Na altura estávamos a pensar que nome dar ao disco e a brincar o Djodje disse-me que estávamos há 10 anos nessas andanças: em 1999 tínhamos criado o TC e o disco saiu em 2009. Então fizemos uma analogia de números e resolvemos chamar o disco “9909”, que é uma forma de simbolizar esse 10 anos.
Dois anos depois lançaste outro disco “Djam dicidi”, fala um pouco desse disco.
“Djam dicidi” foi um disco mais maduro. Tem um tema que fala da violência doméstica e as duas faixas que tiveram melhor aceitação: “Eternamente” e “Casamento”. O disco tem ainda a particularidade de contar com a participação de artistas como Djodje e Kaysha. Se calhar dos meus três discos este, é o mais sério e mais maduro.
Nos teus discos sempre escolhes estilos como Cabo Zouk e Kizomba, porque?
É porque conquistei um público dentro desse estilo de música e também é um estilo que me agrada. TC foi um grupo que ficou conhecido pelos estilos Zouk e Kizomba, mas também tocávamos outros ritmos como R&B e outras coisas que gostávamos de fazer. Na minha carreira a solo segui mais os estilos Zouk e Kizomba, mas também Dancehall ou Ragga.
Passando agora para o teu novo disco “In Love”. Porquê este romântico título?
É um reflexo de uma fase que estou a viver e mesmo pela filosofia decidi fazer um disco mais romântico. Inicialmente não tinha um título em mente; estive a falar com o meu sobrinho sobre as músicas deste disco e ele propôs-me o título “In Love”. Achei engraçado e acabei por seguir essa sugestão dele. Esse disco fala de amor e segue a mesma linha dos outros discos, mas nesse disco não abordo temas tão sérios como nos outros.
Fala-nos de alguns temas desse disco?
Vou começar por “Ka bu straganu festa”. É uma música cantada por mim, Djodje e Elji Beatzkilla. Quando começamos a fazê-lo não estávamos a pensar num título. Tínhamos aquele arranjo e o beat que foi feito por Elji e Djodje disse-me que tinha um título que podia ser fixe. Como sabemos que há pessoas que gostam de estragar a festa dos outros, então escolhi esse título. Há um outro tem que é “Kumpanheira” que fiz para a minha namorada; foi a primeira vez que fiz algo do género para ela. Cada música deste disco tem a sua história e seu significado para mim.
Além de Djodje, quem artistas participaram ainda neste disco?
A nível vocal tive a participação de uma cantora descendente crioula que vive em Portugal que é a Myriiam, também de Ravidson, do rapper Elji Beatzkilla e Dynamo. A nível da produção trabalhei com Cláudio Ramos que vive nos Estados Unidos da América e com Loony Johnson, Mau Ramos e L Beats. São pessoas com quem não tinha trabalhado antes. Participaram também na produção o Djodje e Kaysha.
Quando é o lançamento?
Está previsto para meados de Julho; estamos ainda a definir os locais para apresentação. O lançamento será na Praia, São Vicente e Sal.
Que expectativas tens para este álbum?
Esse trabalho saiu há poucos dias em formato digital Itunes; recebido feedback muito positivo e muitas mensagens no meu Facebook de pessoas a felicitar-me pelo disco e a dizer que gostaram de determinadas faixas musicais, o que é bom para mim.
Quando estará disponível no mercado?
Em Cabo Verde estará à venda dentro de duas semanas.
Antes de lançares o teu disco tinhas apresentado o single “Príncipe encantod”.
Sim, lancei “Príncipe encantod” e, um dia antes da saída deste disco lancei também “Ka Bu Straganu Festa”.
Como reagiram os teus fãs?
Recebi muito feedback do público e neste momento “Ka Bu Straganu Festa” está a ser muito badalado nas rádios. Também é uma música mais voltada para o Verão.
Como pertences a uma família de músicos, tens responsabilidades acrescidas?
Nunca pensei levar a música a sério até à fase de TC. Desde que entrei na música faço as minhas composições e canto, mas nunca pensei fazer da música a minha vida. Numa fase inicial até 2007 nunca pensei nisso, porque gostava mais do convívio do grupo. Só quando terminei o curso é que Djodje me sugeriu que gravasse um disco. De início tive um pouco de receio, mas revolvi seguir em frente. Depois com cada disco que fazes a expectativa do público aumenta e a responsabilidade que tenho agora e não é igual àquilo que tinha há 6 anos atrás. Não era conhecido e hoje as pessoas me conhecem em todos os sítios onde passo.
Fizeste um curso, mas optaste pela carreira musical. Porquê?
Sim, fiz pedagogia, mas acho que não vou exercer.
E hoje vives só da música?
Sim, graças a Deus vivo só da música.
Como tem sido o teu percurso na música até agora?
Tenho orgulho de tudo aquilo que consegui até agora, sei das minhas limitações, mas sinto-me feliz por tudo aquilo que já consegui na música até agora. Ao longo dos anos o meu trabalha tem sido cada vez mais bem aceite e isso só me da motivos para ser feliz e sentir-me realizado pelo que já alcancei dentro da música.
Quando podemos esperar um novo disco teu?
Quem sabe, este disco fiz com quase três anos de diferença em relação ao anterior e penso que agora não vou demorar tanto tempo, pois o mercado já mudou muito e por isso tens que estar constantemente a fazer coisas novas.
Nos teus discos só tens os mesmos estilos musicais. Não pensas fazer um trabalho com música tradicional?
Não me vejo a fazer música tradicional. Acho que para fazer música tradicional tens que ter talento, perfil e dom para fazê-lo e não tenho isso. Se calhar mais tarde posso fazer um álbum mais virado para os estilos mais dancehall e ragga, pois são estilos que gosto e que ao longo dos anos as pessoas me pedem para fazer mais músicas desses géneros.
A produção do teu CD é toda ela feita em Portugal?
Sim, normalmente o trabalho é todo ele feito em Portugal e depois quando o disco estiver pronto temos a preocupação de trazê-lo a Cabo Verde, porque o nosso projecto começou aqui. Voltamos sempre para cá para fazer todo a promoção do nosso trabalho e depois voltamos para Portugal, também para fazer a promoção e depois nos outros países da Europa e Estados Unidos da América. Normalmente é essa a nossa estratégia de trabalho.
Quando é que o disco saiu?
No dia 20 de Maio.
Já tens convite para concertos fora do país?
Sim tenho, mas por uma questão de estratégia, começamos por marcar datas para daqui a um mês e meio. Se bem que em Portugal o lançamento será no final de mês de Junho, mas só a partir de mês de Julho é que vamos começar com as tournées.
A pirataria tem prejudicado muito o teu trabalho?
Os discos já não vendem como antes, mas hoje o mercado onde estamos mais confortáveis é o mercado digital, porque existem muitas pessoas que compram no mercado digital. No mercado de CD físico a pirataria veio de tal forma que pelo menos dentro do nosso estilo já não vende muito. Com o surgimento de canais como o YouTube o trabalho abrange muito mais lugares que abrangia antigamente. Hoje em dia fazes uma produção e atinges muito mais pessoas que antigamente graças ao YouTube e ao Facebook. A pirataria e as novas tecnologias vieram acabar com essa coisa do CD físico e abrir portas para outro tipo de produção e divulgação.
O que achas da evolução da música cabo-verdiana?
Graças a Deus, Cabo Verde sempre foi um país bastante fértil a nível da cultura, qualquer que seja a vertente. Temos muita produção e dentro de todas essas produções acho que há muito produto de boa qualidade. Exemplo disso são os nomes que andam na boca do mundo como Mayra Andrade, sem esquecer da velha-guarda como Tito Paris e companhia. Temos o caso dos Ferro Gaita que também são bem-vistos no mundo inteiro e, no estilo da música que nós fazemos, temos o Nelson Freitas e Djodje, que estão bem cotados no mercado internacional.
Mas achas que existe algo que podia ser diferente?
Acho que deveria haver mais apoio por parte das entidades privadas e também do Governo, porque independentemente do estilo, se existir mais apoios é nome de Cabo Verde que vai mais além.