Sete anos depois de “Relembrando os mestres”, os dois guitarristas sanvicentinos Rufino Almeida (Bau) e José Carlos Silva Brito (Voginha) voltam agora com um novo disco “Anthologia Acústica”, trazendo temas de Luís Rendall, Betú, Malaquias Costa, B.Leza, Tazinho, Fidjinho D`Chiquinha, Jon Rendall, Kim Alves, Olavo Bilac e Morgadinho.
Gravado em Novembro do ano passado, no Stúdio Mindelo, São Vicente, o disco está distribuído em 15 temas, com mornas, coladeiras, e outras valências do meio musical cabo-verdiano tocadas com a “acusticidade” que se impõe, constituindo assim uma obra discográfica de preservação e valorização da identidade cultural cabo-verdiana.
Bau e Voginha, indiscutivelmente dois dos melhores guitarristas da actualidade cabo-verdiana, uniram os seus talentos num registo discográfico com base nas criações das mais apreciadas figuras da chamada primeira geração de ouro do violão cabo-verdiano.
Numa passagem pela capital do país para promover o trabalho, os dois guitarristas falaram ao Expresso das ilhas do seu novo álbum, que já está no mercado.
“O disco é uma nova obra que nasceu no seguimento de “Relembrando os Mestres”, onde foi retratada uma outra vertente de música de Cabo Verde, com os solos de violão”, explicou Voginha.
Os temas do disco abrangem os solos de violão, mas também de músicas cantadas pelos mestres em outro formato, a de duas guitarras. “Tocamos músicas como “Nha Berço” de Betú, “Oriundina” de B.Leza, “Cize” de Morgadinho, que são mornas cantadas por diferentes intérpretes como Cesária, Ildo Lobo e agora com outra roupagem a nível de dois instrumentos”, conta Voginha.
Os dois guitarristas, sendo conhecedores das melodias e dos ritmos por eles criados, são capazes de identificar as técnicas com que cada um fez a sua imagem de marca, pois com isso querem divulgar a vertente instrumental que são os solos de violão.
Sete anos depois
Bau e Voginha depois de muita pesquisa, recolha e estudos deram à estampa um CD com repertório de luxo, fruto da versatilidade de ambos, no qual facilmente se nota o estilo e as técnicas características de cada compositor e/ou intérprete.
“Sete anos é um bom tempo, pois mais vale tarde do que nunca, por isso agora trouxemos “Anthologia Acústica”, para que apreciadores de boa música instrumental e solo de violão possam avaliar, ou fazer uma confrontação ou um paralelo com a obra anterior”, destacou Bau.
Shows de lançamento
Começaram por promover o trabalho na ilha natal (São Vicente) à comunicação social e não só, e de seguida vieram à cidade da Praia. O lançamento oficial está previsto para o dia 21 de Janeiro, na ilha de São Vicente, depois na cidade da Praia, no dia 23 e no dia 24 na ilha do Sal. Posteriormente pretendem mostrar este trabalho discográfico noutras ilhas.
“Já gravamos um vídeo-clip do tema “Rabil” que irá sair nos próximos dias, é todo um trabalho de promoção e divulgação desse novo trabalho”, avançou Bau.
Guitarristas de sucesso
Filho do guitarrista Tazinho, desde muito cedo, Voginha desenvolveu o gosto pelo violão. Também Bau veio de uma família de músicos e sempre se interessou pela música instrumental. Fruto de uma longa caminhada e dedicação, desde muito cedo entraram no mundo do violão e da música. Bau conta que o sucesso que tem hoje é fruto desse trabalho árduo com o violão, que é um instrumento no qual é difícil conseguir altos resultados. “Até nos afirmarmos em Cabo Verde como guitarristas e fazermos tudo aquilo que já fizermos, os trabalhos que temos feito, é tudo uma longa caminhada e muito trabalho”.
Pirataria
Quanto à pirataria, o produtor Júlio do Rosário frisou que tem sofrido com o fenómeno, mas que na música tradicional esta ocorre em número mais reduzido.“Porque a pessoa que faz pirataria quer venda rápida. No caso da música tradicional a venda é mais lenta, então não querem esse tipo de venda”, explica.
Em relação à venda de discos, Júlio do Rosário conta que em Cabo Verde diminuiu muito. “O facto de estarmos a vender poucos discos é por causa da situação económica das pessoas e da pirataria também. Há uns anos atrás quando saía um bom CD todo o mundo ia comprar, mas devido às situações económicas nem toda a gente faz isso”.
Acção social
Para além da sua vertente e dimensão cultural e comercial, o disco tem a nobreza da solidariedade social, sendo que uma percentagem das vendas vai ser destinada a três associações já identificadas: Acarinhar na cidade da Praia, Associação Chã de Matias no Sal e Centro de Apoio dos Doentes Mentais da Câmara Municipal de São Vicente.
Escola de música
Vogina conta que tem uma escola de música, na sua casa em São Vicente, e também já foi professor em uma escola pública, na mesma ilha. “É sempre uma área que me interessa muito, a área de pedagogia, e espero que apareçam jovens interessados, que possam chegar perto de nós para que possamos transmitir-lhes essa forma genuína de tocar violão cabo-verdiano, para darem continuidade no futuro”, ressaltou.