“O país precisa de mais salas de espectáculos”, Jorge Martins

PorDulcina Mendes,7 abr 2018 8:17

​O grupo teatral de Santo Antão “Juventude em Marcha” esteve na cidade da Praia para duas apresentações da peça “Partilha das Almas”. No dia 30 de Março, para adultos, e no dia 1 de Abril, para os mais pequenos. Mas antes, esteve na cidade da Assomada com a peça “Rebent d`Nov`ded”.

Durante a sua estada na cidade da Praia o actor, encenador e fundador do grupo teatral Jorge Martins disse numa entrevista ao Expresso das Ilhas, que os investimentos no teatro nacional passam pelas salas de espectáculo, para que os grupos possam apresentar melhor os seus trabalhos.

Para Jorge Martins, precisa-se de muito investimento na área do teatro. “Os grupos poderiam estar melhor em Cabo Verde. Há actores com talento, criatividade e tudo o mais, mas falta o essencial, que é a sala de espectáculo”.

“Na Praia, já se pode contar com o Auditório Jorge Barbosa e a Assembleia Nacional. Em São Vicente, a única sala que estou a ver para espactáculos é Centro Cultural do Mindelo que alberga 200 pessoas, o que é insuficiente. Em Santo Antão e nas outras ilhas não há salas de espectáculo”.

O encenador conta que, por vezes, os grupos tentam actuar em recintos abertos, mas se há mau tempo não conseguem fazer a apresentação das peças. “É uma situação que precisa ser repensada, as autoridades competentes devem tomar medidas e evitar que o teatro desapareça”.

Conforme indicou, os grupos precisam de salas dignas para preparar e mostrar as suas peças. “Uma sala com boa iluminação, acústica bem preparada. Não havendo isso, os actores cabo-verdianos estão a fazer milagres”.

Apesar disso, o encenador do grupo Juventude em Marcha disse que o teatro nacional está de boa saúde. “O teatro que existia antes era mais de improvisação, mas hoje o teatro exige muita técnica e temos de estudar para fazer melhor o nosso trabalho”.

“Até para fazer uma comédia temos que ter arte e magia. Não é qualquer actor que consegue fazer o público rir e sair satisfeito de uma sala de espectáculo, isso exige muito talento”, acrescentou.

Projectos

Além da cidade da Praia, o grupo teatral estará nas outras ilhas para apresentar a peça “Canjana”, que posteriormente será rodada.

“Temos peças seleccionadas para serem filmadas como “Canjana” e “Partilha das Almas”. Juventude em Marcha vai encenar todas as suas peças antes de serem filmadas”, anunciou.

Outro projecto do grupo teatral da Ilha das Montanhas é fazer uma coletânea das suas peças de teatro e preparar documentos sobre o historial de Juventude em Marcha.

“Já estou a trabalhar nisso, aliado a um outro trabalho que é o de fazer um historial do grupo e deixar uma contribuição nas bibliotecas das escolas do país para verem como é que conseguimos trabalhar e manter o grupo durante todo este tempo”, avançou o fundador do grupo.

Neste sentido, o actor disse que quer preservar as tradições orais e tudo aquilo que é a nossa história e cultura. “Estamos a fazer este tipo de trabalho para mostrar também a evolução, a fase contemporânea. Há dias estive a dizer aos elementos do grupo numa reunião que o nosso trabalho está a começar agora, porque há outras exigências, reivindicações e um público mais esclarecido, que tem mais sabedoria e conhecimento”, apontou.

“Estamos a trabalhar com muita cautela e cientificidade e se não querermos ser engolidos pela sabedoria e conhecimento, temos de estar ao nível das exigências do nosso público. Este é um trabalho que estamos a iniciar agora”, acrescenta Jorge Martins.

Quanto à sobrevivência do grupo, Jorge Martins explicou que tem sido possível graça às receitas que angaria em espectáculos. “Não temos nenhum subsídio nem qualquer apoio. Ultimamente temos uma parceria com a CVMóvel. Não temos patrocínios para as digressões para fora do país”.

“Se houvesse mais empresas a investir nos grupos teatrais, muitos teriam pés para andar e não teríamos uma existência efémera. O que tem levado os grupos a desaparecer é essa falta de patrocínio, apoios e incentivos”, desabafa Martins, dizendo que as digressões fora do país são feitas com muito sacrifício.

Formado em Março de 1984, o grupo tem-se tornado num dos mais activos de Cabo Verde. Criado por Jorge Martins, o grupo contava no início com mais de trinta elementos de todas as faixas etárias. Adquiriu um papel notório na cultura cabo-verdiana e reconhecimento internacional.

Juventude em Marcha possui, há cinco anos, uma escola de formação que recruta muitas crianças e jovens. O grupo conseguiu, durante três décadas, fazer trinta peças teatrais, tendo actuado nos palcos de quase todas as ilhas, na Europa e nos Estados Unidos da América.

Até ao momento, já filmou cinco peças de teatro: “Problemas de Família”, “Rabo da Bruxa”, “Dilema”, “O preço de um contrabando” e “A outra fase da Lei”.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 833 de 04 de Abril de 2018.

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Autoria:Dulcina Mendes,7 abr 2018 8:17

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  9 abr 2018 6:52

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