Armando Ramos Cabral, ou Armando d’Pletche nasceu a 3 de Junho de 1945 vai ser o homenageado deste ano do festival que, mais uma vez, se realiza em parceria com o Instituto do Património Cultural.
O evento, aponta a autarquia do Tarrafal de São Nicolau, já se “tornou um produto cultural do município do Tarrafal, reunindo várias artistas ilhas para prestigiar a morna”.
Este ano, à semelhança de edições anteriores, o festival vai contar com a presença de artistas como Nhelas Spencer, Trio de São Nicolau composto por Tomás Delgado, Pedro Soares e Sr. Reis, do Sal, Virgílio Duarte (Ti Gil), Christian Lopes e José “Djoy” Fortes. Da ilha de São Vicente Chico Serra, da Brava, Arlindo Rodrigues, Rodji Monteiro, da Ribeira Grande e Joanita Fonseca vem do Porto Novo e da ilha de Santiago são esperados Albertino Évora, Suzete Montrond, Naty Martins e Edmir Varela, da Boa Vista, Lavinha Freire.
Marly Soares, Leontina Fortes, João Eugénio da Ribeira Brava e Djuta Gomes e Gute Matias, Fajã, são os artistas da casa.
‘Sodade’ a morna que lhe dá o nome
Cantada e eternizada por Cesária Évora, ‘Sodade’ é, provavelmente, a mais conhecida morna alguma vez escrita.
Composta em São Nicolau, na zona de Praia Branca, ‘Sodade’ retrata a partida de um grupo de contratados, nome que se dava aos emigrantes forçados cabo-verdianos, para São Tomé e Príncipe em 1954.
A história da canção é contada no blog Submarino Cabo-Verdiano. “Em 1954, um grupo de quatro pessoas, a saber: José Nascimento Firmino, José da Cruz Gomes, e o casal Mário Soares e Maria Francisca Soares, todos de Praia Branca, enforma a chamada primeira “remessa” de emigrantes de São Nicolau para as roças de São Tomé e Príncipe. As despedidas musicais eram comuns na época e carregadas de emoção, pois, se a partida era uma certeza o regresso nem tanto. Aliás, o conteúdo da composição reflecte precisamente esse estado de espírito. “Sodade” descreve com grande simplicidade o dilema de ter que partir e querer ficar, que sofriam os emigrantes cabo-verdianos em geral e, em particular, os contratados “semi-escravos” para as roças de cacau e café de São Tomé e Príncipe. Daí a letra: “Quem mostrob ess caminho longe?/Quem mostrob Ess caminho longe?/Ess caminho pa SanTomé.”
Aponta ainda aquele blog que, sendo interpretada por vários artístas cabo-verdianos e de outras nacionalidades, “‘Sodade’ reflecte uma das principais características do cabo-verdiano e da música de Cabo Verde: a saudade e o amor à terra e o dilema de “ter de partir e querer ficar”. Pode-se dizer que “Sodade” se tornou uma marca de Cabo Verde no mundo. Não só pelo número de intérpretes (nacionais e estrangeiros) que a cantaram e gravaram em disco, mas sobretudo pelo seu conteúdo, tornando assim estas ilhas no arquipélago da saudade”.
Morna património da humanidade
Depois de o governo ter entregado, a 26 de Março, a candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade, foram várias as manifestações de apoio ao processo e de crer no sucesso.
Solange Cesarovna, presidente da sociedade cabo-verdiana de música, disse recente mente que está convencida de que a morna tem “todos os ingredientes necessários” para ser Património Imaterial da Humanidade.
“É sem dúvida a morna um espelho do que vai na alma do povo cabo-verdiano e é um género que conseguiu unir Cabo Verde e a sua diáspora e transportar a cabo-verdianidade, o sentimento e a particularidade do povo cabo-verdiano, através das suas poesias e da sua melodia única que aqui em Cabo Verde conseguimos reproduzir através da morna”, afirmou.
“Estamos convictos de que é uma acção meritória e que todos nós temos que abraçar esta causa”, enfatizou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 854 de 11 de Abril de 2018.