“Estou sempre de braços abertos para a música tradicional” - Ne Nas

PorDulcina Mendes,10 jun 2018 9:53

Ne Nas
Ne Nas

O artista cabo-verdiano Manuel Gonçalves, mais conhecido por Ne Nas, esteve no país para promover o seu primeiro álbum “Balanciadu”. O disco, que foi gravado nos Estados Unidos da América, país onde reside actualmente, é formado por dez temas.

Ne Nas percorreu um longo caminho para descobrir a voz que foi plantada dentro dele há 45 anos, na ilha do Fogo.

Desde muito cedo veio viver para a cidade da Praia, onde sentiu uma profunda ligação com a música dos seus profes­sores e colegas da Granja de São Filipe, que o inspiraram a envolver-se nessa arte.

Aos 11 anos de idade, junta­mente com a aprendizagem da carpintaria, Ne Nas fez ques­tão de incluir música nas suas aulas, estudando com alguns dos melhores músicos da ilha de Santiago.

Em 2002 imigrou para os Estados Unidos da América e, conectado com outros mú­sicos das comunidades cabo­-verdianas em Rhode Island e Massachusetts, começou a levar a música mais a sério.

Com habilidades afinadas nos ritmos tradicionais como Funaná, Batuku, Finaçon e Tabanka, Ne Nas, em cola­boração com outros músicos, formou a banda “CV Tempra”, que actuou em toda a Nova In­glaterra.

Uma reputação crescente na comunidade musical cabo­-verdiana que trouxe o círculo completo, e que fez dele uma escolha natural para se apre­sentar-se num concerto em homenagem a Orlando Pante­ra, um dos grandes nomes da música cabo-verdiana.

Todos estes passos servi­ram como uma escada musi­cal que levou o artista a gravar o seu primeiro álbum intitula­do “Balanciadu”.

Álbum que dedicou de cor­po e alma para mostrar o que melhor sabe fazer. Apesar de dedicar a sua vida a fazer ou­tras actividades, Ne Nas nun­ca esqueceu as suas raizes, pelo que decidiu gravar o seu primeiro álbum só com músi­cas tradicionais.

“Balanciadu”, conforme disse ao Expresso das Ilhas, é uma porta que se abriu para o lançamento dos seus futu­ros trabalhos discográficos. Ne Nas conta que está neste momento com vários temas já prontos para os próximos dis­cos, que pretende lançar den­tro de pouco tempo.

No seu primeiro disco o artista apresenta temas como “Kuranderu”, “Batuku Nha Dunga”, “Lindo, Lindo”, “Na Caminho”, “Balanciadu”, “Preto Mé”, “Sodadi Nha Raiz”, “Sabarbatú”, “Toru Brabu” e “Marimba Nu Bai”.

Ne Nas esteve em Cabo Verde a fazer a promoção do seu novo disco. E no dia 14 de Maio, esteve num concerto no Palácio da Cultura Ildo Lobo, na cidade da Praia, onde deu um cheirinho do seu “Balan­ciadu” e de outros temas que possivelmente estarão nos próximos álbuns.

“Balanciadu” é título do teu primeiro álbum. Como é que surgiu?

Escolhi esse título, porque o disco é formado por vários ritmos como o Funaná lento, Batuque e Coladeira. “Balan­ciadu”, porque é uma mistura de ritmos diferentes. Come­cei a preparar esse álbum em Cabo Verde. Escrevi os temas antes de emigrar para os Es­tados Unidos, onde resido desde 2002.

Já estás no mundo da música há vários anos. Por que só agora o teu primeiro disco?

Porque tenho estado a pre­pará-lo com muito cuidado e sem pressa. O meu produtor é também artista e está sem­pre a viajar e tive que esperar que tivesse tempo para irmos para o estúdio e fazer os tra­balhos. Mas para os próximos discos já estou preparado, pelo que não pretendo perder muito tempo nos estúdios. Hoje em dia, tenho uma ideia mais clara daquilo que quero.

Todo o trabalho de grava­ção foi feito nos Estados Unidos?

Sim, e este disco contou com a produção de Djim Job e Jo­hnny Ramos, que tem estado a colaborar com outros artis­tas.

Além de Djim Job e Jo­hnny Ramos, também trabalhaste com outros artistas?

Sim, com artistas do Brasil, da América, da Espanha e de cabo-verdianos como Kim Alves e Dicki Tavares, filho do Ano Nobo. Cada música tem o rosto de um artista di­ferente e há músicos do Mali na percussão. Gostaria de ter neste disco todos os músicos que gostam de mim e das mi­nhas músicas, mas não foi possível.

Todos os temas do disco são da tua autoria?

Sim, são resultados de muita pesquisa que faço no mundo da música.

Qual a mensagem que queres passar com esse trabalho discográfico?

Quero é dar aos jovens mais caminho de pesquisa para po­derem fazer os seus próprios trabalhos. Não o farão igual ao meu, mas com esse traba­lho vão ter energia para faze­rem aquilo que procuram. Da mesma forma que procurei e tenho o meu ídolo, também posso ser ídolo deles.

Quem é teu ídolo?

É Orlando Pantera. Temos quase a mesma idade, até quando ia para os Estados Unidos da América pedi a Deus para não me matar com a mesma idade que o Pante­ra, porque ele morreu muito jovem. Senti um pouco de medo na altura.

Chegaste a conviver com ele?

Sim, mas infelizmente não chegamos a tocar juntos. Fa­lávamos sempre sobre a mú­sica, porque antes eu só fazia música.

Então estás com vários temas por gravar?

Sim e já dei as minhas músi­cas ao grupo Ferro Gaita e a outros artistas. Estou sempre de braços abertos para as mú­sicas tradicionais, e pretendo oferecê-las às pessoas que estão nessa linha. Tenho vá­rios temas para os próximos discos, mas, neste momento, estou concentrado na promo­ção desse primeiro álbum.

Tens outro ofício e conti­nuas a fazer música?

Sim como cresci na Granja de São Filipe, na ilha de San­tiago, de onde sairam muitos músicos e doutores. Hoje em dia, são grandes marcenei­ros de Cabo Verde. Muitas pessoas cresceram lá, e são bem-sucedidos na sociedade. Comecei a cantar aos 11 anos, recebi aulas de músicas e de carpintaria.

Este disco já está dispo­nível nas plataformas di­gitais?

Sim, no itunes, Amazon e vá­rios outros.

Este álbum é uma porta que se abre para os pró­ximos trabalhos?

Sim, e já tenho tudo prepara­do para os próximos CDs.

Onde pretendes fazer um grande show de apresen­tação do teu trabalho?

Pretendo fazer show em to­dos os lugares. Um artista gosta de estar em todos os eventos como festivais de música. O meu trabalho pre­cisa ser abraçado, porque tem vários instrumentos tra­dicionais.

Já tiraste quantos video­clipes desse álbum?

Ainda fiz só um videoclipe, do tema “Marimba Nu Bai”, mas pretendo lançar outros.

O próximo videoclipe será feito em Cabo Ver­de?

Sim, pretendo voltar talvez só para fazer os vídeos.

Tens algum tema no dis­co que gostarias de desta­car?

Sim, “Sodadi Nha Raiz”. É uma música que fiz quando Orlando Pantera morreu, é algo que me marcou muito. Tenho o tema “Toru Brabu” que tem três versões, tem uma versão que foi feita por Kim Alves, que ainda não di­vulguei, porque quero fazer antes um videoclipe desse tema.

Qual a tua perspectiva com esse disco?

É dar ao país mais um artis­ta para ouvir, e incentivar os mais jovens.

Estás em Cabo Verde só para fazer a promoção do disco?

Sim, não vim para dar espec­táculos, mas sim para fazer a promoção do meu trabalho. Neste momento, estou na divulgação do meu disco nos vários órgãos de comunica­ção social do país.

Como é que está a decor­rer a promoção do disco?

Está a decorrer na normali­dade, já estive em programas de rádio e de televisão a can­tar e falar do meu disco.

Ainda não agendaste es­pectáculos de lançamen­to do CD?

Ainda não, estou à espera de contactos de algumas entida­des cabo-verdianas para fazer shows. Neste momento, estou concentrado na promoção do meu disco.

Como é que vês a música de Cabo Verde?

Vejo que os jovens estão muito ligados à música e que ainda existe muita dificuldade em divulgar a música cabo-verdiana. Houve muitas bandas como Os Tubarões, Bulimundo e os Rabelados que se desentegraram, mas já regressaram, porque sentiram a necessidade de voltar para não deixar a nossa música tradicional morrer. Cabo Verde não tem riqueza, mas temos a nossa música para divulgar. Quando divulgamos a nossa cultura, é um ganho para o país. Se fores ver, a cantora Cesária Évora é mais conhecida lá fora do que o nosso Presidente da República.

Cabo Verde já entregou a candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade na UNES­CO. O que achas dessa candidatura?

Acredito que essa candida­tura aconteceu no momento certo. É o sentimento do nos­so povo, e isso é muito bonito, porque acredito que a Morna está no caminho certo. E te­mos tudo para conseguir essa vitória.

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Autoria:Dulcina Mendes,10 jun 2018 9:53

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  11 jun 2018 7:39

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