Carlos Lopes vive actualmente em França e esteve recentemente no país para participar no festival de música “Nhu Sior du Mundo”, no município de São Salvador do Mundo.
Durante a sua estadia no país, aproveitou também para realizar um show. No show no Palácio da Cultura, o artista além de cantar algumas músicas do primeiro disco, apresentou alguns temas que farão parte do novo álbum. Os novos temas ainda não estão gravados, mas o artista fez questão de os apresentar neste espectáculo que foi memorável.
Também neste espectáculo Carlos Lopes convidou Trakinuz, outro jovem artista dos Picos, concelho de Salvador do Mundo, para partilharem o palco. Os dois jovens fizeram uma fusão de arrepiar, foi um dos momentos mais brilhantes da noite que terminou lindamente ao som da música “Mamai”, tema do seu primeiro disco.
Mas antes do show, Carlos Lopes falou com o Expresso das Ilhas sobre os seus trabalhos discográficos. O primeiro disco saiu em 2017, e ainda encontra-se na fase de promoção.
“Kanta pa Skece é uma homenagem à música tradicional de Cabo Verde. “A minha ideia é sempre pegar nos ritmos tradicionais como morna e coladeira, funaná, batuque e fazer uma fusão com os outros estilos que descobri depois que sai de Cabo Verde”, explica Carlos Lopes.
Natural de Pico Vermelho, no concelho de São Salvador do Mundo, interior de Santiago, Carlos Lopes tem uma imagem de marca que é a sua “orelha azul”. Algo que o acompanha sempre. “Orelha azul, é porque ouvimos as músicas com ouvido e azul é para lembrar de céu e sol de Cabo Verde”, esclarece.
“Mamai”, “E Ka Purci”, “Odja”, “Bengué”, “Si”, “Bu Ten”, “Mûdjer Di Pé na Tchon”, “Senpri Faita um Arguen”, “Tradiçon Di Nôs Terra”, “NBem Mundo Pan Ser Un Artista” são os temas que fazem parte do seu primeiro álbum.
O artista participou no Atlantic Music Expo 2016, o ano que, conforme disse, foi muito importante na sua carreira artística. “Depois disso, senti que tinha mais ligação com Cabo Verde, vinha só de férias e não tinha participado em nenhum festival. Após o AME senti mais vontade de desenvolver a minha carreira”.
Conforme conta, procurava saber mais das coisas que se passavam na Europa do que em Cabo Verde, mas depois desse evento passou, também a interessar-se mais pela sua terra natal.
“Cabo Verde é minha fonte de inspiração, vivo em França, mas estou sempre focado no meu país. Procuro saber como é que o país está, em termos de desenvolvimento, das novidades, das músicas mais tocadas entre outros”, frisa.
O jovem já está com alguns anos no mundo da música, formou o seu primeiro grupo com 16 anos, onde tocavam mais hip hop, depois com 20 anos foi estudar música no Conservatório Nacional Superior de Paris.
Com isso, começou a interessar-se por outros estilos como jazz e música clássica. A partir dos 22 anos decidiu escrever as letras das suas músicas. Também foi no Conservatório que gravou o seu primeiro disco e fez alguns concertos pela Europa.
Além de compor a suas músicas, Carlos Lopes também toca piano. “Uso piano mais como um instrumento para compor as minhas músicas e arranjá-las, mas no palco não costumo tocar. No palco gosto de estar livre, mas no concerto do próximo álbum vou estar acompanhado do meu piano no palco”.
Na música cabo-verdiana, Carlos Lopes tem como referência os músicos Norberto Tavares, Codé di Dona, Ildo Lobo e Bana.
Novo disco
Os temas que fazem parte deste álbum ainda não estão gravados, mas o jovem artista já tem tudo organizado para gravar assim que terminar a promoção do primeiro disco.
“Memória Azul”, conforme o artista terá 12 faixas musicais, e vai continuar na mesma linha do primeiro álbum, com uma fusão entre jazz e som electrónico. “Será uma memória da história de Cabo Verde e também o que tenho na memória da minha infância”, explica.
Este álbum vai contar com a parceria de alguns artistas cabo-verdianos. “Vou trabalhar com os artistas de outros países que vivem em Paris, e alguns de Cabo Verde como Ivan Medina”.
Uma boa parte da gravação deste disco será na França e outra parte em Cabo Verde. “As músicas estão quase todas prontas, só falta ir ao estúdio e gravá-las”.
“No segundo disco, a ideia mesmo é fazer um trabalho de memória, falar da comunidade dos Rabelados, do Museu da Resistência, ex-Campo de Concentração de Tarrafal de Santiago, de Cidade Velha, falar de história do país, pois acho importante trazer esses temas no registo”, conta.
Em 2020, quando o disco sair, Carlos Lopes promete regressar a Cabo Verde para shows de apresentação.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 911 de 15 de Maio de 2019.