Projecto quer reimaginar “o primeiro espaço” da cultura cabo-verdiana em Lisboa

PorLusa,25 mai 2021 10:46

O projecto de ‘crowdfunding’, intitulado “Re: Imaginar Banda Monte Cara – A semente da cultura africana em Portugal”, quer fazer renascer a banda residente do Monte Cara, um clube que serviu como ponto de encontro da cultura cabo-verdiana em Lisboa, e com isso reimaginar o ambiente vivido nos anos 1970 e 80.

Este projecto partiu do programador Alcides Nascimento, filho de Bana, conhecido como o “Rei da Morna” e responsável pelo clube e restaurante Monte Cara, assim como pela editora homónima, onde foram gravados nomes fundamentais da música cabo-verdiana, como os Bulimundo, Leonel Almeida, Jacqueline Fortes, Paulino Vieira, Luís Morais, Dany Mariano, José Casimiro ou Celina Pereira.

A ideia do projecto passa por trazer de volta a banda que animava as noites do Monte Cara, que funcionou entre 1976 e 1991 perto do Largo do Rato, e com isso celebrar aquele espaço, como ponto de encontro e “acima de tudo uma incubadora de artistas e músicos africanos”, disse à agência Lusa Alcides Nascimento. 

“O Monte Cara foi o primeiro espaço da cultura de Cabo Verde em Portugal, que, para além de clube, foi importante para o aparecimento de jovens músicos que popularizaram a música de Cabo Verde no mundo, como Tito Paris, Paulino Vieira, Cesária Évora e o próprio Bana”, frisou.

A página de ‘crowdfunding’ (disponível em ppl.pt/montecara) pede cerca de 4.500 euros para reunir a banda e gravar um EP com sete dos “temas emblemáticos” que a banda tocava, num disco que terá produção musical de Tito Paris e participação de Toy Vieira nos teclados.

Esta iniciativa pretende reunir os músicos Leonel Almeida (voz), Zé António (guitarra), Toy Paris (bateria) e Manuel Paris (baixo), que fizeram parte de diferentes formações da banda, reunindo também “alguns músicos da nova geração”, explicou.

“A banda teve vários músicos e cantores, consoante a saída de elementos para uma carreira de maior dimensão”, notou Alcides Nascimento.

A banda que animava as noites do clube assumia também o papel de apoio na gravação de outros artistas pela editora ou no acompanhamento destes em concertos ao vivo, um pouco à imagem (ainda que numa escala muito mais pequena) do papel dos Funk Brothers na Motown, contou à agência Lusa o cantor Leonel Almeida, que passou pela Monte Cara, banda que acaba também por ser uma espécie de segunda vida da Voz de Cabo Verde, grupo criado nos anos 1960 em Roterdão.

A banda Voz de Cabo Verde e a sua história, também associada a uma editora com o mesmo nome, acaba por se misturar com a de Monte Cara, sendo muitas das vezes creditada pela instrumentação dos álbuns lançados pela editora fundada por Bana, numa segunda fase de existência do grupo, já sem alguns dos membros fundadores que emigraram para países como Estados Unidos ou França.

“Quando viemos de Cabo Verde em 1974 era para dar continuidade à Voz de Cabo Verde. Era o grupo musical residente, que pertencia ao grupo Monte Cara. A ideia do Bana era fazer do Monte Cara um laboratório para descobrir grandes músicos que vinham de Cabo Verde. Eu fui um dos que vim”, conta Leonel Almeida.

O vocalista era militar em Cabo Verde e tinha 21 anos quando foi descoberto num sarau pelo músico Luís Morais, um dos fundadores da Voz de Cabo Verde.

“Gostou da minha ‘performance’, falou com o Bana e com a sua anuência mandaram-me uma passagem para Portugal para incorporar o grupo e eu vim”, resume Leonel Almeida.

Hoje com 69 anos, o músico recorda o Monte Cara com carinho, “rodeado de grandes músicos – o mestre Luís Morais, o génio do Bebeth, Paulino Vieira, Armando Tito -“, um grupo “fabuloso”.

“Foi uma aprendizagem que jamais vou esquecer e depois o rei dos reis, o Bana. O Bana sempre no comando”, recordou, apontando ainda para a fornada de músicos mais novos que foram aparecendo como Toy Vieira, Toy Paris, Manuel Paris ou Tito Paris.

Para Leonel Almeida, o Monte Cara servia como uma espécie de quartel-general dos artistas, que andavam “sempre em digressões” por países como os Estados Unidos, França, Holanda, Angola, Cabo Verde, entre outros.

“Nós ensaiávamos todos os dias, tivéssemos espectáculo ou não. O ensaio era um dever e era uma forma de o Bana nos pôr sempre em cima das coisas – sempre a tentar fazer melhor”, relembra.

A oportunidade de reunir a banda será também uma forma de “matar saudades”.

“Muita coisa mudou, agora somos todas cotas, mas a alma está cá. Qualquer pessoa que for ao espectáculo vai ficar satisfeito. Vamos tocar a música que tocávamos nos anos 70 e vamos lembrar o Bana, o Luís Morais e o Paulino Vieira, um tributo a três monstros sagrados da nossa música”, frisou.

Para além da angariação de fundos, o grupo tem já a sua primeira apresentação ao vivo na quinta-feira, no B.Leza, em Lisboa.

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Autoria:Lusa,25 mai 2021 10:46

Editado porAndre Amaral  em  26 mai 2021 11:15

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