Cooperativa de Artesanato Ponto de Encontro aposta na criação e na formação

PorDulcina Mendes,14 mar 2022 10:33

Maria Semedo (1º à direita) numa sessão de trabalho
Maria Semedo (1º à direita) numa sessão de trabalho

A Cooperativa de Artesanato Ponto de Encontro de Trás-os-Montes, no concelho do Tarrafal de Santiago, tem apostado na produção de peças de cerâmica e na formação dos mais jovens como forma de conservar a tradição.  O Expresso das Ilhas esteve em conversa, por telefone, com uma das artesãs mais antigas desta cooperativa.

Maria Semedo é uma das mais experientes oleiras da Cooperativa de Artesanato Ponto de Encontro. Conhece arte desde criança e possui uma capacidade nata para partilhar os seus conhecimentos para os jovens da sua comunidade.

As avós maternas e paternas eram oleiras profissionais, mas Maria Semedo não teve oportunidade de aprender directamente com elas, mas já trazia no seu ADN a paixão de moldar o barro. “Fazer barro está no meu sangue, as minhas avós maternas e paternas trabalhavam com o barro e essa labuta sempre foi o sustento delas.

Maria começou a trabalhar com barro aos 28 anos. Nessa altura frequentou uma formação em olaria, promovida pelas câmaras municipais de Tarrafal de Santiago e de Moita em Portugal.

Mais tarde, teve mais uma oportunidade de frequentar outra formação em olaria, mas desta vez em Portugal, onde alargou mais os seus horizontes. “Fui para Portugal fazer formação em barro; na altura tinha 35 anos de idade e agora falta pouco para completar os 60 anos. Durante a formação em Portugal, recebi convite para ficar, porque gostaram do meu trabalho. Disseram-me que em pouco tempo aprendi coisas que outros formandos demoram mais tempo para aprender. Mas declinei o convite, porque queria regressar à minha terra”.

Maria conta que na formação em Portugal, aprendi várias formas de preparar o barro e descobriu que o barro do seu concelho não era suficiente para o tipo de artefactos que fazem. “Então passei a buscar barro na Assomada, para fazer as peças. Desde então tenho feito a mistura certa entre os barros de Tarrafal e de Santa Catarina”.

“Com a mistura as peças não ficam quebradiças como acontecia antes. É um trabalho muito cansativo, pois preparar o barro é um muito trabalhoso; às vezes moldamos as peças bonitas e não conseguimos tirá-las do forno ou não ficam do jeito que queremos”, explica.

Depois de regressar de Portugal, Maria, juntamente com outras mulheres da zona de Trás-os-Montes, criou a Cooperativa de Artesanato Ponto de Encontro, onde trabalham até hoje.

A Cooperativa

A Cooperativa de Artesanato Ponto de Encontro criada em 2016 é actualmente formada por sete membros, de diversas faixas etárias e por mulheres mais velhas com mais experiências que vão passando os seus conhecimentos aos mais novos, para garantir que a tradição não desapareça.

É uma referência na produção de peças em cerâmica tradicional e contemporânea, garantindo meios de sobrevivência a muitas mulheres chefes de família desta localidade do Norte de Santiago. O objectivo da cooperativa é agora conseguir conquistar novos mercados. “Queremos levar as nossas peças para vários pontos do país e na diáspora”, revela a artesã.

A Pandemia

Maria Semedo conta que com a pandemia a venda das peças caíram um pouco, porque sem turistas não há muita saída. “Ficamos com menos turistas, mas, por outro lado, os nacionais passaram a ser os nossos maiores clientes. Agora com a diminuição do número de casos de COVID acreditamos que as vendas vão normalizar”.

Além de vender na cooperativa, Maria Semedo tem espaços em outras ilhas onde coloca suas peças para venda. “Com a pandemia, deixamos de colocar as peças em alguns lugares onde vendíamos os nossos produtos, mas já estamos a retomar essa venda. A pandemia fez com que muitos lugares ficassem de portas fechadas”.

Apesar de todas as dificuldades, as artesãs conseguem tirar algum sustento para as suas famílias, com a venda das peças. “Não temos muitos estudos, e este trabalho garante-nos algum rendimento, não 100% como gostaríamos, mas uma quantia que nos ajuda a manter a nossa família, porque moramos numa zona rural, onde há muita dificuldade em encontrar trabalho”.

Formação

Maria Semedo já ensinou várias mulheres da sua localidade a trabalhar na olaria. Diz que não é um trabalho fácil, mas que com tempo e paciência aprende-se rápido.

“Quando comecei, era a única pessoa que trabalhava com barro no concelho, mas hoje o cenário é outro. Hoje, já há várias mulheres estão nesta área, a fazer trabalhos muito meritório”.

Por isso Maria fazum balanço muito positivo de todos esses anos de trabalho, relevando que pretendo deixar um legado na área de produção de cerâmica a que se tem dedicado com muito amor ao longo de quase três décadas. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1058 de 9 de Março de 2022. 

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Autoria:Dulcina Mendes,14 mar 2022 10:33

Editado porDulcina Mendes  em  14 mar 2022 12:07

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