Crise: O Euro ‘abana’ mas, não cai

PorSusana Rendall Rocha,10 dez 2011 23:00


"Eu não acredito
que o Euro possa implodir"

A opinião é de Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que falava no Mindelo, sobre o futuro da moeda única europeia, por ocasião da conferência organizada pela Cabo Verde Investimentos e pela Câmara de Comércio do Barlavento, sexta-feira passada.

No dia 09, os Estados mem¬bros da União Eu¬ropeia reúniram-se para analisar uma possível al¬teração aos actuais moldes dos Tratados europeus assinados. O objectivo é reforçar a disciplina orçamental dos 27 Estados, avançou em Bruxelas, Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.

Aproveitamos a presença nas ilhas do economista e político português, Luís Amado, para saber a sua opinião acerca do futuro do Euro.

Apesar da divergência de pontos de vista entre os líderes europeus, Amado acredita que se poderá chegar a um consenso no próximo dia 09 para manter o Euro e a União Europeia.

Respondendo à pergunta di¬recta se havia uma possibilidade do Euro acabar, Amado respon-deu da seguinte forma: "quan¬do vemos grandes dirigentes questionarem-se sobre o futuro do Euro, quem é que não pode ou não tem legitimidade para colocar essa pergunta. Há quem não só faça a pergunta, mas também esteja a dar a resposta, retirando capitais da zona euro o que é dramático. Há alguns meses a esta parte começamos a assistir a um desinvestimento da zona euro preocupante, agora eu não acredito que o Euro possa implodir", assegurou.

"O efeito do desaparecimen¬to do Euro seria catastrófi¬co no sistema internacional", afirmou,dizendo ainda que esta possibilidade seria o desagregar do sistema financeiro global. "Teríamos uma crise financeira que poderia paralisar a econo¬mia mundial", reforçou.

Mesmo acreditando na con¬tinuação da moeda única, o antigo ministro português é de opinião que são necessárias algumas revisões aos Tratados europeus.

"Acho que vai ser objecto de um exercício legislativo comple¬xo de refundação e vai, eventu-almente, ser redefinido na sua composição, em função das novas regras que tiverem que ser impostas para o funcionamento da Zona Euro.

Opinião não partilhada por alguns líderes europeus, como David Cameron, Primeiro-ministro do Reino Unido, para quem "a Europa não precisa de um novo Tratado".

Contudo, Luís Amado evi¬denciou algumas reservas na sua convicção recordando que a União Soviética e o comunismo também eram um projecto de idealismo político que sucum¬biu, como tudo o que depende da vontade dos homens.

Mesmo assim, o conferen¬cista confia no bom senso dos dirigentes europeus: "Eu não acredito que nas condições ac¬tuais eles aceitem que isto acabe e que impluda como implodiu a União Soviética porque toda a gente tem a noção que desfazer da união monetária também irá desfazer o mercado interno, a livre circulação de bens e pes¬soas, voltaremos a uma situação de fragmentação política e de emergência dos demónios da história da Europa. Os EUA ficarão sós no seu poder impe¬rial ocidental e a Europa ficará reduzida a um papel muito insignificante".

A este cenário, o político acrescentou ainda a ausência da actuação da União Europeia como elemento incentivador da integração, do diálogo, da cooperação na resolução de pro¬blemas entre estados, em várias regiões do mundo, "o chamado multilateralismo efectivo que a Europa desenvolveu como mé¬todo da resolução de conflitos, em África, na América Latina ou na Ásia".

Um dia depois da conferência em São Vicente, subordinada ao tema "O quadro estratégico de relacionamento no Atlântico Sul e as oportunidades para Cabo Verde", na cidade da Praia, Luís Amado dissertou sobre: "O Futu¬ro da Zona Euro: Implicações Es¬tratégicas para a África Ocidental e para Cabo Verde" e teve como moderador o Primeiro-ministro, José Maria Neves.

É de realçar que os Tratados constitutivos da União Europeia já foram alterados várias vezes por ocasião da adesão de novos Estados-Membros, nomeada¬mente, em 1973, 1981, 1986, 1995, 2004 e 2007.

Para Amado, a Europa está a sofrer o impacto das decisões que foram tomadas pela pressão da história, mudanças e rupturas impostas e que é agora necessá¬rio adaptar o projecto europeu ao "sobressalto" em que esse continente vive hoje.

 

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Autoria:Susana Rendall Rocha,10 dez 2011 23:00

Editado porExpresso das Ilhas  em  10 dez 2011 23:00

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