“A redução da importação de combustíveis fósseis terá impacto evidente na nossa balança comercial”, salientou Alexandre Monteiro.
O ministro adiantou que em 2023 o país poupou cerca de 1,9 mil milhões de escudos em importação de combustíveis fósseis, correspondendo a 22.790 toneladas.
A taxa de penetração de energias renováveis (solar e eólica) ronda os 20% e o arquipélago tem vários projectos em curso para aumentar para 31,5% até 2026.
Nessa altura, espera poupar 3,7 mil milhões de escudos com a importação de combustíveis fósseis, o que equivale a cerca de 43 mil toneladas.
“Temos essa contribuição a nível de redução do custo no futuro, progressivamente, à medida que tivermos maior injecção de energias renováveis no sistema”, perspectivou o governante.
Alexandre Monteiro disse que o país quer “dar o salto” em termos de infraestruturas de produção de renováveis, mas também de armazenamento, tendo em conta a intermitência do sol e do vento no arquipélago.
Um dos projectos de armazenamento de renovável em fase de estudos é a central na ilha de Santiago, cujas obras para a construção deverão arrancar no próximo ano e iniciar operações em 2028.
A infraestrutura terá 20 megawatts (MW) de potência e 160 megawatts por hora (MWh) de capacidade.
A central vai armazenar os excedentes de energias renováveis produzidas, eólica e solares, através do sistema de reservatórios e bombagem de água, prevendo-se uma redução de 22% no consumo de combustíveis fósseis na produção de electricidade.
“A aposta do país é reduzir a dependência do petróleo”, frisou Monteiro, avançando que neste momento Cabo Verde tem uma capacidade de armazenar 52MW de energia renovável e tem em fase de instalação de cerca de 30 MW.
“Os projectos em curso permitem ao país já chegar a 2026 com a taxa de penetração de energias renováveis superior a 30%”, previu o ministro, indicando que a meta é atingir 50% até 2030 e aproximar-se dos 100% em 2040.
Entretanto, há vozes críticas no país que dizem que é praticamente impossível chegar a 100%, devido à necessidade de se garantir uma alternativa, com o ministro a responder que a opção pode ser também com energias limpas.
“Depois de 2030, podemos ter hidrogénio verde, por exemplo, um combustível limpo que pode ser usado num motor térmico, em vez de usar combustíveis fósseis”, referiu.
“Portanto, nada será impossível, é deixar que a evolução tecnológica permita depois ao país adotar as melhores soluções que no momento proporciona”, referiu Alexandre Monteiro.
Cabo Verde quer alcançar 100% de acesso à electricidade até 2026
Actualmente, Cabo Verde tem uma taxa de acesso à electricidade acima dos 95%. De acordo com o ministro, o Governo cabo-verdiano tem em curso um projecto de expansão e de cobertura de redes para aumentar o acesso de energia no arquipélago, direccionado a quatro ilhas: Santo Antão, São Nicolau, Santiago e Fogo.
O projecto, indicou, consiste na extensão de redes como também micro-redes e distribuição de ‘kits’ individuais em localidades isoladas e onde residem pessoas com vulnerabilidades económicas.
Os investimentos estão orçados em cerca de 300 milhões de escudos, financiados pelo Governo e pela cooperação internacional, e as obras beneficiam cerca de 3.000 pessoas.
“Estamos a falar de um universo de cerca de 1% do consumidor que reside em áreas não abrangidas pelas redes, daí a necessidade desse programa específico para alcançar essas localidades”, salientou o também ministro do Comércio e da Indústria.
Entre 2015 e 2022, Alexandre Monteiro avançou que o Governo investiu 40 milhões de euros nas infraestruturas de rede, o que permitiu ao país saltar de 80% para mais de 90% de taxa de acesso à electricidade.
“Nós não queremos ficar nos 99%, queremos alcançar 100%, e nessas áreas isoladas, estamos a falar num universo que pode englobar quatro ou cinco mil pessoas, a nossa estratégia é apoiar esse projecto para que todos tenham acesso à electricidade”, insistiu, na entrevista à Lusa.
Segundo o ministro, são projectos que vão aumentar a auto-estima das pessoas e das localidades, que poderão apostar no turismo e em outras actividades económicas.
“O acesso à energia hoje é um bem essencial, de primeira necessidade. Portanto, é importante nas vidas das pessoas, é comunicação, é acesso à informação, é educação, é tudo isso”, enumerou.