Identificados dois tipos de bactérias intestinais relacionadas com a depressão

PorExpresso das Ilhas,26 fev 2019 6:47

​A análise do microbioma de centenas de pessoas revela que a presença ou falta de alguns organismos pode favorecer a aparição do Parkinson e outras doenças.

Os micróbios que habitam nosso intestino parecem ter certa influência sobre nossasaúde mental, embora por enquanto esse impacto tenha sido mais estudado em animais do que em pessoas. Observou-se, por exemplo, que ao injectar fezes de humanos deprimidos em ratos esses animais desenvolviam sintomas próprios da doença. Em humanos, verificou-se que alterar o ecossistema intestinal pode reduzir estados de ansiedade, mas falta informação sobre o que se pode fazer com doenças mais graves.

Numa análise publicada nos primeiros dias de Fevereiro, uma equipa liderada por Jeroen Raes, do Instituto Flamengo de Biotecnologia, da Bélgica, relaciona a depressão com a ausência de alguns tipos específicos de bactérias e sugere que muitas delas poderiam produzir compostos capazes de afectar nosso estado mental.

No trabalho,publicado na revistaNature Microbiology, os autores relatam como obtiveram informações sobre diagnósticos de depressão e o microbioma recolhido das fezes de 1.054 indivíduos que participam doProjeto Flamengo da Flora Intestinal. Na sua análise, observaram que dois géneros de bactéria, asCoprococcuse asDialister, escasseavam entre as pessoas que sofriam de depressão.

Neste trabalho, os autores também analisaram quais compostos poderiam produzir os micróbios com capacidade para interagir com nosso sistema nervoso, e cruzaram essa informação com as sequências genómicas dos organismos encontrados nas fezes de pessoas com depressão e em indivíduos sãos. Desta maneira, descobriram que a capacidade de alguns microorganismos para produzir DOPAC, um dos metabolitos da dopamina, estava associada com um melhor estado mental.

A equipe de Raes procura há anos relações entre a presença de determinadas bactérias e seus efeitos sobre a saúde, escreve o El País. Em estudos anteriores, observaram que quem consumia iogurte regularmente tinha ecossistemas bacterianos intestinais mais diversificados, algo que também se via com o consumo de vinho e café.

O contrário ocorria com o consumo de leite integral e com uma alimentação excessiva. Em outra das linhas que interessam no âmbito do estudo do microbioma, começaram a ser encontradas relações entre as doenças do coração e o câncer e a presença ou ausência de algumas bactérias.

Problemas de ansiedade ou depressão têm sido detectados com especial frequência em pessoas com alterações gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável, e em geral é comum que os transtornos mentais e digestivos ocorram simultaneamente. Em outra linha de investigação que pode ajudar a entender o mal de Parkinson, alguns estudos detectaram que essa doença está relacionada com um maior tempo de trânsito intestinal.

Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 899 de 20 de Fevereiro de 2019.

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Autoria:Expresso das Ilhas,26 fev 2019 6:47

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  26 fev 2019 6:47

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