Doenças que foram erradicadas graças àsvacinasagora ressurgiram. O Brasil, que recebeu em 2016 um certificado da ONU pela eliminação do sarampo, teve um grande surto da doença que atingiu 11 Estados e 10.302 pessoas no ano passado, devido à baixa cobertura vacinal. E entre as causas deste aumento está a crença de alguns, de um movimento conhecido comoantivacinas, que as apontam como causadoras de doenças e transtornos, tais como o autismo (TEA). E essa crença é falsa, concluiu um estudo na Dinamarca com mais de 600.000 crianças, relata o El País. Não é o único estudo que jogou por terra essa afirmação, apenas o mais recente e bastante completo. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira noAnnals of Internal Medicine.
A tese fundamentada de que a vacina conjunta contra a rubéola, caxumba e sarampo, conhecida como tríplice viral (MMR, na sigla em inglês), provoca o autismo, começou há duas décadas, depois da publicação de um artigo de Andrew Wakefield, em 1998, noThe Lancet, no qual ele defendia o vínculo hipotético entre a vacina MMR e o autismo. Este estudo, que causou pânico e afectou as taxas de vacinação em todo mundo, foi refutado em muitas ocasiões e, além disso, o próprio pesquisador — que teve de se retratar na mesma revista por erros metodológicos que alguns especialistas definem como “premeditação de sua parte”— chegou a perder sua licença de trabalho. Apesar de tudo isso, o boato se mantém a nível mundial, alimentado sobretudo pelasredes sociais.
A fim de descobrir a verdade, os especialistas do estudo dinamarquês avaliaram se a vacina aumentava o risco de desenvolver autismo. Eles estudaram as características das crianças e o tempo decorrido desde a vacinação, um total de 657.461 nascidos na Dinamarca entre 1999 e 2010, e as acompanharam desde o primeiro ano de vida até Agosto de 2013.
Em todos os casos se avaliou se as crianças foram vacinadas, se tinham sido diagnosticadas com autismo, se havia algum membro da família com esse transtorno neurobiológica ou algum outro factor de risco para o autismo. No total, foram avaliadas mais de cinco milhões de pessoas, das quais apenas 6.517 crianças foram diagnosticadas com a incidência de autismo, dizem os autores, ou seja, 129,7 para cada 100.000 habitantes. Não se observou nenhuma diferença entre as crianças vacinadas e as que não eram, e não se verificou nenhum risco adicional para padecer de TEA entre os vacinados.
“Nossa conclusão é que a vacina tríplice viral não aumenta o risco de sofrer de autismo”, escrevem os autores na revista. Além disso, “não há aumento de seu diagnóstico entre as crianças mais suscetíveis de padecê-lo e não está relacionado com casos de autismo que aparecem depois da vacinação”. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças tem TEA no mundo e os sintomas geralmente começam na infância e persistem até a adolescência e a idade adulta. Outras estimativas dizem que pode afectar uma em cada 68 crianças em idade escolar.
Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 902 de 13 de Março de 2019.