Identificado um novo tipo de demência confundido até agora com o Alzheimer

PorExpresso das Ilhas,11 mai 2019 8:42

O transtorno, batizado LATE, aparece em mais de 20% dos cérebros das pessoas com mais de 80 anos

Ronald Reagan morreu aos 93 anos sem lembrar que havia sido presidente dos EUA em plena Guerra Fria. Rita Hayworth faleceu aos 68 sem saber que protagonizara Gilda. E Adolfo Suárez partiu aos 81 tendo esquecido que foi o primeiro presidente democrático da Espanha depois da morte de Franco. A cada três segundos um novo caso de demência é diagnosticado no mundo, com resultados demolidores. Mais de um século após a descoberta do mal de Alzheimer, ainda não existe qualquer tratamento possível e nem sequer se compreendem bem as causas da doença.

Uma equipa internacional de cientistas publicou em finais de Abril um documento que poderia ajudar a explicar os motivos de estas terapias experimentais terem fracas­sado uma após a outra há anos. O Alzheimer nem sempre é Alzheimer. Segundo o El País, os pesquisadores, encabeçados pelo norte-americano Peter Nelson, descreveram um novo tipo de demência, batizado LATE (acrónimo do difícil nome científico “encefalopatia TDP-43 límbico-predominante relacionada com a idade”) que aparentemente é tão habitual quando o Alzheimer nas pessoas com mais de 80 anos. Passou despercebido durante décadas. “Existem mais de 200 vírus diferentes que podem causar o resfriado comum. Por que pensar que só há uma causa par a demência?”, argumenta Nelson, da Universidade de Kentucky, num comunicado, citado pela mesma fonte.

Tradicionalmente, a comunidade científica assinalou duas proteínas por sua vinculação com o Alzheimer : a beta-amilóide, que se acumula entre os neurônios, e a tau, que também alcança níveis prejudiciais e forma novelos no cérebro. No novo tipo de demência, LATE, os pesquisadores apontam a outra proteína, a TDP-43, já implicada em outras doenças do sistema nervoso, como a esclerose lateral amiotrófica.

Os autores do estudo sustentam que os sinais do LATE estão presentes em mais de 20% dos cérebros analisados de pessoas com mais de 80 anos. “Muitos dos ensaios clínicos de tratamentos contra o Alzheimer fracassam porque estão incluindo pacientes que deveriam ser excluídos”, alerta María Anjos Martín Requero, cujo laboratório no Centro de Investigações Biológicas (CSIC), em Madrid, pesquisa o papel da proteína TDP-43 nas demências.

A equipa da neurocientífica Virginia Lee, da Universidade da Pensilvania, já tinha observado em 2006 a presença de indícios da proteína TDP-43 na degeneração lobular frontotemporal do cérebro, um dos principais tipos de demência junto ao Alzheimer, a demência de corpos de Lewy e a demência vascular. No caso de LATE, a TDP-43 costuma se concentrar na amígdala e no hipocampo, duas áreas do cérebro relacionadas, respectivamente, com as emoções e com a memória autobiográfica.

Os autores do novo estudo, publicado na revista especializada Brain, alertam que cada vez há mais pessoas com mais de 80 anos em todo mundo e, portanto, “LATE tem um impacto crescente e pouco conhecido na saúde pública”. Há “uma necessidade urgente de investigação”, advertem.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 910 de 08 de Maio de 2019.

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Autoria:Expresso das Ilhas,11 mai 2019 8:42

Editado porChissana Magalhães  em  12 mai 2019 9:59

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