Segredos por descobrir, repto lançado, desafio aceite, mais de quatrocentos monumentos descobertos e 7 eleitas como as mais belas paisagens naturais de Cabo Verde. Entre elas estão o Vulcão do Fogo, a Praia de Santa Maria (Sal), as Salinas de Pedra de Lume (Sal), as Dunas da Boa Vista, Carbeirinho e o Parque Natural de Monte Gordo (São Nicolau) e Monte Cara (São Vicente). Uma selecção que gerou muita polémica e controvérsia e gorou as expectativas e as previsões que muitos tinham idealizado.
“A sensação é do dever cumprido, abraçamos a causa com muito amor, porque é a nossa terra que está em causa e as maravilhas são de Cabo Verde”, disse a deputa e presidente da Comissão Nacional das Sete Maravilhas de Cabo Verde, Eunice Silva.
Após dois anos de luta as 7 Maravilhas Naturais de Cabo Verde, foram identificadas na sexta-feira, 20, numa grande Gala que não se limitou apenas em apresentar as paisagens naturais em concurso. Enquanto se apresentava as 57 maravilhas desta pequena terra insular, subiam ao palco as vozes do arquipélago para encantar o público com mais uma das maravilhas do povo das ilhas, que é a nossa música. De Santo Antão à Ilha do Fogo a música esteve bem representada pelos seus artistas locais, apenas a ilha Brava ficou limitada pela morna instrumental executada pela banda suporte. Como esses monumentos também pertencem à nossa diáspora, a cabo-verdiana Maguy Martins radicada em Portugal, soltou a voz com a música “Terra Longe”, uma composição de B.Leza.
O concurso abarcou as seguintes categorias: 1ª montanha, serra e falésia; 2ª monumento natural de cariz vulcânico; 3ª ilhéus, rochas, rochedos e grutas monumentais; 4ª baías, enseadas, angras e zonas húmidas; 5ª praias de areia branca ou negra; 6ª dunas e corredores dunares e 7ª paisagens ou áreas de interesse científico.
As 7 Maravilhas eleitas
Monte Cara, em São Vicente, na 1ª categoria; Vulcão do Fogo, vencedora da 2ª categoria; Carbeirinho, em São Nicolau, vencedora da 3ª categoria; Salinas de Pedra de Lume, na ilha do Sal, venceu a 4ª categoria; Praia de Santa Maria, também da ilha do Sal, venceu a 5ª categoria; Deserto de Viana, na Boa Vista, venceu na 6ª categoria e o Parque Natural de Monte Gordo, em São Nicolau, na 7ª categoria.
“Impossível agradar a todos. O povo só acordou no dia da Gala”
Na apresentação cada um puxava a brasa para a sua sardinha e os resultados tiveram um sabor amargo para muitas pessoas. O desagrado foi manifestado publicamente nas entrevistas solicitadas à imprensa e alguns postaram vários comentários nas redes sociais, com críticas directas aos jurados. Consideraram que os jurados escolhidos não têm conhecimento sobre as belezas naturais de Cabo Verde e até recomendam um tour pela ilha.
Questionada sobre os critérios da selecção, a presidente da Rede de Parlamentares para o Ambiente, Luta contra a Desertificação e Pobreza, Eunice Silva, realçou que as maravilhas foram submetidas a concurso e venceu quem teve a melhor pontuação. “Cada ilha, cada município apresentou o seu projecto à Comissão Nacional das Sete Maravilhas de Cabo Verde e elegeu alguém da sua confiança para a votação. “Cada delegado de cada ilha veio à Praia e votou nas maravilhas que foram expostas e assim foram eleitas as finalistas do concurso. As pessoas votaram em consciência e de acordo com o regulamento. Ninguém sabia em que maravilha o outro votou”, explicou.
Os jurados
O júri era composto por Maria das Dores e Silva, presidente do júri das 7 Maravilhas de Cabo Verde, Emitério Olavo Ramos, Director Geral de Agricultura, Silvicultura e Pecuária representante de Santo Antão, Álvaro da Cruz, advogado em representação de São Vicente, Adildo Gomes vereador da Câmara Municipal do Tarrafal de São Nicolau, Euclides Gonçalves, Licenciado em Biologia em representação da ilha do Sal, Marina N’Deye Silva, mestrada em Ecologia, Gestão e Modelação dos Recursos Marinhos representante de Boa Vista, Adriano Silva, vereador da Câmara da ilha do Maio, Mateus da Costa, licenciado em Geografia, em representação da ilha de Santiago, Fausto Amarílio do Rosário, professor de Língua Portuguesa e Cultura Cabo-Verdiana, representante de Fogo e David Fernandes formado em Ensino das Ciências da Natureza, representante da Brava.
O júri teve um peso de 75% na votação final, a comissão técnica de 15% e o público de 10% através de mensagens de SMS e do site das 7 Maravilhas.
Segundo Eunice Silva os jurados eram pessoas idóneas e com formação nas áreas que estavam em competição e os mesmos não podiam votar quando as suas ilhas se encontravam em escrutínio.
Cabo Verde é composto por 10 ilhas, as maravilhas a serem identificadas eram apenas 7; realmente alguns tinham de ficar de fora, e qualquer resultado tinha de trazer indignação. A ilha de Santo Antão e Santiago “são as que mais choram” por não terem sido eleitas um único dos seus encantos para a lista das 7 Maravilhas. Desdramatizando este facto, Eunice Silva disse que todas as ilhas têm as suas maravilhas e que as escolhidas são nacionais.
Enquanto filha de Santo Antão, Eunice Silva realçou que o Parque Natural de Cova/Ribeira da Torre era uma candidata com fortes potencialidades e gostaria de a ver na lista das 7 Maravilhas. “Estas coisas são assim, perde-se por um ponto, dois ou até mais e foi o que aconteceu. Tinha o aval da comissão técnica, mas perdeu por um ponto”.
A presidente da Comissão Nacional das Sete Maravilhas de Cabo Verde adiantou que houve casos de empate entre a Baía do Mindelo e a Salina de Pedra de Lume. “Foi estabelecido que havendo um empate, permanece aquela que recebeu o aval da comissão técnica e foi isso que aconteceu”.
“As maravilhas eleitas são nacionais e por exemplo a ilha de Santiago e Santo Antão continuam a ter as suas. As que concorreram e não passaram, continuam a ser as maravilhas de cada ilha”.
“São maravilhas que nos orgulham a todos nós. Somos uma nação e temos que agir como tal. Infelizmente existe o bairrismo, mas temos de ter a capacidade de pensar Cabo Verde no geral. Ninguém pode recusar a ninguém de dizer que por exemplo o Vulcão de Fogo é de um filho de Santiago”.
É tempo de inventariar aquilo que o país tem
Escolhidas as 7 Maravilhas de Cabo Verde, a presidente da Rede de Parlamentares para o Ambiente, Luta contra a Desertificação e a Pobreza, disse à imprensa que a nova etapa vai consistir em estabelecer parcerias com o governo através dos ministérios do Ambiente e do Turismo para que o projecto possa seguir os próximos passos.
“Os próximos passos são a de preservação e divulgação das 7 Maravilhas de Cabo Verde, com a consolidação da base de dados, a produção do livro tesouro, o catálogo dos patrimónios de cada município e a carta turística e mostrar aos cabo-verdianos, à diáspora e aos turistas a beleza que é Cabo Verde”.
Não adianta identificar as maravilhas se não se pensar na prevenção e preservação desses sítios. É um papel que cabe a cada cidadão cabo-verdiano.
“É preciso preservar para mostrar às gerações vindouras aquilo que Cabo Verde é. Muitos dos sítios estão a ser danificados, com a apanha de arreias, jorra, etc. O objectivo é chamar a atenção de quem de direito para a preservação dessas paisagens”