O regresso da Guerra Fria

PorExpresso das Ilhas,16 nov 2014 0:00

Há uma tensão no ar que corre o risco de degenerar em algo mais grave. Teme-se uma nova guerra fria. Aviões russoc em rotas não declaradas e, principalmente, o conflito ucraniano levam vários analistas e figuras de renome a afirmá-lo. O antigo líder da União Soviética, Mikhail Gorbatchov deixou também o alerta, durante as comemorações do aniversário dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, apontando o dedo aos EUA.



O Ocidente e a Rússia estão de novo em braço de ferro, despoletado pela crise na Ucrânia (mas não só). A confiança está abalada entre as duas facções e a tensão aumenta.

“Temos de assegurar-nos que as tensões que surgiram recentemente ficam sob controlo”, apelou Gorbatchov, este domingo, 9, em Berlim. Nesse sentido, o antigo líder soviético considera fundamental que se encete pela via do diálogo com Moscovo, evitando as sanções que o ocidente, nomeadamente a União Europeia, tem sucessivamente imposto à Rússia.

Na sua opinião, conforme afirmou anteriormente, o Ocidente, mais particularmente os EUA encontraram no conflito ucraniano “uma desculpa” para implicar com a Rússia e minar a relação que vinha a melhorar, cita o Público.

“A Rússia concordou com novas relações, e criou novas estruturas de cooperação. Mas nem toda a gente nos EUA gostou disso.” Assim, “criaram uma situação que lhes permite meterem-se em tudo”, arguiu Gorbatchov, que acusa ainda os EUA de “triunfalismo”, depois do colapso do bloco comunista.

O antigo líder russo, de 83 anos – protagonista de uma política de abertura do regime soviético que lhe granjeou a admiração de muitos países ocidentais e acusações de traição por parte de alguns conterrâneos - , tem, na realidade, sido crítico em relação à política interna de Putin. Mas vem assim, por outro lado, mostrar o seu apoio no que toca à política externa.

 

O xadrez russo

Sob uma perspectiva diferente, José Milhazes é outra das figuras que lança o alerta de que a “guerra fria” é uma realidade. E é-o pelo menos desde o segundo mandato presidencial de Vladimir Putin na Rússia (2004-2008).

Para o jornalista português, e um dos mais destacados correspondentes em Moscovo, desde essa fase “ficou claro que Moscovo iria passar das palavras aos actos para manter o seu poder de influência no chamado “estrangeiro próximo”, ou seja, no antigo espaço soviético”, escreve no jornal Observador.

Milhazes recorda a guerra entre a Rússia e a Geórgia (2008), em que esta perdeu parte significativa do seu território. Na altura, a União Europeia bloqueou o problema, negociou um apressado cessar-fogo, sobre o qual o Kremlin teve a última palavra, nomeadamente quanto ao local onde seriam colocados os observadores da OSCE.

A Nato e a UE enganaram-se ao pensarem que os desígnios de Putin se ficariam por aí uma vez que “o dirigente russo, aproveitando-se de uma crise interna na Ucrânia, ocupou silenciosamente a Crimeia, justificando-se com o antecedente do Kosovo, o que não corresponde à verdade. O antecedente seria equivalente se a Crimeia passasse a ser formalmente independente co­­mo o Kosovo, mas o Kremlin deixou-se de cerimónias e simplesmente transformou esse território em mais uma república sua”, analisa o jornalista.

No seu artigo intitulado “Só agora é que deram conta dos aviões russos?” Milhazes refere que logo a seguir à anexação da Crimeia, Moscovo “ateou o fogo do separatismo no Leste da Ucrânia”, reivindicando não estar a fazer nada que os EUA também não façam.

“ E aqui a história volta a repetir-se: quando os EUA enviavam tropas para algum território, isso significava invasão. A União Soviética fazia exactamente o mesmo mas chamava-lhe “internacionalismo proletário”. Hoje, o Kremlin encontrou outra fórmula: “defesa do mundo russo”, continua.

Sabe-se que  25% do Orçamento de Estado da Rússia vão para “fins secretos”. Para o jornalista não há dúvidas que esses fins são na realidade despesas militares, como prova a modernização em curso das forças armadas do país.

Nos últimos anos, enquanto Moscovo investia nas sua máquina de guerra, os países da NATO, acreditando que a tensão com a Rússia era um capítulo encerrado, começaram a poupar nos seus orçamentos militares. “Agora, irão ter de fazer esforços que países como Portugal e outros não conseguirão fazer”, observa.

Posto isto, Milhazes acusa a UE e a NATO de parecem não saber como travar a expansão russa no antigo espaço soviético, o que cria um clima de insegurança nos países vizinhos.

“Posso estar a exagerar? Talvez, mas dentro em breve terá lugar ou não um acontecimento que responderá a essa pergunta. Dmitri Rogozin, vice-primeiro-ministro russo encarregado do sector militar-industrial, anunciou que a França irá entregar o primeiro porta-helicópteros “Mistral” ao seu país e começar a construir o segundo a 14 de Novembro. Paris diz não existirem condições para isso. Vamos ver em que vai acabar este braço de ferro e o que vale a solidariedade europeia”, conclui.

 

Manobras aéreas

Que há algo no ar, parece que sim. E até mesmo literalmente falando.

Em finais do passado mês de Outubro, a Nato alertava, em comunicado, para as “manobras aéreas incomuns” e de “grande escala” que a aviação russa tem vindo a fazer na Europa. Falava-se em mais de 20 aviões detectados em apenas uma semana.

Esta segunda-feira, novos casos vieram a público, no lançamento de um relatório da Rede Europeia de Líderes para o Desarmamento Nuclear Multilateral e a Não Proliferação, sobre incidentes militares registados entre a Rússia e o Ocidente ao longo de 2014.

Entre as 45 ocorrências reveladas, destaca-se uma que terá ocorrido em Março, quando um avião comercial escandinavo com 132 passageiros a bordo quase colidiu com um aeronave militar russa que voava sem comunicar as respectivas coordenadas.

“A colisão foi aparentemente evitada graças à boa visibilidade e ao sentido de alerta dos pilotos do avião de passageiros”, diz o relatório, intitulado “Dangerous Brinkmanship: Close Military Encounters Between Russia and the West in 2014”-

Este incidente é classificado como de “alto risco”, no documento, onde se lê ainda que se o choque não tivesse sido evitado estaríamos perante uma tragédia comparável a do voo MH17 no leste da Ucrânia, na qual morreram 298 pessoas.

Os incidentes registados estão quase todos ligados com actividades aéreas e navais em diferentes partes do mundo, incluindo no Pacífico.

Portugal, na ponta mais ocidental da Europa, não escapou a estas “manobras aéreas”. No dia 29 de Outubro dois bombardeiros russos aproximaram-se das suas águas territoriais. Dois dias mais tarde, 31, outros dois aviões foram interceptados por caças F-16 portugueses em espaço aéreo internacional, sob jurisdição portuguesa. Também na semana passada, o ministro da Defesa português, José Pedro Aguiar-Branco anunciou a detecção de navio russo que navegava na Zona Económica Exclusiva portuguesa, em águas internacionais

E esta é apenas a ponta do iceberg, nos céus e mares mundiais.

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Autoria:Expresso das Ilhas,16 nov 2014 0:00

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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