Opinião: O Chapéu do Cluster

PorJoão Chantre,14 set 2012 23:00


O desenvolvimento está na mente. Sonhar e primar pela qualidade é a semente do sucesso.

Segundo estudos oficiais, o divertimento global e a media rendeu mais de USD 1.35 triliões em 2008, e há previsões que apontam para um crescimento recorde que rondará os USD 1.6 trilhões em 2013.

O mundo está em festa e o tsunami da festa chegou a Cabo Verde. Bastou fazer um ensaio de um estudo sobre a Economia do Carnaval em 2010 para verificar como este sector é promissor.

 

Segundo os dados apurados nesse estudo, a massa monetária que circulou à volta da festa do Rei Momo em Mindelo rondou cerca de um milhão de contos, sem considerar todas as variáveis possíveis. Desse valor, o "Boss do Caravela" confirmou que devido à festa, o seu estabelecimento que fica situado na zona nobre da Laginha facturou 15 milhões de escudos cabo-verdianos por mês, entre os meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 2010, respectivamente, excluindo a discoteca. Outro segmento que sempre mexeu com as economias regionais e sempre foi um Cluster sem o chapéu, tem sido os Liceus/Universidades. Estima-se que actualmente a comunidade universitária de Cabo Verde ronda os 9.000 estudantes e que só em Mindelo residem cerca de 3.000 universitários, provenientes de todas as ilhas do arquipélago sobretudo, da Ilha das Montanhas e da Ilha de Chiquinho. E por isso é importante o papel do "bacam I, do bacam II, o chefe de bacam na capital e os titios em Mindelo, na sustentabilidade do sistema".

Globalmente esse segmento universitário, na sua faixa etária entre os 18 e os 27 anos, é um segmento muito activo e dinâmico que dá vida/tira vida, viabiliza/inviabiliza qualquer cidade. Apesar de a missão desse pessoal sejam os estudos, também é hoje conhecida a sua forte propensão para o consumo de tudo quanto é festa, álcool, exotismo e fashion de luxo, nomeadamente os jeans e as grandes marcas americanas e europeias.

É mundialmente conhecido o sucesso da Universidade de Coimbra, com a sua famosa festa da queima de fitas e outras, o sucesso do Havard School, MIT, BU em Boston, o sucesso da Université de Aix-en-Provence em França, a recente Universidade da Covilhã que transformou uma cidade industrial numa cidade universitária e outros casos mundialmente conhecidos. E por isso "a Troika" tem poupado este sector. Se a Troika atingir este sector, a economia estagna-se e a juventude com excesso de energia para gastar, se não encontrar ocupação, dará lugar à delinquência urbana, teorizado pelo escritor Heródoto Barbeiro, na sua mais recente obra, "O relatório da CIA", como será o mundo em 2020 !!!Por isso, é frequente ver muita gente que prefere estender os seus tempos de graduação, preferindo investir primeiro em festa e grandes parodias e passar entre 4 anos, o tempo considerado normal para concluir uma formação superior, 10 e 15 anos que é considerado um tempo recorde e abusivo para concluir uma formação superior. Mas por brio dos pais e para o bem das economias universitárias, é frequente ver muitas famílias a financiar esse luxo, que muitas vezes deixa algumas delas à beira da ruína financeira.

Parece que para complementar esta actividade económica, desta vez, a inovação foi a introdução da tenda electrónica no circuito: bastava ver a tenda electrónica que encerrou em grande o ano lectivo 2011/2012, na Baía das Gatas em S. Vicente. Cerca de 3.000 jovens deslocaram-se à Baia para assistirem a um mini-festival numa tenda electrónica, montada para uma grande noitada. Pena, quando tinha tudo para dar certo, alguns aspectos logísticos falharam. No entanto, "o Cluster do Entertainment & Economia Criativa" funcionou e bem. Estima-se que cerca de 2.000 jovens conseguiram aceder ao interior da tenda ao preço de 700 CVE por pessoa, com DJs importados. Fora da tenda, cerca de 1.000 jovens aguardavam ansiosamente, numa longa fila, a sua vez de entrar, o que para muitos não foi possível". Interessante foi ver o ambiente envolvente, os restaurantes da Baiaa das Gatas todos abertos e cheios de pessoas, os Hiaces repletos de jovens rumo à Baía das Gatas, as barracas a funcionarem, os carros de hamburgers e cervejolas em máxima força e os balaios com o seu público característico a facturarem. A festa arrancou noite a dentro e só parou quando o sol nasceu. Falhas, sim, houve falhas. Importante é aprender com os erros, corrigir as falhas, porque quem entra quer sair e quem entrar quer circular. Tanto assim que a arena nunca será apenas a tenda, foi tudo o que a Baáa das Gatas tem de bom, o meio ambiente, a baía, a brisa, a areia e o mar, eis os cuidados a ter para os próximos eventos. O Evento foi considerado o pontapé de saída para uns, os estudantes que regressavam às suas ilhas depois de um ano lectivo de sucesso ou insucesso e o pontapé de boas entradas para o Verão que arrancou em alta velocidade e que só termina na primeira semana de Setembro, com o regresso da Diáspora à casa. O festival da Baía das Gatas, como sempre, é apontado como o expoente máximo das festividades do Verão e os festejos diários para consumir os euros/$US do turismo da diáspora e do turismo europeu que visitam por esta altura o nosso país. Quem tiver ideias e souber investir ganhará muito dinheiro neste Verão e nos próximos verões. É esse o conceito do negócio (ganhar dinheiro), hoje traduzido em "empreendedorismo" e por isso, pelo tamanho da palavra e da complexidade do termo, deixou-se de ganhar dinheiro. Os aeroportos, Cesária Évora e Nelson Mandela, continuam a receber voos directos de Paris, Amesterdão, Boston e Lisboa. É pena que a procura, a oferta e os preços continuarem ainda desajustados. O potencial é enorme. O Turismo da diáspora merece um enquadramento adequado. Muita gente sabe que esse segmento do turismo existe, mas não o reconhecem como tal e não o classificam como tal e por isso não são utilizados os métodos científicos adequados para quantificá-lo e maximizar as receitas provenientes desse segmento do turismo de capital importância para a nossa economia. É importante investir neste segmento para que possamos tomar decisões acertadas.

Ainda incluída nas festividades do Verão, mais precisamente, na Cidade do Mindelo, uma cidade onde se respira liberdade e criatividade, a nova centralidade teve necessidade de se deslocar à zona litoral da Laginha para receber o mundo em férias. E todos os convidados convergiram na nova centralidade para assistirem à coroação da Raquel Pinto, a mais recente mindelense acabada de desembarcar da ilha das montanhas e convertida em "Top Model Mundial" , nas "Fashion Square" de Paris, Milão e New York, onde já se encontra a sua conterrânea Alzerina Gomes que acaba de criar uma nova linha de jóias que vai concorrer com a marca Swaroski Crystal Fashion & Acessories, ou seja, a marca austríaca, do patinho encantador. O enquadramento é perfeito, o Entertainment & Economia criativa têm ainda por função descobrir talentos e projectar a imagem do país além fronteiras.

Pelos vistos , a tenda electrónica virou moda e continua a sofrer grandes rotações. Depois de passar pela Cidade de Santa Maria onde acabou por encantar uns e indispor outros... Para os jovens e alguns turistas foi tido como um momento de festa e alegria, mas para alguns hoteleiros, operadores turísticos foi caracterizado como uma tenda perturbadora. Ora, nesse tipo de eventos, o importante é encontrar um ponto de equilíbrio.

Creio que é uma actividade que deve manter-se mas é preciso um consenso entre os promotores e as instituições públicas e privadas, no sentido de controlar a segurança e a poluição sonora. Tudo tem o seu espaço desde que devidamente planeado e enquadrado.

Na capital, a tenda electrónica chegou, instalou-se no lugar certo, venceu, facturou e partiu. Para completar a indústria do Entertainment & da Economia Criativa resta-nos fazer uma investida forte no "Spring Break" (a Comunidade Universitária dos Estados Unidos) por forma que a Laginha e a Kebra-Kanela sejam incluídas no roteiro dos grandes destinos dos jovens universitários americanos, ainda que numa primeira fase esta acção seja direccionada apenas para os caboverdianos americanos à procura de festa e do exotismo.

Cabe às instituições da República especializadas e às companhias aéreas serem mais criativas e adaptarem-se às novas vagas de oportunidades que vão surgindo. Dito isto, partilhamos a seguinte oração: O Verão 2012 marcou uma nova era para Cabo Verde no que concerne ao Turismo da Diáspora... O Verão 2013, em função do nosso planeamento e visão estratégica, ficará na história de como o Turismo da Diáspora pode revolucionar a nossa economia. Uma investida no "Spring Break" é uma aposta no futuro dessas ilhas, "Back to the Roots with our friends", para além de turismo, este segmento pode por a Laginha e a Kebra-Kanela a ver e falar com o mundo, utilizando o inglês. Conhecedor da nossa cultura e antecipando os mais cépticos, é importante relembrar que numa sociedade existe, "The thinkers, the makers & the sellers". Em suma, todos nós somos poucos para levar em frente o projecto Cabo Verde.... Deixa sonhar quem tem sonhos ...It´s time...


Opinião de João Chantre

 

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Autoria:João Chantre,14 set 2012 23:00

Editado porAlexis Cardoso  em  15 jan 2013 23:16

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