O mundo novo

PorJoão Chantre,17 ago 2013 0:37

O desenvolvimento dos transportes aéreos a partir da Segunda Guerra Mundial permitiu a circulação em massa das pessoas, aproximou povos e culturas diferentes, criou uma nova geografia planetária e despoletou uma das maiores indústrias do mundo, o Turismo. Afinal, o mundo é dinâmico, o epicentro económico muda de direcção com o tempo… Estamos perante um mundo novo.

 

O pássaro e o seu ninho

Reza a história destas ilhas que a aventura da aviação, teria começado no ano de 1955, com um bi-plano com dois motores. A 27 de Dezembro de 1958, foi criada a Transportadora Aérea Nacional, a TACV. Em 1973, com um crescimento considerável de tráfego entre as ilhas, a companhia nacional adquire dois HS – 748. Em 1996, a companhia recebe o seu primeiro jacto, um B-757-200, encomendado directamente da fábrica em Seattle, nos Estados Unidos, a aeronave que rapidamente se transformou num dos símbolos/orgulho da Nação, facto que consideramos ser, a primeira revolução da aviação no nosso país. O país acabara de entrar numa grande aventura, a segunda fase de internacionalização (1ª fase, com  inicio dos voos para o Senegal em 1978) da sua aviação civil, com a sua companhia Nacional a sobrevoar céus europeus e africanos. Em 2005, a companhia Nacional, consegue a sua certificação ETOPS, atravessa o atlântico e aproxima-se da sua maior comunidade no exterior, estamos perante, a segunda revolução na história de aviação do país.

Até 2006, houve ganhos extraordinários, considerados por muitos um momento importante da história da companhia, rumo aos grandes desafios na indústria da aviação civil, pouco tempo depois (em Dezembro 2006) a administração viria a ser substituída e a empresa mergulhou numa crise sem precedentes até os dias de hoje. Esta crise de gestão que deve ser imputada directamente as equipas de gestão que passaram pela companhia, entre 2006 à 2013, deixando a empresa completamente descapitalizada, num clima laboral profundamente degradado, com perda de capital humano de grande valor estratégico e uma imagem muito desgastada (um capital intangível de grande valor que pode ser quantificado em milhares de USD).

Cabo Verde é um país arquipelágico, constituído por 10 ilhas, com uma ligação marítima ineficiente/ praticamente inexistente. É fundamental a existência de um serviço de transporte aéreo de elevada qualidade e fiabilidade uma vez que, o seu desenvolvimento ficará seriamente posto em causa, para não dizer, seria a paralisação total do país com o território espalhado no meio do atlântico.   

Assim sendo, coloca-se uma grande questão, como salvar o pássaro, num momento em que o país vive a sua maior crise financeira desta última década, que segundo o relatório do FMI, a sua dívida pública ascende os 95% do valor do PIB, agravada pela crise financeira Internacional. Com base em dados credíveis e anunciados publicamente por fontes da empresa, estima-se que o passivo acumulado da companhia Nacional ascende os 80 milhões de USD e seriam necessários de imediato, cerca de 50 milhões de USD para honrar  compromissos financeiros inadiáveis (grandes fornecedores…).

 

A têndencia  Mundial (Low fare/Low Cost)

 

Actualmente, a  tendência é para a liberalização do espaço aéreo (céu aberto). O país não pode ficar refém de uma companhia aérea, mas temos que criar alternativas, pois, contrariamente ao que se pode pensar, a liberalização dos serviços aéreos trará melhores e novos serviços, crescimento do tráfego aéreo e económico e a geração de empregos, segundo estudos realizados e publicados no Economic Air Service Liberalization. Uma medida contrária, atrofiaria o mercado e condicionaria o desenvolvimento do Turismo e do transporte Aéreo. Segundo a visão de Jurgen Habermans, “as sociedades modernas não são homogéneas e a cidadania democrática que não se fecha num sentido particularista, a qual prepara o caminho para um status de cidadão do mundo. Ou seja, a liberalização dos serviços aéreos, desde que seja de forma efectiva e sustentável, catalisará o processo de cidadania democrática através do intercâmbio cultural”.

Ora, hoje, mais do que nunca o preço das viagens é visto como um factor de competitividade das companhias aéreas e dos destinos turísticos e Cabo Verde começa a ganhar alguma notoriedade como destino Turístico com algum prestígio Internacional. A Criação de uma cultura aeronáutica/turística e de serviços exige especialização (as cidades aeronáuticas/turisticas/serviços, são cidades especiais que exige Know-How especializado em economia/ engenharia/ direito/ segurança/ ambiente) e uma visão globalizada é fundamental para o futuro das nossas cidades/ilhas, via as TICs e a aviação. A ilusão de competição entre a Praia e Mindelo é fruto do passado. Hoje, a cidade do Porto Novo compete com a cidade de Tenerife e a cidade de S. Filipe compete com a cidade da Bahia no Brasil.

A parte disto assistimos uma necessidade muito grande de gerir melhor o tráfego étnico (a nossa diáspora), normalmente tido como um segmento fiel aos símbolos nacionais e de alto rendimento. É importante um melhor enquadramento/criatividade/inovação na aproximação desse mercado as suas raízes. É fundamental uma estratégia no investimento do Turismo da 2ª e 3ª gerações, no Turismo interno e internacional) e isto só é possível com uma aposta forte nos transportes (marítimo/aéreo) e nas comunicações.

Em suma, estamos perante o maior desafio dessas ilhas. Se por um lado como país arquipelágico não podemos dispensar os transportes aéreos, por outro lado parece que manter uma companhia aérea nacional, a peso de ouro passou a ser um grande desafio/risco para essas ilhas. Como financiar eternamente uma empresa que consome milhares de USD ao Estado !!!

Podemos nesse caso concluir que nos termos do art. 15 da Convenção de Chicago, qualquer Estado signatário da referida Convenção é soberano para regular o grau de competição do transporte aéreo internacional que deseja no seu território nacional.

Mas a tendência da aviação civil mundial é a liberalização dos acessos básicos aos mercados internacionais conforme as determinações da OACI. Para a OACI, a liberalização não é danosa a um Estado, pelo contrário, a liberalização dos acessos trará maior desenvolvimento para as nações. Contudo, a OACI determina que a liberalização ocorra de uma forma igualitária e respeitando a soberania de cada Estado.

It´s time

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Autoria:João Chantre,17 ago 2013 0:37

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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