Projecto Eden Park: arquitectando o futuro

PorExpresso das Ilhas,5 mai 2014 0:00

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Em resposta a um artigo publicado no vosso Semanário, a 2 de Abril, que se pretende Manifesto contra o Projecto Éden Park, vejo, como arquitecto e idealizador do mesmo, reagir às falácias e às inverdades nele expressas, algumas das quais podem enganar os mais incautas e visam senão desconsiderar, por razões que a Razão não explica, o meu bom-nome.

Antes de mais, quero ressalvar que o Projecto Éden Park, pela forma e conteúdo que se apresenta, visa trazer uma mais-valia arquitectónica e urbanística para a cidade do Mindelo, a um tempo que salvaguarda a sua memória histórica e a sua áurea cultural, consubstanciadas no antigo edifício do Cine-Teatro Éden Park, outrora um autêntico ex-libris.

Por conseguinte, quando fui convidado para assumir responsabilidade arquitectónica do Projecto, as minhas primeiras preocupações foram estudar o perfil do espaço e conhecer toda a dinâmica histórica do Éden-Park, inferindo desta análise o potencial patrimonial (material e imaterial) que o mesmo simboliza para o Mindelo e para os Mindelenses, sendo o complexo, enquadrada na histórica Praça Nova, um dos elementos-chave do “grandeur” urbano.

Assim, considerando que o edifício estava em abandono e em ruínas, a risco de colapso total, impossibilitando no caso a sua pura reconstrução, aquiesci junto aos promotores privados do complexo, entretanto novos proprietários, sobre a necessidade de reconstituirmos a antiga traça e a fachada original do Cine-Teatro Éden Park, resgatando a linguagem arquitectónica da época e compatibilizando a restauração com o conjunto urbanístico-arquitectónico misto da Praça Nova, bem como recriando o “front” e o “lobby” de acordo com o clássico desenho, como aliás se subentendeu das várias abordagens que se fizeram com homens e mulheres, muitos dos quais profissionais da área, da sociedade mindelense. Ao edifício central, projectou-se uma aplique e uma adição transversal e recuada de estilo moderno, já orientada para a exploração imobiliária, anexo que garante não só a rendibilidade do Projecto, mas em boa parte a sustentação da dinâmica cultural e afim que se prevê para o complexo.

Ademais, e a rigor da honestidade intelectual, o edifício anexo não impacta a recriação do Éden Park, nem se destoa com o traçado patrimonial do conjunto da Praça Nova, em primeiro lugar, porque lhe fica fora do perímetro e, em segundo lugar, quando edificado, não interfere no campo visual da própria Praça, estando apartado na “rua traseira”, onde muitos edifícios contíguos têm diferentes cotas, como se depreende.

Acresce à falácia recriada, mais por mal-estar dos “regressistas de serviço”, que o Projecto fere uma eventual norma de Património Nacional que não existe, e/ou um hipotético Plano de Salvaguarda do Mindelo, que também não se conhece e que, mesmo existindo, não seria razoável impedir que a cidade, para além dos edifícios classificados e tombados, crescesse, modernizasse e construísse, a cada tempo, a sua memória.

Como arquitecto, acredito que a História se faz de três componentes temporais, quais sejam o passado, o presente e o futuro, todos complementares, não se compadecendo a anacronismos e a saudosismos paralisantes. Entendo a História com dinamismo, em que as intervenções do presente têm espaço, não só para fazer tributo ao passado, mas abrir caminhos para o devir, algo que o cidadão comum da cidade do Mindelo, cosmopolita por excelência, tem em devida conta.

A cegueira em relação ao tempo, a esconder no fundo incompetência  e mediocridade de certos profissionais que, não tendo luz própria, se refugiam nas instituições, quase sempre de forma parasitária, não conhece limites e deita mão, como no caso do alegado Manifesto, de subterfúgios para que as coisas não aconteçam. Certos profissionais, infelizmente, só vão à ribalta do teatro provinciano, localista e castiço, esquecendo-se que uma das funções da cidade é ser Pólis e, com identidade dos seus vários tempos, abrir-se ao Mundo.

O Projecto, ora sob a aprovação da Câmara Municipal de São Vicente, veio para ficar e acrescentar à cidade do Mindelo uma valência nova, resgatando a antiga, num enorme e conseguido esforço de harmonização dos tempos.

Esta polémica poderia lembrar várias outras, em paragens diversas, entre a ousadia da arquitectura e os “velhos de Restelo” dessas sociedades. Não me sai da cabeça a polémica do projecto de Óscar Niemeyer quando de Brasília ou de Le Corbusier quando do edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque. De resto, não se recordam dos dissanantes de serviço...da história não fazem falta. Nesses dois casos, entre milhares, já que a polémica também faz parte do espírito da Polis, as partes traziam argumentários de peso, o que não é bem o caso dos que contrapõe o “reerguer do Éden Park”, em pleno século XXI. Aqui, falta razoabilidade. Ou, tão-simplesmente, má-fé.

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Autoria:Expresso das Ilhas,5 mai 2014 0:00

Editado porRendy Santos  em  2 mai 2014 16:29

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