Uma das maiores fraquezas das Nações Subdesenvolvidas é a confusão romântica, profundamente encastelada nas mentalidades, entre a solidariedade e a grandeza do Estado.
O Estado e os órgãos públicos seriam naturalmente solidários. E a sociedade civil, esse milagre descoberto por Ferguson, naturalmente egoísta.
Por isso, exige-se um Estado omnipotente, “forte”, para controlar todos os passos da sociedade e introduzir, se possível, alguma racionalidade na vida das famílias e das organizações comunitárias.
É uma história antiga, e uma falácia perigosa. Com raízes em Montaigne, Rousseau e Karl Marx, esse pensamento colectivista contaminou o nosso tempo e obscureceu o debate político. Por completo.
A partir de 1917, na sequência do golpe de Estado bolchevique, muitos países caíram nessa absurda armadilha. Cuba, Coreia do Norte, Etiópia, Camboja, Venezuela de Chávez, etc., são exemplos trágicos que merecem ser recordados, na hora do balanço entre as sublimes intenções e a dura realidade dos factos.
Pobreza, ditadura e corrupção, eis o resultado de uma “filosofia” que tinha tudo para dar certo, no plano do...desejo abstracto! O que falhou, porém? O que correu mal? Tudo.
O marxismo, por exemplo, é uma teoria de governo que não contempla uma discussão prático-filosófica crucial: a discussão sobre a Natureza Humana e a sua ambiguidade.
Marx refugia-se, todavia, na magia e na crença mística.
Um belo dia, voilà!, acontece uma mudança repentina e o “comunismo” restaura, pela mudança do “modo-de-produção”, O Paraíso Perdido, como se estivéssemos num doce conto de fadas. E podemos dormir o sono dos justos.
Muito mais sábio do que a patota estatizante, Karl Popper compreendeu que as coisas são bem mais complexas, sublinhando, em A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, que os pares de conceitos individualismo/colectivismo e egoísmo/altruísmo podem ser intermutáveis.
Pois existem, notem bem, individualistas altruístas e colectivistas egoístas.
O nacionalismo racista e genocida de Adolfo Hitler é um bom exemplo de um sistema colectivista profundamente egoísta.
O Cristianismo é, por sua vez, um excelente exemplo de uma Fé individualista e altruísta.
Cristo defendeu a inalienável dignidade da pessoa humana, ou seja, de cada indivíduo, criado à imagem e semelhança de Deus. Ou não é assim?
Mas asseverou, igualmente, que a nossa vocação, na senda do transcendente e do mistério, é o Bem e a Verdade, o que nos leva decerto ao Amor e à Solidariedade, como Virtudes irrecusáveis.
A vida dos santos e sofredores é uma fonte eterna de inspiração e liderança.
Custa mais, mas tem seguramente mais valor.
Vale a pena lembrar Kierkegaard, com o seu pensar desafiante: “A angústia é a possibilidade da liberdade”.
É difícil cumpri-lo, por vezes, mas este é o único caminho aceitável. O caminho da fé, da culpa e da redenção. Do erro e da tentativa.
Há, de resto, uma inscrição genial no dólar americano: “In God we trust”.
Simboliza, julgo, três coisas essenciais: iniciativa, confiança, prosperidade.
Stephen Hawking, um físico ateu, está profundamente errado, porque descarta a nossa herança mais preciosa; julga que o átomo é mais importante que a alma humana.
Hipoteca a esperança. Recusa O Sublime.
A física, de qualquer modo, nada pode provar em questões…metafísicas.
O problema é que o nosso pessoal leu A Prática Revolucionária mas descurou, tolamente, a concisa Ética a Nicómaco.
A UNI-CV não possui nenhuma cátedra sobre Aristóteles.
O capitalismo, indiferente à falsa retórica dos seus críticos, é solidário e produz riqueza para todos.
Mais de 500 milhões de chineses saíram da miséria extrema nos últimos anos (para mais informações, ver http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/document/EAP/region/eap-update-april-2014-full-report.pdf).
A partir sobretudo da Revolução Industrial, os pobres perceberam que a miséria, que durante séculos atormentou a humanidade inteira, já não era invencível.
J. Locke, em 1697, analisou o problema da pobreza com admirável argúcia. Foram os liberais que resolveram a “questão social”.
Quando Alexis de Tocqueville viajou pela América, percebeu que algo inédito e gigantesco estava a acontecer. Uma revolução pacífica.
Havia um certo dinamismo, uma energia brilhante, num território livre que, sob uma suave legislação, protegia, afinal, a liberdade de empreender. The First New Nation.
As pessoas criavam associações de todos os tipos, produziam bens, exploravam novas possibilidades, tornando a vida mais alegre e confortável.
Carlos Slim Helú é um multimilionário, e um dos homens mais ricos do planeta.
É um individualista, porque acredita na liberdade do indivíduo e na capacidade criativa do ser humano. Que é especial, e único.
Mas é também, e sem qualquer contradição, um altruísta, capaz de ajudar os outros e doar milhões de dólares para a erradicação de doenças no mundo. Quem faz isso entre nós?!
Sam Walton fundou o grupo Wal-Mart e vendeu produtos cujos preços favoreciam os mais pobres.
A famosa escola de Harvard é sustentada, em boa parte, por donativos voluntários dos seus antigos alunos. Quando o Estado se arvora em detentor exclusivo da solidariedade, acaba por sufocar a sociedade e destruir toda a forma espontânea de solidariedade.
Num sistema político em que o ser humano é desprezado e instrumentalizado impera, na verdade, o mais vil egoísmo e a maior chaga social: a desumanização do Homem, ao serviço de utopias irracionais e da força bruta da classe dirigente.
A “esquerda”, que possui, estranhamente, o monopólio da bondade universal, nunca compreendeu este ponto. O Estado não deve ser confundido com a virtude. Jamais.
Os representantes do Estado, muitas vezes, não passam de burlões, corruptos, assassinos, estúpidos, ditadores, negociantes, psicopatas e ladrões. Privatizam tudo. (Mesmo entre nós, figuras grotescas, que antes torturavam pessoas, são hoje PCAs de empresas públicas e auferem salários astronómicos sem resultados palpáveis).
Estaline, Hitler, Fidel Castro, Bokassa, Pol Pot, Abacha, Saddam Hussein, etc., são óptimas amostras dessa corja desprezível que a humanidade, num fabuloso momento de descuido, produziu...
O Estado, se não for limitado, é mesmo “o mais frio de todos os monstros”. Em Cabo Verde consome, neste momento, cerca de metade da renda nacional.
Suga-nos até ao tutano. Emperra o desenvolvimento. Nietzsche estava certo.
Ou domesticamos a fera ou ela estraga-nos definitivamente o futuro.