O preço da eletricidade, pago pelo consumidor Cabo-verdiano é expresso em CVE/kWh (devendo ler-se escudos por quilo watt hora). Para um projeto de geração de eletricidade seja ele com recurso a combustíveis fósseis, ou a energias renováveis, o custo total de produção da eletricidade obtém-se através da soma dos seguintes custos:
Do capital inicial a ser investido;
As despesas de operação e manutenção;
Preço do combustível;
Outros custos administrativos, etc;
Se dividirmos esta despesa pela eletricidade gerada, obtemos o Preço da eletricidade gerada naquelas condições, ou seja, quantos Escudos tivemos que gastar para produzir aquela unidade de energia, traduzida pela seguinte expressão:
Watt, é a unidade que representa a potência de um equipamento elétrico. E o termo Watt hora é designado de energia, neste caso a energia produzida pelos geradores elétricos e não só.
Para clarificar o conceito de potência e energia vamos recorrer a um exemplo. Um típico secador de cabelo lá de casa pode consumir 1 000 W de eletricidade (este é a potência do equipamento). Se alguém estiver a usar o secador e usá-lo de forma contínua durante uma hora, nós podemos dizer que ao fim de uma hora consumiu-se 1 000 Wh, ou seja , ou então 1 kWh de energia elétrica. Algures na rede elétrica teremos um gerador que estará produzindo esses 1 000 Wh e toda um sistema que me faz chegar até a minha casa essa eletricidade.
Em 2012 a Electra (em relatório desse ano) produziu aproximadamente 330 GWh de eletricidade (330 000 000 kWh). As energias renováveis produziram 68 GWh e a restante eletricidade foi produzida a partir de combustíveis, 262 GWh. Segundo esse mesmo relatório por cada kWh produzido eram necessários 223 gramas de combustível (média entre o fuel óleo e o gasóleo), ou 0,223 kg/kWh (devendo ler-se quilograma por quilo watt hora, fonte: relatório de 2012). Assumindo que a utilização de combustíveis fósseis manteve-se inalterável podemos calcular o custo de produção de cada quilo watt hora para este mês de Abril de 2015, se multiplicarmos 0,223 por 262 000 000 kWh obtemos um consumo de combustível aproximado de 58 milhões de kg. Nesse ano a percentagem de fuel 180, fuel 380 e gasóleo para a produção de eletricidade foi de 63, 13 e 24%, respetivamente.
Multiplicando o preço dos combustíveis [fuel 180 – 53,9 escudos/kg (fonte: ARE, Março de 2015); fuel 380 – 45,9 escudos; preço do gasóleo – 75,81 escudos] pela percentagem de combustíveis utilizados e pela quantidade total de combustíveis consumidos, teremos um custo anual, ou seja, 58 000 000 x (53,90 x 0,63 + 45,90 x 0,13 + 75,81 x 0,24) = 3,371 milhões de contos (3 371 milhões de escudos, ou 30,6 milhões de euros). Dividindo esses 3,371 milhões de contos por 262 milhões de kWh, obtemos um valor de 12,87 escudos/kWh, este valor quer dizer que por cada kWh de eletricidade que se produz em Cabo Verde gasta-se 12,87 escudos só em combustíveis. Se assumirmos que a manutenção e operação das centrais térmicas bem como outros serviços são 20 – 30% do preço dos combustíveis e fazendo 12,87 x 1,3 (onde 1 corresponde a 100% do combustível e 0,3 (30%) a manutenção, operação e outros custos) obtemos 16,73 escudos/kWh (0,15€/kWh), este valor diz-nos que a Electra despende 16,73 escudos para produzir cada kWh de eletricidade nas suas centrais, valor este que é bem abaixo do preço cobrado pela mesma ao consumidor neste mês de Abril, 37,89 CVE/KWh (fonte: ARE, consumidores do 2º escalão até 60kWh).
É claro que os cálculos efetuados no parágrafo anterior possuem algumas incertezas, pelo que os cálculos feitos não devem ser levados a letra, devendo ser encarados como um exemplo muito aproximado a realidade. De referir que não haviam dados de consumo de 2014, pelo que não foram feitos cálculos com dados mais recentes. O consumo de eletricidade nas ilhas de Boavista e Sal não foram contabilizados por não haverem dados.
Ora se um dos termos que dita o preço da eletricidade é o custo do combustível, é lógico pensar que se o preço do mesmo baixar, a energia produzida custará menos ao consumidor final, certo? O gasóleo e o fuel óleo utilizado nas centrais elétricas da Electra são obtidos a partir da refinação do petróleo bruto, e nós temos vindo a acompanhar a descida dos preços ao longo destes últimos meses (bateu todos os recordes em 2008 chegando a 147 dólares, e em Julho de 2014 ultrapassou os 100 dólares por barril estando agora a ser vendido por 50 dólares, Abril de 2015). Se baixa o preço do combustível deveria baixar o preço da eletricidade em Cabo Verde, uma vez que quase 80% (79,1%, fonte: Electra, 2012) da eletricidade produzida em Cabo Verde é produzida a partir de centrais ditas convencionais ou que utilizam combustíveis fósseis. Convenhamos dizer que as mudanças não se fazem sentir em Cabo Verde de forma automática, mas já era de se esperar algumas mudanças uma vez que, já passaram mais de 6 meses desde que os preços entraram em queda livre.
A eletricidade não deverá ser o único bem que sofrerá uma baixa de preço, outros bens e serviços dependem igualmente dos combustíveis e já deveriam estar com menores preços. A esta altura do campeonato, já deveríamos ter verificado uma diminuição do preço dos bilhetes dos transportes (aéreos, marítimos e terrestres), e noutros bens e serviços da nossa economia, mas não é o que se verifica.
De quem é a culpa? Deverá o povo Cabo-verdiano pagar pelos erros dos nossos gestores públicos nas áreas da energia? Porque é que ao longo deste tempo que já passou o governo parece imóvel e não informa o consumidor destas alterações sentidas? Para quando uma redução de preços nos bens e serviços dependentes de forma direta e indireta dos combustíveis, principalmente os preços da eletricidade? A patente desorganização das empresas do ramo da eletricidade é bem visível na nossa Electra, uma vez que esta (estamos em Abril de 2015) ainda não apresentou os relatórios anuais de 2013 e 2014.
A descida dos preços dos combustíveis também possuí um efeito nefasto no clima terrestre, uma vez que estando o preço dos combustíveis a decrescer de forma abrupta e indeterminada, a queima de combustíveis fósseis aumenta a quantidade de gases de efeito estufa emitidos pelo homem. O que apresenta um sério risco para a sobrevivência das gerações vindouras, devido ao aumento da frequência de fenómenos climáticos extremos (tempestades, secas, etc) causados pelo aumento do dióxido de carbono e outros gases na atmosfera terrestre.
As energias renováveis também são penalizadas com a diminuição dos preços do petróleo uma vez que, quando baixa o preço do petróleo, fica mais barato produzir eletricidade a partir do petróleo, do que a partir de fontes renováveis. De referir também que devido a diminuição contínua do LCOE (Levelized Cost of Energy) das principais tecnologias renováveis (eólico e solar) o impacto não se prevê ser tão significativo (por exemplo em Portugal já foram negociados parques eólicos com LCOE’s a volta dos 70€/MWh ou seja 7,7 escudos/kWh).
É justo e correto que o povo Cabo-Verdiano seja informado e que não lhe seja cobrado um preço exorbitante na sua fatura mensal de eletricidade, bem como outros bens e serviços. É necessário uma mudança e um acordar do povo de Cabo Verde de forma a exigir uma eletricidade de qualidade e com preços que refletem o estado de arte das coisas.