Santo Antão projectada no Mundo

PorJoão Chantre,17 nov 2015 6:00

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Se quiser testemunhar o que a arquitectura é capaz de sonhar, é melhor visitar Dubai. Se quiser encantar os seus bonitos olhos com a natureza uma vez na vida, visite a Ilha das Montanhas. Se quiser ser culto, respeita a cultura alheia, coloca uma mochila às costas e viaje pelo mundo e traga pelo menos duas fotografias gravadas na mente.

 

O horizonte!

Com uma área de cerca de 779km², “a ilha não tem nada, nem gente, nem condições de desenvolvimento”, rematou a minha amiga e outros amigos na Mercearia Andréa, um novel espaço comercial na capital que foi ao passado buscar inspiração para o futuro. Acredito que esta amiga seja razoavelmente bem formada, tanto assim é que passou por uma das mais prestigiadas universidades da Europa, a vossa Coimbra. E como um dos meus veio de lá, e de parvo não tem nada, acredito que tenha razões para esse orgulho. Dizem da vossa verdade! Eu apenas passei lá duas noites no famoso Réveillon Universitário Coimbrão. “Nice, but”, o frio era tanto que, depois de passar duas noites encolhido, saí de lá a correr. Ficou-me na mente o registo das escadarias.

 

O Nada que pode ser tudo!

Tudo depende de nós. Por não ter nada, tem tudo. Esta é uma das condições primordiais que está na base do desenvolvimento, se levarmos em conta que o desenvolvimento está na mente. Começo a perceber que as palavras/conversas apesar de serem úteis e agradáveis, voam, mas a escrita fica, louca ou impura, carregada de razão ou de inculturalidade, repousará tranquilamente num arquivo sossegado de alguma pessoa ou instituição, até ser um dia resgatada para o bem ou para o mal.

Dito isto, estão todos convidados para esta belíssima viagem e espero que seja esta a vossa viagem de sonho. “Cabin crew, ready for take off”:

Santo Antão encanta o mundo com a sua imponência, cativa pela sua beleza bruta, natural, viril e afrodisíaco. Impressiona a todos com as suas altas montanhas e vales profundos. As montanhas comunicam em silêncio para quem os oiça e faz o homem sentir-se impotente perante tanta robustez, mas protegido perante tanto conforto. A impotência é reconvertida em doses de energia magnética, no vale da Ribeira da Torre, em frente ao lombo de pico, uma relíquia natural, candidato a património mundial da humanidade.

Reza a história que uma princesa francesa ter-se-ia curvado perante o pico e o pico tornou-se o príncipe das senhoras. Reza ainda a história que a princesa teria chegado ao vale por via de um helicóptero, abortou a aterragem por duas vezes, subiu, voltou a descer e por ter chorado o pico, desapareceu para sempre…e por isso o trabalho do grupo Cordas do Sol, “Na montanha”, faz todo o sentido. É a única música que faz tremer as montanhas e injecta doses de alegria em qualquer palco deste planeta. Trata-se de um grupo, mas é sempre ele (Arlindo) que faz arrancar o boi, só que desta vez conseguiu arrancar a carruagem das montanhas. Ele é um combinado de um ser sábio e dócil, uma espécie particular na ilha que precisa ser conservado, estudada, expandida e exportada, para que este mundo seja mais humano, mais responsável e mais sério. Seriedade não tem nada a ver com regabofe, festa é festa…

Como se não bastasse, a ilha respira pureza ambiental e felicidade, um património que a humanidade procura resgatar a todo o custo. E como os lugares são feitos pelas suas gentes, estes adoram receber e escancaram as suas portas para os bons cristons, despido da filosofia moderna que nenhum almoço é gratuito…Aliás, tentar retribuir esta Morabeza como compensação é ofensiva. Isto faz parte da cultura, do património, dos valores profundos e inegociáveis da ilha que precisam ser preservados enquanto é tempo. 

 

A Cidade do Porto Novo

No séc. XVI o mar era a única estrada que possuíamos e por isso as estradas da ilha são autênticas obras de arte. Toda a gente as vê mas ninguém se interessa em compreender a sua feitura. A Cidade do Porto Novo na parte Sul da ilha é o espaço urbano mais nobre e com maior capacidade de expansão horizontal e ascendente que o arquipélago possui. Algo desafiante para qualquer urbanista. Podemos até não aceitar, mas é assim de facto. “Digam-me como está Porto Novo”, inquiriu o meu pai antes de morrer. Há 50 anos ele já sabia o que poderia ser a Cidade do Porto Novo. Se calhar eu sei, mas não o consigo transmitir: todas as vezes que tento projectar as imagens que carrego comigo, tratam-me por utópico. Apenas um dos presidentes que passou pelos Paços do Concelho do Porto Novo tentou descolar a nave. Esteve quase a descolar a sua maravilhosa cidade com ajuda do Investimento Directo Estrangeiro, em 2007, quando o capital abundava no mundo e o custo do dinheiro era relativamente barato. Hoje o custo do capital é caro e a torneira financeira encontra-se fechada por algum tempo.

Outros tempos, outras oportunidades. Actualmente com a escassez de capital, bastava que os portonovenses apostassem numa arquitectura florestal urbana inspiradora, e criassem uma cintura verde e limpa (energia renováveis) e políticas públicas inovadoras, uma das melhores apostas para o mundo novo.

Porto Novo seria uma das poucas cidades verdes no mundo e por ser uma das primeiras, iria atrair Investimentos Directo Estrangeiro e um nicho de turismo especializado para conhecer e estudar a sua experiência. Havendo investimentos certos, geridos por gente seria e capaz, com visão económica, a cidade poderia marcar pontos para os desafios do futuro. Depois de tudo isto, a minha amiga iria de novo contra-argumentar dizendo, ‘mas o problema continua, o problema do mercado’. Cara amiga, o problema do mercado já não se coloca neste prisma, o mercado hoje é o mundo, e o mundo somos nós que o vamos buscá-lo. E quando decidiram vir, chegam pelo mar e pelo ar.  Quer se acredite, quer não, é esta a filosofia de base. E como sei que tem olhos bonitos, daqui a uns anitos irá dizer para o seu descanso e orgulho, ‘o meu amigo acertou/falhou’. Esperemos que tudo isto seja verdade, mas para que se torne verdade e para que os todos os nossos sonhos deste mundo sejam realizados, teremos que sonhar, decidir no momento certo, sem perder tempo, com a dose correta de burocracia e colocando o interesse do país acima dos interesses pessoais. As oportunidades voam, e uma asa voa, voa…

Em suma, a ilha continua a encantar os olhos atentos deste globo, e Fontainhas, segundo a National Geografic, é segunda aldeia mais vistosa do planeta.

Segundo o Prof. Leão Lopes, a Baía do Porto Grande foi considerada uma das mais belas do mundo pela combinação e protecção da ilha irmã que está aproximando-se lentamente.

A ilha em si é uma obra de arte e mexer em qualquer obra de arte requer regras e talento. Como se disse há dias no Parlamento, o problema está no mercado, ai se o mercado falasse, diria – adxe bsot ka bem bscame agora bsot ti ta reclama…a história repete-se. It´s time…

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Autoria:João Chantre,17 nov 2015 6:00

Editado porRendy Santos  em  13 nov 2015 13:43

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