A campanha foi aquilo que se viu: pobre de discurso e sem estratégia. O único elemento era a ânsia de ganhar como se tal fosse possível com tanta falta de senso. Aliás muitas vezes ficamos com a sensação que para alguma gente ser líder do PAICV não era mais do que um meio para se atingir um fim há muito ambicionado: ser Primeiro-Ministro de Cabo Verde.
Portanto o pós-eleições internas, todo o ano de 2015 e o período pré-eleitoral serviram apenas para demonstrar que estávamos perante um novo PAICV, sem valores e sem causas, um PAICV de prebendas e sem maturidade para continuar a liderar o processo de desenvolvimento deste País.
E, independentemente de ponderosas razões explicativas desta derrota do PAICV e sem descurar o grande mérito do MPD, designadamente na forma como preparou e realizou a comunicação com os eleitores, há um elemento que não pode ser escondido: a nova liderança do PAICV foi rejeitada.
Que PAICV na oposição?
Nas sociedades democráticas um governo terá a sua performance melhorada quanto melhor fôr também o desempenho da oposição. E aqui reside a minha dúvida. Olhando para a bancada da oposição e sabendo da praxis política própria desta nova liderança duvido que nesta nova legislatura o governo de Ulisses Correia tenha uma oposição á altura. E isso, quer se queira quer não, não deixa de ser um mau presságio para a nossa jovem democracia.
Os episódios que vão sendo conhecidos sobre a gestão egocentrica e quase ditatorial que a nova líder vem fazendo dentro do seu partido faz antever um período dificil na vida do PAICV. A prova está aí: a ideia mirabolante em ser-se também lider parlamentar em mais um episódio do quero, posso e mando, ideia essa que irá prejudicar sobremaneira o desempenho da oposição e do partido de uma forma geral. Aliás, é sintomático que até hoje não se viu nenhuma declaração de algum deputado tambarina aprovando esta ideia, mesmo aqueles que são seus indefectíveis apoiantes.
Mas nada disso é estranho. Infelizmente desde a sua eleição que esta nova líder fez tudo como quer e sempre de forma autoritária afastando compulsivamente todos aqueles que ousam pensar pela própria cabeça e agora, amarga o pão que amassou. E não deixa de ser de uma heresia incomensurável ouvir esta nova liderança citar Amílcar Cabral como fez recentemente numa entrevista à Televisão, sabendo ela que este seu PAICV nunca esteve tão distante da teoria e da prática do pensamento do fundador da Nacionalidade.
Que ninguém tenha dúvidas: da forma e magnitude com que o povo destas ilhas rejeitou esta nova liderança, ou o PAICV regressa depressa aos valores que sempre nortearam a sua prática, ou seja uma liderança que possa despender esforços no sentido da construção da unidade e coesão, ou então assistiremos a uma longa travessia do deserto que não saberemos quantas legislaturas poderá durar. O MPD, claro, agradece!
Quanto ao novo Governo ele aí está, pequeno conforme o prometido e com um programa económico ambicioso, em consonância com a esperança dos caboverdeanos e a absoluta necessidade que se tem de tirar o País deste marasmo económico. Quer-se uma nova dinamica para o sector privado e uma aposta segura no investimento directo estrangeiro como alicerces do crescimento económico e do emprego. Isso só é possivel com trabalho, muito trabalho pelo que independentemente da fasquia ser elevada, entendo que as “cobranças” a serem feitas e para serem consistentes devem permitir tempo ao novo governo para implementar a sua agenda. Nesta hora di bai é impossível não se sentir saudades de governantes que muito se empenharam nos seus postos como a Sara Lopes, Leonesa Fortes ou António Correia e Silva. Estes são bons governantes em qualquer parte do mundo. Mas os tempos são outros e tenho também fortes esperanças em como Janine Lélis, Fernando Elísio ou Olavo Correia serão bons governantes que encherão os caboverdeanos de orgulho!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 752 de 27 de Abril de 2016.