“Que uma nova era comece!” - Nelson Mandela
O povo votou mudança. Logo uma nova esperança paira sobre os céus e os mares destas ilhas atlânticas. Um dos grandes activos dessa mudança é, sem dúvida, o programa do governo. Um programa ousado, ambicioso e virado ao mudo. Não existe utopia, apenas uma visão realista. Finalmente! Se conseguirmos o objectivo, Cabo Verde será um país moderno e de oportunidades. A mudança de paradigma é isto: uma nova atitude que passa por uma aposta qualitativa e significativa na Educação e no posicionamento do país no mundo. São estas as boas práticas que existem a nível mundial. Se confinarmos as nossas fronteiras, as fronteiras da ilha do Sal e da Capital, a nossa importância no mundo é insignificante. Se alargamos as nossas fronteiras à dimensão global, abriremos as janelas do mundo e a história volta a repetir-se. Small is beautiful. Mas que dimensão queremos atingir!
O papel de Cabo Verde no mundo
Em 1460, fomos descobertos e logo de seguida viramos o epicentro do mundo, com um papel importante no tráfego de escravos e distribuição de mão-de-obra no mundo. Desde 2008 ou se calhar um pouco antes, temos sido referenciados pela negativa/postiva como um interposto de tráfego/combate de droga entre a América Latina e a Europa. O grande desafio deste governo é converter esta ameaça em oportunidades. Segundo o Prof. Adriano Moreira, “no começo do século XXI com um mundo sem bússola em que vivemos e com a desordem internacional existente”, nada é dado como certo. A nossa força está nas nossas gentes, no nosso mar, no nosso sol, na nossa autenticidade, na nossa estabilidade política e na nossa credibilidade internacional. Porém, o nosso avanço no mundo terá que ser via nossas janelas: a nossa diplomacia, a nossa diáspora e a nossa ligação com o mundo. Para conseguirmos este objectivo teremos que definir uma estratégia clara sobre a nossa Diplomacia no mundo, o papel de cada uma das nossas embaixadas (MNE & a TACV) e teremos que traçar o perfil dos nossos embaixadores (MNE & a TACV) no mundo.
O Take Off
A segurança é o garante da credibilidade do país e a economia e a reforma da AP (Administração Pública) assumem-se como epicentro do take off. Temos que reformatar-nos, temos que produzir, temos que impulsionar as reformas necessárias na AP, temos que crescer, porque temos que promover emprego num mundo onde se prevê que a tecnologia tende a eliminar cerca de cinco milhões de postos de trabalho num espaço de cinco anos no planeta. A nossa virtude está na nossa criatividade. Sabemos que para crescermos temos que poupar e investir. E uma das formas de financiamento da economia passa pelo IDE (Investimento Directo Estrangeiro), a aplicação correcta dos fundos da Diáspora, o papel do sistema financeiro nacional e a dinâmica e a credibilidade do sector privado nacional. Se o primeiro contribui para o crescimento económico e promove emprego, o segundo garante a sustentabilidade da economia. O momento é de ouro e haverá chuva de oportunidades. Tanto assim que a Sra. Carmen Riu, conselheira delegada da Riu Hotels & Resorts, um dos maiores investidores estrangeiros do país, foi peremptória na sua entrevista ao jornal Expresso das Ilhas, nº 757 de 31 de Maio. A mudança trouxe esperança, vamos continuar a investir.
O sector do Turismo tende a crescer exponencialmente e brevemente pode atingir a cifra de 1 milhão de turistas ao ano. Atingindo esta meta, o caminho fica mais facilitado. Nada que o sector privado nacional ou personalidades ligadas ao sector não tenham diagnosticado, mas nas questões económicas nada melhor que a confiança. E se queremos avaliar a confiança, convém avaliá-la junto de quem investe o seu dinheiro no nosso país.
Ora, sendo o turismo uma indústria planetária e muito sensível, é fundamental o nosso desapego da filosofia romântica de gestão dos dossiers complexos do Estado. Ao invés, é urgente criar uma filosofia com enfoque no cliente final, na segmentação e diversificação do turismo, no Marketing digital e numa boa gestão ambiental. O Sr. Christian Chammas, CEO da Vivo Energy África, em entrevista (EI, número 758 de 8 de Junho de 2016) reforça a sua confiança: “Em Cabo Verde o ambiente de negócios não era muito amigo dos investidores”. Este senhor veio no fundo agradecer o novo governo mas quando o faz, traz confiança às ilhas e espalha-a na comunidade Económica Internacional. No fundo apela à Comunidade Económica Internacional a olhar para estas ilhas: um grande Marketing no mundo dos negócios. Aliás, a sua entrevista é brilhante e tem muitos ensinamentos. Recomenda-se como leitura obrigatória sobretudo na pesada máquina burocrática da AP e na comunidade universitária. Os futuros quadros e dirigentes desse país devem recortar a entrevista, guardá-la e dissertar sobre várias matérias que ele abordou e que temos vindo a focar. No mundo universitário a melhor coisa que poderíamos fazer seria mudar o nome das Escolas de Gestão e Administração para Business School. E criar uma Busniss School de Elite, em língua inglesa. Se esta visão encontrar espaço, a médio e longo prazo transformaremos as nossas mentes burocráticas em business minds. Procura-se e recomenda-se…afinal o que conta é o serviço e o cliente. Vender é uma arte e uma paixão, se quisermos vender, prestar serviços de standard internacional e competir na aldeia global teremos que despir a máscara dos preconceitos e reforçar a cooperação universitária com os Estados Unidos, Europa, Brasil, China e África.
Landing
Se investirmos na cultura do serviço e de negócio, se apostarmos fortemente na língua inglesa, a língua universal e outras e se resgatarmos a nossa Morabeza, o caminho fica facilitado rumo à felicidade e ao bem-estar da nossa gente. Nelson Mandela foi sobretudo um grande humanista e vejamos: “A morte é algo inevitável. Quando um homem fez algo que considera seu dever com as pessoas de seu país, ele pode descansar em paz”. Por isso não se deve confundir o papel do Estado com o papel do sector privado. O equilíbrio é fundamental e traz confiança, a chave de ouro de qualquer ambiente de negócio.
Em suma, “aqueles que se comportarem com moral, integridade e consistência não precisarão temer as forças do desumano ou da crueldade”. A bola está do nosso lado, as sementes estão lançadas, resta trabalharmos para uma boa colheita. A cada recuo na nossa performance económica, corresponde ao sucesso dos nossos concorrentes, as Maurícias, Madagáscar, as ilhas Canárias e as Seychelles. Somos todos ilhéus. O sucesso destas ilhas passa pela atitude individual de cada cabo-verdiano, pela organização e fiscalização do poder local, do ordenamento do território e da nossa relação com o mundo. Se queremos perspectivar o futuro teremos que visitar o ilhéu de Santa Maria antes da última despedida. O mundo vai aqui descer. A etapa seguinte será optar entre o crescimento e o desenvolvimento económico, aquilo que na gíria económica moderna se entende por crescimento sustentável. Repare como é maravilhoso o take off de um A380! It´s time…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 759 de 15 de Junho de 2016.