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Os Jogos Olímpicos de Paris serão celebrados de 26 de julho a 11 de agosto e prometem ser um evento marcante depois de 124 anos, após os Jogos Olímpicos de Paris de 1900. Caso estivesse ainda vivo, o célebre Barão Pierre de Coubertin, o fundador dos Jogos Olímpicos modernos, teria certamente sentido grande orgulho em ver pela segunda vez os Jogos Olímpicos regressar a Paris.
A cerimónia de abertura foi um evento espetacular e inovador, embora não sem alguma controvérsia. Para começar, foi a primeira vez na era moderna do Jogos Olímpicos que a cerimónia de abertura foi realizada fora de um estádio, e envolvendo uma cidade toda. O ponto central da cerimónia de aberta foi em torno da Torre Eiffel, a qual serviu de farol central para banhar de luz a Cidade das Luzes. A cerimónia refletiu a rica cultura e história da França, bem como os altos valores olímpicos de paz, amizade e excelência da prova humana, embora não sem alguns aspectos pouco convencionais e algo exagerados como sejam a paródia religiosa da última ceia e a faceta de inclusividade exagerada, entre outros, que não agradaram a muita gente. Porém, neste breve artigo vamos focar em aspetos mais fatuais e menos subjetivos, como sejam os aspetos numéricos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Os Jogos Olímpicos de Paris marcam a XXXIIIª Olimpíada da era moderna, depois de ser ressuscitado na Grécia em 1896 pelo seu patrono francês, o Barão Pierre de Coubertin. A celebração dos Jogos Olímpicos modernos retomou a tradição da Grécia antiga, volvidos mais de 1.500 anos após a sua proibição pelo Emperador Romano Teodósio I, em 393 D.C. Antes dessa data, os Jogos Olímipicos eram celebrados em Olímpia, Grécia, a cada 4 anos, durante cerca de 1.669 anos, isto é de 776 A.C. até a sua proibição em 393 D.C. É dificíl encontrar evento semelhante mais marcante, celebarado pela Humandidade que perdurasse tanto tempo!
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 durarão 16 dias e contam com 10.500 atletas de 206 países de todo o Mundo, representados pelos respetivos Comités Olímpicos Nacionais. Entre estes, figura também o Comité Olímpico de Refugiados que, desde os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro em 2016, representa um contigente de atletas apátridas nos Jogos Olímpicos. A maior delegação de atletas virá dos Estados Unidos dea América com cerca de 600 atletas e, a menor, virá de Nauru, com apenas um atleta na modalidade de atletismo. Desta vez, Cabo Verde será representado por quatro atletas em modalidades como esgrima, judo e natação.
Trinta e duas modalidades desportivas são previstas no programa olímpico, incluindo novos eventos desportivos como sejam breaking (dança de rua), representada pela primeira vez. Os eventos decorrerão em 38 locais de competição, incluindo estádios, arenas e locais históricos. A vila olímpica, construída em Seine-Saint-Denis, ao norte de Paris, acomodará cerca de 14.000 pessoas, entre atletas e oficiais.
Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, serão disputados aproximadamente 329 eventos, o que significa que serão concedidas 329 medalhas de ouro e igual número de medalhas de prata. Como cada evento também premeia atletas com medalhas de bronze, o número total de medalhas a serem distribuídas pode variar de mais de 980 até um máximo de cerca de 1.300, na base de distribuição padrão de ouro, prata e bronze. De forma desagregada e variando de acordo com a atribuição de medalhas de bronze, estima-se que haverá 329 medalhas de ouro e 329 medalhas de prata, uma cada, para cada evento. Quanto às medalhas de bronze, a contagem é mais complexa pois o total pode variar de 329 a 658. Normalmente, em desportos individuais e de equipa com formato eliminatório, são concedidas duas medalhas de bronze por evento. Isso acontece em desportos como boxe, judo e outros que têm duas semifinais com vencedores avançando para a competição final e os perdedores ganhando a medalha de bronze. Em desportos com apenas uma disputa de terceiro lugar (como muitas modalidades de atletismo e natação), apenas uma medalha de bronze é concedida.
Nos Jogos Olímpicos de 2024, haverá um equilíbrio de género mais acentuado, com uma distribuição igual de eventos para atletas masculinos e femininos, conforme o movimento olímpico tem promovido nos últimos ciclos olímpicos. Estima-se que a distribuição de medalhas por género será metade, metade para eventos masculinos e eventos femininos, isto é, cerca de 164 a 165 para cada género. Haverá também um número crescente de eventos mistos, onde homens e mulheres competirão juntos ou em equipas mistas. Isso inclui eventos em modalidades desportivas como natação, atletismo, tiro ao arco, entre outros. A quantidade exata de eventos mistos pode variar, mas estima-se que sejam em torno de 20 a 30 eventos, devendo as medalhas de ouro, prata e bronze serem atribuidas proporcionalmente.
Outro aspeto imporante dos Jogos Olímpicos diz respeito os custos financeiros que tendem a aumentar com cada Jogo Olímpico, embora tenha havido casos de custos exorbitantes na organização de Jogos Olímicpos anteriores. O certo é que para se concorrer hoje como cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos, o tesouro público tem de ter condições e estar disposto para garantir bilhões de dólares americanos para custear os Jogos Olímpicos.
O orçamento estimado dos Jogos Olímpicos de Paris prevê um montante de US $8.0 bilhões, sendo cerca de $4,1 bilhões para infraestruturas e cerca de $3,9 bilhões para operações. Porém, este valor parece pouco realista a julgar pelos custos de Jogos Olímpicos recentes, estimando os estudiosos na matéria, que o valor final de financiamento poderá atingir quase o dobro, entre trabalhos a mais, gastos extraordinários e imprevistos. Recorda-se que os Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, cujo orçamento incial era de US $2.9 bilhões, acabou por custar ao erário público da Grécia a volumosa soma de US $15.0 bilhões, ou seja, mais de cinco vezes o orçamento incial, valor esse que mergulhou a Grécia em crises económicas sucessivas que já duram duas décadas! A título de exemplo, estima-se que os Jogos Olímpicos de Tokyo de 2021, que decorreu em plena pandemia de Covid-19 e por isso, ter sido os únicos Jogos Olímpicos virtuais - sem espetadores, teriam custado entre US $15.4 a $20.0 bilhões, estando o valor final ainda por apurar. Os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro de 2016, custaram cerca de US $13.1 bilhões. No caso de Londres em 2012, a factura rondou os US $15.0 bilhões. Porém, a fatura mais alta vai para os Jogos Olímpicos de Beijing em 2008 que teriam custado entre US $40.0 a $44.0 bilhões. Assim, os últimos 10 Jogos Olímpicos custaram sempre largos bilhões de USD. A singular exceção, foram os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, que o autor teve a subida honra de participar na sua organização, que custou apenas US $546 milhões, tendo ainda deixado um resultado positivo de cerca de US $250 milhões! Assim, dos dados financeiros conhecidos, todos os Jogos Olímpicos têm deixado prejuizos financeiros, com exceção dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984. Depois de Paris, os próximos Jogos Olímpicos serão celebrados de novo em Los Angeles, Califórnia, em 2028. Embora não seja descabido deixar resultado financeiro positivo também em 2028, não se cogita um retorno de quase 50%, como foi o caso em 1984!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1183 de 31 de Julho de 2024.
