Portugueses revelam segredos da cor da pele e dos olhos

PorExpresso das Ilhas,26 abr 2013 15:37

Uma equipa internacional liderada por cientistas portugueses descobriu novos genes responsáveis pela variação da cor da pele e dos olhos nos africanos e europeus, depois de estudar a população de Cabo Verde.

Novos genes que explicam a variação da cor da pele e dos olhos nas populações africanas e europeias foram descobertos por uma equipa internacional liderada por cientistas portugueses.

Os cientistas estudaram a variação da pigmentação em 699 pessoas de Cabo Verde  e analisaram cerca de um milhão de marcadores moleculares por cada pessoa estudada. Um artigo com os resultados desta investigação acaba de ser publicado na revista científica de referência mundial PLoS Genetics, sendo o tema de capa da publicação.

A equipa internacional é composta por investigadores do CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Universidade do Porto), Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), Universidade de Cabo Verde, Universidade de Stanford (EUA), Hudson Alpha Institute for Biotechnology (EUA), Gregor Mendel Institute (Áustria) e Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA).


Grande avanço na compreensão do determinismo genético

 

Nuno Ferrand, diretor do CIBIO, afirma ao Expresso que os resultados do estudo representam "um excepcional avanço na compreensão do determinismo genético da cor da pele e da cor dos olhos, talvez as mais relevantes características fenotípicas da espécie humana".

As características fenotípicas são as características observáveis de uma população, como a sua morfologia, desenvolvimento, propriedades fisiológicas ou bioquímicas e comportamento.

Elas resultam da expressão dos genes do nosso organismo, da influência de factores ambientais e da relação entre ambos. A expressão de um gene é o processo através do qual a sua informação é usada para sintetizar as proteínas e outros produtos funcionais.


Muitos genes envolvidos na cor da pele

 

Jorge Rocha, investigador do CIBIO que liderou o estudo, explica que a sua equipa descobriu também que "há muito mais genes envolvidos na cor da pele do que os cientistas pensavam; e a partir dos quatro genes que descobrimos e validámos, conseguimos explicar 40% a 50% da variação total da cor da pele nas populações africanas e europeias".

Na cor dos olhos tudo é mais fácil, porque foram identificados dois genes que explicam quase todas as variações entre o azul e o castanho.

A equipa internacional de cientistas descobriu também que há genes que explicam ao mesmo tempo a cor da pele e dos olhos, mas o regulador que controla um determinado gene na íris é diferente do regulador que controla esse gene na epiderme.


Desfazer as relações históricas

 

"Esta descoberta desfaz as relações históricas ou temporais existentes entre a cor dos olhos e a cor da pele e concentra a investigação nas relações biológicas e químicas", esclarece o investigador do CIBIO.

Uma dessas relações históricas, muito popular entre a opinião pública, é a que associa os olhos azuis às populações de pele clara do norte da Europa, quando "a realidade é queem Cabo Verdehá pessoas de pele escura com olhos azuis". E é precisamente esta recombinação "que torna muito interessante o estudo da sua população".  

A explicação dos cientistas para este aparente paradoxo é que as populações ancestrais do norte da Europa tinham os olhos escuros quando a sua pele já era branca, havendo mais tarde uma mutação genética no regulador da íris surgida por acaso, que gerou olhos de cor azul.

O artigo da PLoS Genetics sublinha que "a variação da cor da pele e dos olhos humanos é substancial, em particular nas populações mistas, mas a sua arquitectura genética é mal compreendida, porque a maioria dos estudos genómicos é baseada em indivíduos de ascendência europeia".


Cabo Verde tem características únicas

 

Por isso, os cientistas escolheram a população de Cabo Verde, "que apresenta características únicas porque tem um nível de miscigenação absolutamente extraordinário entre africanos e europeus", constata Jorge Rocha.

Isto significa que numa única população encontramos "toda a gama possível de pigmentação da pele, uma situação ideal para fazermos estudos desta natureza", acrescenta o investigador.

O artigo da PLoS Genetics salienta que os resultados alcançados na investigação da população de Cabo Verde "ajudam a explicar como os genes trabalham em conjunto para controlar uma grande diversidade de características relacionadas com a pigmentação, dão uma nova perspectiva sobre a evolução dessas características e fornecem um modelo para compreender outras variações em populações mistas", como a cor do cabelo, que não foi analisada neste estudo.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas,26 abr 2013 15:37

Editado porRendy Santos  em  29 abr 2013 9:42

pub.
pub
pub.

Rotating GIF Banner

pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.