“Atualmente, as universidades, mesmo as ditas africanas, que na prática funcionam como departamentos universitários ocidentais em África, têm reproduzido e preservado a colonialidade de poder e de saber. Colonialidade esta que tem garantido, por um lado, a dominação (política, econômica, militar, cultural e epistemológica) das potências ocidentais e, por outro, a miséria, a balcanização, o genocídio e a deseducação do povo africano que, até recentemente, se encontrava sob domínio colonial”.
Assim introduzem os promotores da Universidade Nhanha Bongolon as motivações para esta iniciativa que pretende ser um espaço para o diálogo e o debate e fomento de uma cultura de reflexão, experimentação e auto-consciencialização. Por outro lado, a Universidade será também uma arena para o resgate de saberes e práticas “potencialmente emancipatórios, desenvolvidos e experimentados tanto em Cabo Verde como no mundo africano global”.
“A Universidade Nhanha Bongolon é uma plataforma de partilha de experiências e discussão teórico-prático politicamente engajado e enquadra-se num conjunto de programas de politização social promovido por um conjunto de coletivos africanos e cabo-verdianos com vista à concretização de uma agenda emancipatória”, resumem.
Tudo isso, e mais, acaba por integrar uma estratégia com o fim de fazer progredir uma “efetiva luta intelectual e epistemológica” que faça frente a aquilo que entendem ser um “processo de (re) colonização”
“Em 2016, almejando a internacionalização e o reconhecimento universal dos graus académicos conferidos pelas instituições do ensino superior nas ilhas, aprovou-se a Lei n. 121/VIII que estabelece as bases para a criação de uma Agência Reguladora do Ensino Superior e propôs-se a harmonização do ensino superior em Cabo Verde com o chamado modelo de Bolonha, aproximando “o sistema educativo nacional aos patamares almejados e em experimentação a nível internacional, designadamente na Europa, por forma a, designadamente, assegurar as vantagens da mobilidade e do sistema de créditos para efeito das equivalências de formação e qualificação a nível internacional, de modo mais abrangente possível”.
Para os organizadores deste evento na base desta visão da política educacional estão orientações da União Europeia, o que desvirtua a reflexão endógena, pretendendo essas ainda colarem-se - sobretudo no que à ciência, tecnologia e inovação do país diga respeito - ao programa europeu de ciência, tecnologia e inovação conhecido como Horizonte 20/20.
"Ou seja, transformar (ou continuar) Cabo Verde numa espécie de colónia científica, tecnológica e epistemológica europeia em África e, indiretamente, reforçar a sua balcanização através de financiamentos de projetos de pós-graduação sobre a integração regional africana”, escrevem num manifesto, publicado no mais recente Dia de África, os mentores deste projecto que foi buscar o seu nome à célebre líder da raboita Rubon Manel (revolta de Ribeirão Manuel) contra os rendeiros das terras agrícolas em Santa Catarina, Nh' Ana da Veiga. imortalizada pelo músico e compositor Orlando Pantera no tema "Raboita Rubom Manel".
Com a intenção de ir além do que já vinham realizando iniciativas cívicas como Djumbai Libertariu, Skola d’Afrika, Bantaba Umoja – todas acontecendo em anos recentes na cidade da Praia – a Universidade Nhanha Bongolon apresenta nesta sua primeira edição um programa que contempla uma série de palestras por convidados como Alexssandro Robalo, Abel Djassi Amado, Astrid Umaru, Flávio Almada, entre outros.
O encerramento será na tarde de Domingo com a exibição do filme “Xala” (1975) de Ousmane Sembene, na Fundação Amílcar Cabral.