Agricultor de São Vicente revela que perdeu maior parte da água das chuvas que reteve em lagos artificiais

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,17 abr 2023 8:42

Afinal, das nove mil toneladas de água que o agricultor Amílcar Lopes conseguiu reter em lagos artificiais no seu perímetro agropecuário da Ribeira de Julião restou “uma pequena quantidade” que, mesmo assim, “deu colheita”.

“A previsão de chuvas no ano passado estava forte, senti medo de consequências maiores, como o rompimento da estrutura após estar cheia, então fui obrigado a bombar muita água para fora dos tanques, pois reparei que falhamos na edificação da queda de água”, declarou Amílcar Lopes, à Inforpress, na sua propriedade Gota d’Aga, que se estende por 14 hectares, dos quais apenas quatro estão cultivados.

O homem de quem se fala não conhece o verbo desistir, por isso anuncia que já em Maio vai iniciar os trabalhos de preparação dos lagos artificiais, pois disse ter apreendido com os erros, ganhado mais experiência e que vai voltar a experimentar “sem medo”.

“Não vou parar, vou corrigir os erros e se tiver condições posso até avançar para a construção de um novo lago artificial”, vincou.

Contudo, a prioridade, sintetizou, assenta no investimento na melhoria da saída de água entre os reservatórios já existentes para, no caso de duas chuvas, não haver problemas.

Mesmo assim, do que restou da água das chuvas armazenada, que durou até Fevereiro último, retirou do chão sete toneladas de batata doce, seis toneladas de cebola, cultivou mais mil pés de pitaya e, ainda, melancia e papaia, isto sem contar cultivos em estufa com colheita de tomate e morango com a mesma “água doce”.

“Todo esse produto foi consumido no mercado local”, declarou Amílcar Lopes, que não se resigna à ideia de transformar o seu perímetro agropecuário num laboratório de experiências para oferecer a Cabo Verde.

O próximo desafio neste âmbito, lançou, é levar universitários da área da Biologia e outras ligadas à agricultura ao sítio para “alguma troca de experiências, para me ajudar na adequação de culturas para o tipo de terreno da propriedade”, mas de “uma forma científica”.

“Quero conhecimentos para ter mais segurança naquilo que estou a fazer”, concretizou, até porque ninguém tira da cabeça de Lopes a ideia de que São Vicente é uma ilha agrícola.

“Basta ver que os nossos antepassados fizeram desta ilha a primeira a exportar para o estrangeiro, quando forneciam de géneros alimentares os navios que sulcavam o Porto Grande, não havia nada vindo de Santo Antão ou Santiago, todos os campos da ilha eram hortas, fornecíamos legumes e carnes”, argumentou.

Hoje, nesta linha, Amílcar Lopes quer “apostar forte” na edificação de estufas, já que os projectos do agricultor passam pelo cultivo de, pelo menos, 12 mil pés de morango, “porque tem um bom mercado e é uma planta que produz o ano inteiro”.

Há ainda a experiência com a fruta tropical pitaya, “que resultou, com boa colheita”, apesar de saber de que tratava de uma fruta menos conhecida quando a lançou no mercado e que tem a ambição de direccionar ao turismo, pois disse acreditar que pode interessar aos visitantes da cadeia turística.

“O meu desejo é que mais agricultores enveredem por esta cultura, uma forma de tornar os preços mais competitivos”, sugeriu, embora tenha a consciência de que o investimento inicial é “um pouco caro” e pode funcionar como travão para muitos agricultores.

Se as ideias e experiências para a agricultura fervilham na mente do empreendedor/agricultor, a vertente pecuária, lamentou, encontra-se neste momento “um pouco de lado” porque, pela sua análise, o sector necessita de raças melhoradas para fornecer leite e carne em quantidade. “Ou seja, neste momento trabalhar na pecuária em São Vicente é bastante caro, por isso optei agora apenas pela criação de suínos e aves”, indicou.

Contudo, no meio do optimismo que Amílcar Lopes envolve cada palavra que lhe sai da boca, quando o tema é agricultura/água, está o projecto de transformar o vale do Calhau, a Ribeira de Vinha, passando por Madeiral e Ribeira de Julião, numa cidade verde, através da dessalinização da água do mar.

“Já tenho um pequeno dessalinizador instalado na minha propriedade, para experiência, que me está a dar três toneladas de água/hora dessalinizada a partir de furos”, avisou, dentro do projecto maior que já tinha anunciado da montagem de um dessalinizador maior no Calhau, junto ao mar.

O projecto encontra-se “bem andado” e, segundo a mesma fonte, até ao fim do corrente ano estará montado para produzir água no Calhau e distribuir por todo o vale até à Ribeira de Vinha.

Amílcar Lopes, 63 anos, ex-torneiro mecânico, ex-marítimo e ex-emigrante, que começou a trabalhar aos 13 anos, e que após experiências na produção de cebola em escala, que exportava para outras ilhas, em 1987, e na indústria da serigrafia, confecções, tipografia e embalagens, optou pelo ramo da agricultura e criação de gado.

Explora quatro hectares de terreno cultivados, o equivalente a quatro campos de futebol, já teve criação de animais mais vasta, tudo no seu perímetro agropecuário da Ribeira de Julião, a 12 minutos do centro do Mindelo, que define como sítio de experiências para oferecer a Cabo Verde.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,17 abr 2023 8:42

Editado porAndre Amaral  em  3 jan 2024 23:28

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