Quando o futebol dribla os males sociais e muda a imagem de uma comunidade - EFAT

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,21 nov 2022 10:07

​O bairro de Achada Grande Trás, à leste do centro da Cidade da Praia, é um exemplo de como o desporto, mais concretamente o futebol, pode driblar a delinquência juvenil e mudar a imagem de uma comunidade.

Nos últimos anos, Achada Grande Trás, considerado como um dos bairros mais problemáticos da urbe praiense, com casos de criminalidade juvenil, consumo de droga e prostituição, tem sido referência em muitos estudos sobre a delinquência infanto-juvenil e noticiais em jornais impressos e electrónicos.

Por isso, com o propósito de debelar esses males, em 2012, um grupo de jovens voluntários do bairro fundou a Escola de Futebol de Achada Grande Trás (EFAT) que desde então vem realizando actividades desportivas, culturais, lúdicas e académicas, com o propósito de transmitir valores aos jovens da comunidade e à sociedade no seu todo.

O desporto, mormente o futebol, tem sido a “ferramenta” para a ajudar os jovens a estarem longe dos males que têm acontecido na comunidade e, para além disso, tem sido visto como o exemplo de como esta modalidade pode mudar a imagem de um bairro.

A luta para ajudar os jovens da comunidade tem sido acompanhada com ganhos a nível desportivo, passando a EFAT a ser orgulho da comunidade e um exemplo a seguir de como uma associação, utilizando o desporto como ferramenta, pode ser um forte aliado na luta contra a delinquência juvenil.

Para melhor entender esse fenómeno, o presidente da EFAT, Edimilson Garcia, em conversa com a à Inforpress, explicou que para melhorar “o cenário” que havia na comunidade, “com muitos grupos rivais”, o futebol apareceu como um instrumento para combater esse desafio social, relativamente às drogas, à criminalidade juvenil, prostituição e outros males.

“No entanto, constatamos que o futebol é uma excelente arma para juntar os meninos e hoje a EFAT é fundamental para Achada Grande Trás”, acrescentou Edimilson Garcia, ressaltando ainda o acompanhamento escolar das crianças, bem como o suporte dado às famílias dos atletas.

“Usamos o futebol porque é o desporto de massa que mais agrega jovens e meninos (…) o que só é conseguido quando existe unidade no grupo e este aspecto foi importante porque em Achada Grande Trás havia, hoje há menos, rivalidades entre grupos rivais”, precisou o responsável, frisando que o espírito de união foi muito importante.

Para o presidente da EFAT, o futebol, como um “elemento agregador”, aliado a um espírito de unidade existente no seio da equipa, e de outras equipas do bairro, pôs termo à rivalidade entre os grupos rivais.

“A partir do momento que temos uma equipa com jovens da comunidade e de outros bairros, os meninos que achavam que é normal os tipos de conflitos que existiam na zona, com o futebol, passaram a ver o outro lado, que é a importância de um grupo unido”, explicou o responsável, apontando que esta foi a “maior lição”.

Questionado sobre a relação entre a família e a comunidade disse que desde a criação da associação essa questão “foi e tem sido “um dos maiores desafios, principalmente na participação dos pais.

“Ainda não é o ideal, mas hoje já está melhor (…) temos certeza que as famílias da comunidade consideram a EFAT muito importante no processo de crescimento dos seus filhos, mas ainda precisamos de outras estratégias para torná-los mais próximos dos seus filhos”, ressalvou.

Em termos desportivos, o presidente da EFAT disse que a associação o vê como “consequência” e que nunca foi prioridade, “não obstante os títulos conseguidos nos últimos anos, que são frutos dos trabalhos realizados”.

“Temos uma forma própria de estar no desporto e a última época foi bastante positivo, chegando ao pódio em alguns escalões de formação, mas o mais importante é ter o máximo de meninos a aproveitar o que os nossos monitores e colaboradores transmitem”, esclareceu o jovem activista social, destacando a conquista da primeira edição da Taça Praia no escalão sub-17.

Contudo, Edmilson Garcia garante que a EFAT tem sido um “grande aliado” para mudar a imagem “carregada de energia negativa” de Achada Grande Trás, por ter associado ao futebol, “que é algo positivo”, o nome da comunidade.

Conceição Borges, moradora do bairro de Achada Grande Trás, disse que a EFAT actualmente já é uma referência em toda a Cidade da Praia de como uma associação pode ajudar uma comunidade.

“EFAT não é só desporto, aliás no seu tema está a educar e divertir sempre, ou seja, os meninos não vão somente jogar à bola, há valores que lhes são incutidos”, explicou Conceição Borges, que é mãe de Márcio Borges Robalo, que está há três anos na EFAT.

Esse facto, segundo a entrevistada, tem contribuído para combater os males sociais na comunidade, porque conforme precisou, o futebol é um desporto que pode ser utilizado para combater a delinquência juvenil.

“Considero a relação entre esta associação e comunidade como uma pirâmide onde todos são importantes, porque sem atletas e os encarregados de educação, que são fundamentais, não há a EFAT”, explicou Conceição Borges, enaltecendo o papel da agremiação no processo educativo do seu filho.

“Ele entrou com quatro anos e hoje com quase oito e já está a carregar os valores da EFAT nas costas”, enfatizou Conceição Borges, apelando a uma maior envolvência das autoridades no combate aos males sociais no Bairro de Achada Grande Trás.

Davy Tavares, de 12 anos, na EFAT há três anos, disse que tem se dedicado ao futebol, mas sem nunca deixar para trás os estudos porque, conforme explicou, “escola está em primeiro lugar, mas não vou largar o futebol e nem os estudos.

Para Davy Tavares, a escola de futebol está a ser importante na sua formação e avança que tem amigos jogando futebol e no bairro.

Márcio Robalo, de oito anos, ” que quando for grande quer ser polícia para ajudar na segurança do bairro”, disse que está na escola EFAT para ganhar habilidades no futebol, fazer novos amigos e ser um bom jovem no futuro.

No passado mês de Junho, a EFAT completou dez anos de existência e Edmilson Garcia apontara a sustentabilidade financeira e uma sede com mais espaço como os principais desafios da agremiação.

“Temos dado a nossa contribuição no nosso bairro, considerado uma zona problemática da Cidade da Praia, ajudando, através do desporto, as crianças, meninas e rapazes a serem o mais cívicos possível”, pontificou Edmilson Garcia, informando que a EFAT trabalha actualmente com cerca de 250 crianças.

A EFAT, fundada a 16 de Julho de 2012, é uma associação sem fins lucrativos, que visa a promoção social de adolescentes e crianças de Achada Grande Trás, através de actividades desportivas, lúdicas e académicas, visando a transmissão de valores e atitudes positivas à sociedade em geral.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,21 nov 2022 10:07

Editado porAndre Amaral  em  21 nov 2022 14:27

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