Nobel da Literatura 2015 distingue bielorrussa Svetlana Aleksievitch

PorExpresso das Ilhas,8 out 2015 13:51

A jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Aleksievitch foi distinguida hoje com o Nobel da Literatura 2015 pela escrita "polifónica, um monumento ao sofrimento e à coragem no nosso tempo", anunciou a Academia Sueca.

 

A autora bielorussa foi distinguida com o Prémio Médicis Ensaio, em 2013, pela obra "O fim do homem soviético", publicada este ano, em Portugal, pela Porto Editora.

Uma outra obra de Svetlana Aleksievitch, "Vozes de Chernobyl" (título provisório), está prevista ser editada no próximo ano pela editora Elsinore.

Fonte da Elsinore adiantou hoje à Lusa, que, "dada a surpresa do Nobel, provavelmente ir-se-á antecipar a sua publicação".

Em comunicado divulgado hoje, a Porto Editora, por seu turno, realça que Svetlana Aleksievitch é "considerada uma das autoras mais prestigiadas a escrever sobre a URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas], [e] os seus trabalhos têm recebido uma enorme aceitação por parte da crítica".

Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e alguns foram já adaptados a peças de teatro e documentários.

Nascida sob bandeira soviética, em Ivano-Frankovsk, na Ucrânia, Svetlana Aleksievitch é filha de um militar bielorrusso e mãe ucraniana. Entre 1967 e 1972, a autora estudou jornalismo na Universidade de Minsk.

Segundo a Academia Sueca, "devido às suas posições críticas, foi obrigada, após a licenciatura, a trabalhar num jornal regional na cidade bielorrussa de Brest, junto da fronteira com a Polónia".

Mais tarde, Aleksievitch conseguiu voltar para Minsk, onde trabalhou na Sel'skaja Gazeta, segundo a Academia.

A autora exercitou "vários géneros literários", afirma a Academia Sueca, que cita, entre as suas referências, Sofia Fédortchenko (1888-1959), uma enfermeira que se tornou conhecida pelo seu diário em que documentava as experiências dos soldados russos durante a I Guerra Mundial (1914-18) e o escritor bielorrusso Ales Adamovich (1927-1994), autor de relatos documentais de guerra.

Durante muitos anos, Aleksievitch reuniu material para o seu primeiro livro, "A guerra não tem o rosto de uma mulher" (tradução livre a partir da edição francesa de 2005 do original "U vojny zenskoe lico"), uma obra publicada em 1985, baseada em entrevistas a centenas de mulheres que participaram na II Guerra Mundial (1939-45).

Este foi o primeiro título de uma série de cinco obras, intitulada "Vozes da utopia", na qual a autora aborda a ex-União Soviética (URSS) e a sua queda, numa perspetiva individual.

Em 1997 publicou "A Súplica. Chernobyl - Crónicas do mundo após o apocalipse", versão livre do título da tradução francesa, de 1998, do original "Cernobyl'skaja molitva", em que aborda a catástrofe nuclear de Chernobyl e as suas consequências, e que também pode ser entendido como "Orações de Chernobyl" ou "Vozes de Chernobyl", e que a Elsinore prevê editar em Portugal.

De sua autoria, do conjunto de obras dedicadas ao fim da era soviética, conta-se ainda "Os caixões de zinco" ("Cinkovye mal'ciki", no original), de 1990, que incide sobre a guerra liderada pela ex-URSS no Afeganistão, de 1979 a 1989.

À série junta-se, em 1994, a publicação de "Enredados pela morte" ("Zacarovannye smert'ju"), que, tal como outros títulos seus, foi escrito com base em entrevistas.

"Através do seu método extraordinário - uma colagem cuidadosamente composta por vozes humanas - Alexievich aprofunda a nossa compreensão de toda uma época", atesta a Academia Sueca.

O seu livro mais recente, "O fim do homem soviético", culmina a série "Vozes da utopia".

Segundo a Porto Editora, a obra aborda, volvidas mais de duas décadas, a desagregação da URSS, "que permitiu aos russos descobrir o mundo e, ao mundo, descobrir os russos".

"Após um breve período de enamoramento - prossegue a editora, na apresentação da obra - o final feliz tão aguardado pela história mundial tem vindo a ser sucessivamente adiado. O mundo parece voltar ao tempo da Guerra Fria".

"Enquanto no Ocidente ainda se recorda a era Gorbatchov com alguma simpatia, na Rússia há quem procure esquecer esse período e o designe a catástrofe russa. E, desde então, emergiu uma nova geração de russos, que anseia pela grandiosidade de outros tempos, ao mesmo tempo que exalta Estaline, como um grande homem", escreve a editora portuguesa.

"Com uma acuidade e uma atenção únicas, Svetlana Aleksievitch reinventa, neste magnífico requiem, uma forma polifónica singular, dando voz a centenas de testemunhas, os humilhados e ofendidos, os desiludidos, o homem e a mulher pós-soviéticos, para assim manter viva a memória da tragédia da URSS e narrar a pequena história que está por trás de uma grande utopia", remata a Porto Editora.

A Academia Sueca refere que devido às suas posições políticas críticas ao regime, Aleksievitch viveu exilada na Itália, França, Alemanha e Suécia.

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Autoria:Expresso das Ilhas,8 out 2015 13:51

Editado porAndré Amaral  em  9 out 2015 9:24

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