Zouk/Kizomba, também
Contudo, os encontros da música cabo-verdiana com as vozes do mundo não se ficam pelos géneros tradicionais. O zouk cabo-verdiano, igualmente chamado de cabo-zouk, zouk-love ou mesmo cabo love, e que na sua génese tanto bebeu do zouk das Antilhas, também influenciou de maneira inegável a evolução do kizomba angolano, antes de dar-se o processo inverso e serem os artistas crioulos a buscarem a sonoridade agora conseguida por aquelas bandas. Pode-se pôr a questão nestes termos: o que veio antes, a galinha ou o ovo? Na resposta pode estar a chave para o mistério que se tornou a identidade de Nelson Freitas, um dos embaixadores deste género cuja origem se questiona nas redes sociais, se angolano ou cabo-verdiano [humor a parte, a bem da verdade diga-se que Freitas nasceu e cresceu na Holanda, filhos de pais cabo-verdianos].
Que Freitas é um dos que já pôs muitos artistas angolanos e não só a cantar em crioulo, não há dúvidas. E para muitos, sendo zouk/kizomba e na língua di terra, é música cabo-verdiana.
Impactante nesse meio é a presença de Kaysha (Edward Mokolo Jr.). Natural da República Democrática do Congo, segundo o “Cabo Verde & a Música - Dicionário de Personagens”, este cantor, compositor e produtor musical emigrou para França ainda criança e ali, anos depois, teve contacto com o cabo love de Philip Monteiro.
Hoje, Kaysha é referência no kizomba, canta em crioulo (como em “Flam ki n ta sta Sempre”) e compõe para artistas cabo-verdianos, como Ricky Boy e Djodje, a quem já produziu várias músicas.
Muitos mais casos há que poderíamos ainda aqui trazer. Mas importa também referir que esta moda da música cabo-verdiana entre artistas estrangeiros tem não tem apenas o lado positivo, do reconhecimento e da visibilidade da nossa música e do país em si. Casos há em que têm surgido cantores e grupos a anunciarem-se como intérpretes de ritmos cabo-verdianos e que numa audição atenta não passam no “teste”. Ou seja, o que cantam dificilmente pode ser reconhecido como qualquer ritmo cabo-verdiano. Mas a publicidade é que conta.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 785 de 14 de Dezembro de 2016.