Mika Mendes: «O meu maior desafio foi cantar em português»

PorDulcina Mendes,11 fev 2017 6:34

O artista cabo-verdiano, Mickael Mendes, de seu nome artístico Mika Mendes, esteve recentemente em Cabo Verde  para promover o seu quinto álbum a solo Visão, lançado em Novembro do ano passado. Ao Expresso das Ilhas Mika Mendes falou do seu novo álbum e dos projectos futuro.

 

O disco Visão já está no mercado há alguns meses, como tem sido o feedback?
O álbum saiu em Novembro de 2016, já fiz apresentações em Lisboa e tive bom feedback. Fiz a apresentação no dia mesmo que lancei o disco e um mês depois fiz mais duas actuações em Lisboa.

És filho de um dos melhores compositores da música tradicional cabo-verdiana, Boy G Mendes. Mas o teu estilo de música é mais kizomba. Porquê.
Bom, a princípio começou por ser uma brincadeira, mas depois vi que as pessoas estavam a gostar. Então decidi dedicar mesmo a sério a este estilo musical, mas isso não quer dizer que não possa cantar a música tradicional cabo-verdiana. Gosto de qualquer tipo de música. Para o futuro vou trabalhar outros estilos musicais.

Mas ainda não fizeste música nenhuma música tradicional.
Tenho duas músicas neste álbum que não são kizomba, mas músicas com piano e voz cantadas em português. Então neste disco está um cheirinho do que futuramente pretendo fazer. Neste álbum, o meu maior desafio foi cantar em português. Aliás, 80 por cento dos temas deste álbum são cantados em português, porque nasci na França, mas agora estou a viver em Portugal e vivendo lá ajudou-me bastante para abrir o mercado.

Qual foi a influência do teu pai na tua carreira?
Tive muitas influências dele no início da minha carreira. Ele ajudou-me muito, tanto a escrever as músicas, como nos estúdios, porque para mim essa coisa de gravar era algo novo. A primeira música que gravei foi em crioulo, tive que ter ajuda do meu pai, a nível de composição e da guitarra. Ele ajudou-me e depois de cinco/seis anos tomei a minha independência. Agora sou mais autónomo e estou a destacar-me na cena musical, mas não por ser filho de Boy G Mendes, o não quer dizer que não possa seguir as pegadas do meu pai. O estilo dele prefiro deixar para o futuro. O meu pai chegou a pagar aulas de baixo e de teclado a mim e ao meu irmão, mas como ele viajava muito para fazer tournées, nós desviávamos para jogar futebol.

Voltando agora ao teu novo disco. Visão é teu quinto álbum. Como é que surgiu esse disco?
Visão vem na sequência dos meus álbuns anteriores. Neste disco vamos encontrar um Mika Mendes mais maduro e adulto, com composições bem estudadas e elaboradas. A escolha dos produtores foi também bem pensada. 80 por cento das faixas foram feitas pelo artista Elji, que é um grande produtor e um grande artista.

Qual foi a tua aposta neste disco?
A nível de parcerias, tipo dueto, fiz a escolha do mercado dos PALOP. Então há o Cláudio Ismael, que é moçambicano, Telma Lee de Angola, Danilo A.K.A (Bad) que é um novo artista que brevemente as pessoas vão ouvir falar. Ele ajudou-me muito a nível de letras, está na faixa número 7: é mais um R&B que conta também com a participação do Djodje. Neste disco há vários duetos, porque gosto de fazer duetos com artistas que admiro e com novos talentos.

As gravações foram feitas em Portugal?
Sim, em Portugal pela primeira vez, porque antes gravei em França. Como actualmente estou a viver em Portugal, aproveitei para gravar lá, mas a mistura e masterização foram feitas em França. Desta vez apostei no mercado português e fiz até os vídeos em Portugal.

Em Portugal o mercado para a música cabo-verdiana é maior que em França?
Para o estilo kizomba sim. Portugal serviu para aumentar e divulgar o kizomba em si e a dança. Além do mercado dos PALOP, há também o mercado de dança quizomba; então temos oportunidade de participar nestes festivais e workshops de dança nos países que fazem parte dos PALOP. É muito bom e positivo para o mercado. Portugal, para mim, é a capital da música africana. Neste momento, há vários produtores em Portugal e isso contribui muito para a evolução e maior qualidade da música africana. É por isso que agora esse estilo de música ultrapassou as barreiras e fronteiras e hoje não há nenhum sítio, onde não ouves kizomba. Agora os artistas africanos têm oportunidades de fazer shows nas grandes discotecas ou salas de espectáculos em Portugal como no Coliseu dos Recreios e no Meo Arena.

Então para quando a apresentação do disco em Cabo Verde?
Quero primeiro fazer a promoção, deixar que as pessoas associam as músicas, já lancei dois singles antes do álbum, mas prefiro fazer o lançamento depois. Brevemente vou anunciar as datas dos espectáculos de lançamento em Cabo Verde.

Para ti actuar em Cabo Verde é diferente dos outros países?
É sim. Cada público tem a sua forma de se expressar. No mercado do kizomba eles não intendem muito bem a nossa música, mas dançam. Fui actuar na Rússia, as pessoas não intendiam nada, mas gostaram do ritmo musical e da dança. Eles têm outra forma de se expressar, e no final dos concertos perguntam-me sobre a nossa língua e o nosso país.

Além da promoção do teu novo CD que outros projectos tens para o futuro?
Tenho mais vídeos que vão sair este mês e no próximo. Tenho em mente fazer um grande concerto em Lisboa, talvez no final deste ou início de 2018; quero lançar para o Verão novos singles de kizomba e outros estilos de música e também estamos a trabalhar na produção de jovens artistas.

Isso foi quando?
Começamos este projecto em Portugal, mas espero ter oportunidade de ir aos outros PALOP para dar oportunidade a novos talentos. Estou a fazer isso, porque gostava de ter essa ajuda no princípio da minha carreira. Não tive e foi difícil, mas com foco e dedicação consegui, pois nunca deixei de acreditar no meu projecto.

Nascente em França, mas que ilha de Cabo Verde te é mais próxima?
Nasci na França e São Vicente foi a primeira ilha de Cabo Verde que conheci, também é terra da minha mãe. O meu pai nasceu em Dakar, mas a mãe dele era de São Vicente e o pai de Assomada. Na verdade, identifico-me com todo o Cabo Verde.

E em relação à música cabo-verdiana…
Gosto de um pouco de tudo. Desde criança ouvia em casa juntamente com os meus pais música de Cabo Verde como a morna de Cesário Évora, Tito Paris e as músicas de Boas Festas de Luís Morais. Recordo-me delas, porque cresci com esse tipo de música em casa.

 

Mika Mendes na cena musical

O artista entrou para o mundo da música em 2001 com uma primeira participação numa compilação intitulada “Alliança”.
Entre 2002 e 2004 participou em vários álbuns e compilações como “Philip Monteiro and friends”, e já em 2004/2005 grava Paulo&Mika na Holanda (Rotterdam), com a colaboração do seu pai Boy G Mendes e de outros músicos como Johnny Fonseca e Djavan Mendes, seu irmão e compositor de vários títulos deste álbum como “Linda bo é”.
O sucesso do trabalho transforma-se em concertos internacionais e, em 2007, Mika Mendes recebe o prémio de artista revelação em Portugal pelo seu talento.
Em 2008 assinou contrato com a empresa Sushiraw de Kaysha. O seu álbum homónimo é lançado em Julho 2008 e Mika vai acumulando colaborações com outros artistas.
De 2008 a 2010 faz concertos internacionais, entre festivais e show case (Europa, USA e África). Em 2010, Mika Mendes cria a sua própria empresa “Real-Touch” com o seu irmão e começa a trabalhar no novo álbum “My Inspiration”.
O álbum “Sem Limite” foi lançado online em Abril de 2013, onde se destacou o sucesso Poder D’Amor. Já em 2014 lançou “Timeless”, um álbum com 13 faixas que contou com a participação de artistas como Djodje, Elji Beatzkilla, Dina Mendes, P.Lowe e Saaphy.

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 793 de 8 de Fevereiro de 2017.

 

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Autoria:Dulcina Mendes,11 fev 2017 6:34

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  13 fev 2017 9:39

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