«Eu sou Eu». FLMS discute identidade

PorNuno Andrade Ferreira,9 jul 2017 13:39

Seis escritores e uma actriz juntaram-se, sábado à tarde, num hotel do Sal, para uma conversa sobre as 'vozes da escrita' no contexto da literatura-mundo.

 

Ao terceiro dia do Festival de Literatura-Munido do Sal (FLMS), o tema da tertúlia propunha um debate sobre “polifonias literárias”, mas cedo a conversa divergiu para o papel que a identidade (ou as identidades) tem nessa multiplicidade de sons.

Durante quase duas horas, Germano Almeida, José Manuel Fajardo, Zia Soares, Karla Suarez, Sérgio Rodrigues e Dejan Tiago Stankovic, moderados pela escritora e editora brasileira Guiomar de Grammont procuraram resposta para a pergunta que se tornou central: qual a origem da minha identidade e que influência ela tem no meu trabalho?

Representante nacional no painel, Germano recordou a importância da cabo-verdianidade, enquanto elemento de união. “Na nação cabo-verdiana, a ideia de sermos cabo-verdianos é aquilo que mais nos une”.

O autor de “O Testamento do Sr. Napomuceno da Silva Araújo” defendeu que a identidade cabo-verdiana está ligada a uma necessidade de preservação e a um exercício de esquecimento “das coisas más”.

Em sentido contrário, o Espanhol, antigo jornalista, José Manuel Fajardo, acredita na “geografia pessoal”, na “identidade apátrida”, que não nega o local onde nascemos, mas que dá a possibilidade de escolha.

“Eu não sou basco, mas sinto-me basco, porque morei lá, comprometi-me com as lutas políticas, comi comida basca”, exemplificou.

Autor de “O Meu Nome é Jamaica” - editado em português com chancela da Quetzal - Fajardo associa a questão identitária “ao medo”, à necessidade de encontrar um lugar de pertença, num mundo complexo.

 

Da esquerda para a direita, Germano Almeida, José Manuel Fajardo, Zia Soares,
Guiomar de Grammont, Karla Suarez, Sérgio Rodrigues e Dejan Tiago Stankovic (FLMS).

 

Numa ponte com a escrita, o brasileiro Sérgio Rodrigues lembrou que “o escritor é necessariamente um estrangeiro”, uma “pessoa não confiável”, “não é de lado nenhum”. A partir de aqui, o autor de Minas Gerais (e de tantos outros lugares, na sua própria visão) pergunta: “mas existe alguma coisa pura?”. “Eu sou eu”, afirma, negando que a identidade esteja simplesmente ligada a um país, porque o seu “eu” é “muitas coisas”. Colunista do Folha de São Paulo, Sérgio prefere acreditar que a identidade é um 'work in progress', trabalho inacabado.

Maior desapego só encontraremos em Dejan Tiago Stankovic, nascido em Belgrado, na ex-Jugoslávia, agora Sérvia, naturalizado português, o primeiro a traduzir Saramago para sérvio. “A identidade e o lugar são importantes se tu achares que é importante”.

FLSM – Dia 4

O FLMS chega hoje ao fim. À tarde discute-se “edição e promoção da literatura contemporânea” e “o escritor no mundo”. Ao final do dia é lançado o livro “Claridosidade: Edição Crítica”, antes da sessão de encerramento, às 20:30. Todas as actividades decorrem no Hotel Belorizonte, em Santa Maria.

 

 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,9 jul 2017 13:39

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  11 jul 2017 12:33

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