A iniciativa parte do escritor Joaquim Arena, que já acarinha a ideia há alguns anos. Arena defende que a criação de uma instituição como o PEN permite colocar Cabo Verde e os seus escritores numa rede internacional, que congrega, no seu seio, milhares de confrades seus.
“Uma rede que nos seus oitenta anos de existência granjeou um enorme prestígio, quer pela nobreza dos seus princípios, quer pela craveira e envergadura dos seus membros fundadores e actuais; são conhecidas as suas intervenções e tomadas de posição em muitos acontecimentos da actualidade internacional, com destaque nos media”, explicava o autor em Novembro passado, quando iniciou os contactos com escritores cabo-verdianos para concretizar este projecto.
“O momento não poderia ser melhor: em menos de um ano , o nosso país conheceu duas novas e extraordinárias iniciativas, dois projectos de inestimável importância para uma reorientação dos caminhos da literatura cabo-verdiana, particularmente na sua internacionalização. O Festiva Literatura-Mundo, no Sal, no início de Julho, e recentemente o Morabeza - Festa do Livro, recolocaram o livro, o leitor, o editor e os escritores no centro das atenções”, dizia então.
Pelos contactos encetados com o Pen Club Português , há a expectativa de que este Centro PEN irá apoiar a admissão do PEN Club Cabo Verde como membro da PEN Internacional, algo que se espera venha acontecer já no próximo congresso da organização, em Setembro deste ano, sendo este um dos principais objectivos do projecto de criação do Centro PEN Cabo Verde.
Antes, e para concretizar este projecto de instalar em Cabo Verde um Centro PEN, serão necessários 20 escritores como subscritores da Carta de Princípios do PEN Internacional, documento que tem por base as resoluções aprovadas nos congressos internacionais da organização, como a defesa de que “a Literatura não conhece fronteiras e deverá manter-se como o legado comum de todos os povos, independentemente de quaisquer convulsões políticas ou internacionais” ou do “princípio da livre transmissão do pensamento dentro de cada nação e entre todas as nações”.
Aos membros do PEN é ainda pedido um compromisso com o combate a qualquer forma de atentado à liberdade de expressão no país e na comunidade a que pertencem e com a defesa a uma imprensa livre.
Durante a assembleia de sábado, a ser presidida por Manuel Brito-Semedo, será apresentada e discutida a proposta de Estatutos do Pen Club de Cabo Verde e constituídos os corpos sociais.
De entre os 14 artigos que compõem a proposta de Estatutos, destacamos o nº 2 que refere o objectivo da associação de promover a literatura, o relacionamento, intercâmbio e cooperação intelectual entre os escritores dos diversos países, a defesa da liberdade de expressão e a cooperação internacional.
O PEN Club de Cabo Verde terá duas categorias de sócios, efectivos e honorários, sendo estes últimos propostos pela direcção tendo em conta “a relevância e o mérito dos serviços que hajam prestado à Associação e à Cultura”.
A participação de escritores residentes nas outras ilhas e na diáspora é um ponto que vai merecer a atenção da associação já nesta assembleia constituinte.
As linhas de acção do primeiro mandato da direcção, que terá a duração de três anos, vão também ser apresentadas e discutidas durante o encontro de sábado. Um dos primeiros passos deverá passar pela assinatura de protocolos com diversas instituições nacionais, como as universidades públicas e privadas, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, a Biblioteca Nacional, a Presidência da República, as Câmaras Municipais, a Academia cabo-verdiana de Letras, a Associação de Escritores Cabo-verdianos, entre outras.
Outros pontos do programa são a instituição do Prémio Pen Cabo Verde de Literatura - que irá distinguir anualmente obras de ficção, poesia e ensaio – o apoio às instituições governamentais para criação e estabelecimento do Plano Nacional de Leitura, para além d e estabelecer relações com Centros PEN da sub-região africana, do Brasil e de Espanha, representar os escritores cabo-verdianos nos congressos e outros encontros do PEN Internacional, entre outros.
O P.E.N (Poets, Essayists and Novelists – Poetas, Ensaístas e Romacistas em português) Internacional, foi fundado em 1921 por uma mulher: a escritora inglesa Catherine Amy Dawson Scott. A organização constitui-se numa rede mundial de escritores que abrange mais de 100 países em torno da celebração da literatura e promoção da liberdade de expressão, através de campanhas, eventos, publicações e programas que conectam escritores e leitores de todo o mundo. Esta organização apolítica tem estatuto de consultor junto das Nações Unidas.