Estivemos à conversa com o patrão da Harmonia e o homem que muitos acreditam ter o toque de midas; afinal é o criador das marcas cabo-verdianas mais conhecidas internacionalmente. O Kriol Jazz Festival Praia é uma delas e completa este ano uma década de existência.
O número redondo serviu-nos de pretexto para revisitar os primórdios mas também o futuro do mais internacional dos festivais de música de Cabo Verde, e que a 14, 19, 20 e 21 de Abril volta a trazer jazz crioulo a Praia, Cidade da Música.
Já devem estar na recta final dos preparativos. Suponho que ao final de uma edição devem logo iniciar os preparativos para a seguinte.
Sim, o Kriol Jazz é um festival que trabalha com artistas internacionais e de um certo nível e por isso, quase sempre, um ano antes eu já estou a fechar contrato com os artistas da próxima edição. Às vezes até mesmo antes. Por exemplo, estamos ainda a semanas de arrancar com o KJF 2018 e eu já estou em contacto com um artista que quero cá ter na próxima edição, porque ele está a montar a sua tour agora, e temos de tomar a decisão agora. Se não, corremos o risco de ficar de fora da sua tour. Então, é um perigo para mim porque tenho que tomar uma decisão sobre uma programação que tem os seus custos, às vezes sem saber se vou ter o orçamento a tempo para financiar. É sempre um risco.
É um aspecto curioso. Passados dez anos, e com o inegável sucesso e repercussão internacional, o KJF ainda não consegue ter garantias de total financiamento.
É uma particularidade chata de Cabo Verde. Os parceiros levam muito tempo a decidir e não apostam no futuro. Trabalham ano a ano. Já tentamos negociar e fazer planeamento de longo prazo mas, não conseguimos pois eles mesmos não sabem se no ano seguinte irão ter disponível no orçamento a quantia para investir ou poderá haver mudança de politica e quererem patrocinar outra coisa.
Mas há eventos, como o Cabo Verde Music Awards, que conseguem patrocínios para três, cinco anos…
Não sei porquê que o KJF ainda não conseguiu algo assim. Penso que talvez porque algumas marcas não vêem o KJF como um festival popular e eles querem fazer a sua marca chegar a um número maior de pessoas. Lá fora, quem são em geral os parceiros dos festivais de jazz? São marcas de luxo, bebidas de luxo, bancos… Aqui não temos ainda uma marca que se identifica com o público do jazz e que diga “vou apostar nisso porque esse público é o meu target, é a potencial clientela para o meu produto x”. Aqui todas as nossas marcas buscam o mesmo tipo de público, o mais popular possível. Então mesmo quando nos patrocinam fazem-no com números baixos comparando com outros patrocínios que dão. Por exemplo, o patrocínio que a CV Móvel tem dado para a AME durante todos estes ano e o patrocínio que tem dado ao KJF é cinco ou seis vezes menos.
Mesmo assim, dez anos depois o KJF continua aqui. Quando tudo começou em 2009, tinha ideia de que seria possível chegar aqui, à edição n.º 10?
Com certeza que não. É justamente aquilo que eu dizia antes. Estamos num país onde as coisas são incertas, então todos os anos estamos sujeitos a que seja a última edição. Conseguimos felizmente a parceria com a Câmara Municipal da Praia, um parceiro importante e que tem financiado pouco mais de 50% do orçamento e que nos permite ter uma base de trabalho. O nosso risco está na restante percentagem que temos que conseguir todos os anos. A bilheteira não nos dá grandes garantias porque não podemos ultrapassar o preço que praticamos praticamente desde o início por causa da capacidade económica das pessoas. Os festivais de jazz lá fora têm um preço de bilhete diário que dificilmente é inferior a 50 euros. Nós oferecemos quatro grupos de alto nível por dois mil escudos [aproximadamente 20 euros]. Os estrangeiros que cá vêm acham isso incrível pois lá fora, normalmente, pagam esse preço por um único artista. Mas pronto, também há o facto de eu ter optado por me fechar numa praça que não pode acolher mais do que 2 mil pessoas.
Pois é! Ia perguntar-lhe sobre isso. Não tem planos de mudar para um espaço mais amplo?
Até agora não temos tido demanda por bilhetes que ultrapassem o limite daquele espaço. Até aqui só temos vendido à volta de 80% dos bilhetes disponibilizados. No ano passado fizemos um pouco mais de 80%, mas nunca chegamos aos 100%. Temos tido sempre à volta de 2 mil, 2 mil e tal pessoas, nunca chegamos às 3 mil. Também não quero tirar o festival da Pracinha por causa do ambiente. A força do festival também está no seu ambiente. Esse tipo de música pede por este ambiente e talvez se o levarmos para um espaço mais amplo talvez venhamos a perdê-lo e eu não gostaria disso.
Bem, então o KJF continua a acontecer por outros motivos e não pelo lucro.
[Riso] Não, não pelo lucro. A mim o KJF nunca deu lucro e estou convencido de que nunca irá dar porque todos os anos quero fazer melhor então o orçamento está sempre a aumentar. Começamos nos 20 mil contos, depois subiu para 23 mil e hoje estamos nos 27 mil. Porque cada vez mais queremos maior qualidade.
Será que a marca KJF – que é uma marca valorizada aqui e quem sabe mais ainda no exterior – tem sido bem aproveitada? De que forma poderia ser melhor capitalizada?
A marca está forte e já levo três anos a trabalhar, a negociar outras possibilidades fora de Cabo Verde. Estou convencido de que se um dia o KJF me trouxer lucro será fora de Cabo Verde. Já estamos em negociações para termos um KJF na ilha de Reunião [departamento ultramarino francês no oceano Índico] e já estamos muito avançados e há interesse em ter o KJF numa zona da China que tem um crioulo. Eles estão interessados e estamos a negociar.
Houve em tempos informação de que estaria em negociação para produzir o KJF em Lisboa.
Sim, mas não avançou. Por acaso, há duas semanas apareceu uma proposta interessante de um grupo forte para terem lá o KJF. Para este ano já não daria tempo mas certamente para o próximo ano já poderemos falar nisso. E é isso. Penso que é aqui que reside a possibilidade de lucro do festival. Em conseguir fechar estes acordos e internacionalizar o evento. Na ilha de Reunião o meu parceiro é alguém que tem experiência de fazer lá festivais há mais de 20 anos. E ele tem parceiros grandes que estão com ele há muitos anos então lá não teremos os problemas que temos aqui; certamente lá teremos parceiros dispostos a assinar por vários anos. Então é uma parceria que conto fechar ainda este ano.
Diz-se que a primeira vez é sempre especial. Imagino que organizar a primeira edição tenha sido muito diferente de estar agora a organizar a décima.
A primeira edição foi extremamente difícil. Estávamos a aprender. A equipa foi aprendendo. E o interessante é que todos os que trabalham no KJF estes anos aprenderam algo. O jazz pede uma precisão incrível, em termos de som, em termos de luz, logística, em termos de pedidos dos artistas internacionais... às vezes é complicado para um país como o nosso. Mas a minha equipa já se habituou e sempre conseguimos o impossível [riso]. Nenhuma edição é igual à outra. Temos artistas diferentes a cada ano, com pedidos completamente diferentes e que acabamos por conseguir atender.
Tem havido exigências extravagantes?
Sim! A Speranza Spalding, por exemplo, o que pediu no seu camarim não existia em Cabo Verde. Marcas de bebidas… Então nós arranjamos maneira de nos desenrascar. Pedir a amigos lá fora que nos tragam na sua bagagem. Houve uma vez alguém que pediu sushi e na altura ainda não havia restaurantes de sushi em Cabo Verde. Então alguém teve que nos trazer sushi de Lisboa, de avião para que o sushi pudesse estar no camarim a tempo [riso]. Um artista brasileiro pediu um tipo de flor que não há aqui. Também teve que vir de avião. Quando trouxemos os Manhattan Transfer, um dos grupos mais numerosos que já trouxemos, havia uma quantidade enorme de exigências, coisas complicadas… Queriam, por exemplo, um relatório médico a explicar detalhadamente que doenças se podem contrair aqui, etc. Este ano, aquilo que pediu o Seu Jorge é quase impossível para Cabo Verde mas, estamos a ver…
Não tem havido muita alteração naquilo que é o público do festival, pois não? No início havia pessoas a questionar o quê que o KJF tinha de jazz...
Bem, há já muitos anos que o público entendeu o que é o KJF. E temos notado nestes dois últimos anos um público muito jovem que não tínhamos no inicio, que fez a venda de bilhetes aumentar um pouco e que é mais participativo. Os artistas têm ido daqui contentes e satisfeitos com a reacção e o facto deste público jovem ser conhecedor de música tem impressionado os jornalistas e os artistas que têm cá vindo.
É inegável que o KJF tem trazido ao país artistas que de outra forma dificilmente veríamos cá. Já houve artistas que quis trazer e não conseguiu?
Sempre há. Mas nós insistimos. Já houve artistas que levei três anos para conseguir fechar um contrato. Por vezes não temos dinheiro suficiente para pagar aquilo que pedem e que é o que costumam cobrar lá fora. Então, para conseguirmos, é preciso muito lobby, muita discussão, e por vezes temos que pedir ajuda aos amigos do meio, a outros músicos que já cá vieram e sabem como é, até conseguirmos. O que joga muito contra nós são países como Angola, Gabão… países africanos ricos, que têm levado artistas com cachets enormes. Pensam que é tudo igual, que Cabo Verde também é assim. Aí temos que explicar como é Cabo Verde, a singularidade do país, a simpatia do público… Mas até agora tenho conseguido todos os que eu quis trazer. Há alguns que ainda não vieram não por falta de vontade mas por falta de disponibilidade. Artistas que fecham tournées com anos de antecedência. Por exemplo, Marcus Miller, um dos maiores baixistas do mundo. Tenho tentado trazê-lo todos os anos. Ainda não consegui por causa da sua agenda de concertos, já que ele é super solicitado e ele privilegia zonas. Este ano ele não pôde porque já tinha um pacote de concertos numa certa zona, longe daqui. Isto é outro factor a jogar contra Cabo Verde: o caminho que os artistas têm que fazer para chegar aqui e que por vezes os fazem recuar. Eles preferem ter tournées de um mês, dois meses, numa mesma área geográfica. Seria muito caro tirá-lo dessa zona. Mas já estamos a tentar criar uma rede de festivais dentro desta zona mais próxima.
Li algures que qualquer cidade africana que queira ser levada a sério deve ter um festival de jazz.
Devagar chegaremos lá. Já temos contacto com um festival de jazz em Casablanca, que se realiza também no mês de Abril, então podemos conseguir algo. Também em Abidjan, onde resido agora, há um banco que promove um festival no mês de Abril e estamos em negociação para ver se conseguimos integrar. Se conseguirmos três, quatro festivais em cadeia, quando formos atrás de um cabeça de cartaz podemos ir negociar juntos e isso facilitará tudo. Também, aqui dentro, as câmaras municipais são uma possibilidade de levar os artistas a outras ilhas. Nos últimos dois anos conseguimos acordo com a Câmara Municipal de São Vicente e assim partilhar com eles o cabeça de cartaz. Porque quando negociamos com um artista como Seu Jorge é diferente e compensa mais oferecer dois shows ao invés de apenas um.
O KJF é uma história de sucesso mas houve coisas que não resultaram. Estou a lembrar-me dos workshops com músicos internacionais – em parceria com a Uni-CV – direccionados aos músicos locais mas que estes rejeitaram.
Sim…[riso]. É algo de estranho sobre Cabo Verde. Todos estes anos temos trazido grandes artistas mas acabamos por parar com os workshops porque vi que não tinha suficiente adesão. E aí reclamaram. Mas eu não posso continuar a fazer algo que depois me vá deixar envergonhado perante os artistas que aqui trago. O mais terrível que me aconteceu foi trazer o Manu DiBango, um homem pelo qual tenho grande respeito e vamos ao workshop e estão lá quatro pessoas. A partir daí resolvi parar. Lá fora fazemos workshops nas universidades e temos centenas de pessoas a assistir. Foi o que aconteceu recentemente com a Lura na Austrália. A Austrália pede obrigatoriamente a artistas que vão actuar ali que façam workshops nas universidades e quando ali chegamos são centenas de pessoas. Há um interesse incrível em saber sobre a tua cultura, porque fazes isso, como fazes aquilo… Aqui não. Todos reclamam e quando se faz ninguém aparece. Vimos que a Uni-CV também não conseguia mobilizar os estudantes.
Este ano o Kriol Jazz Festival Praia vai homenagear os Tubarões e Bulimundo, duas das maiores bandas do país e que marcaram enormemente uma época. Um elemento dos Finaçon revelou-me alguma mágoa por terem ficado de fora.
Bem, no nosso contrato com a CMP ficou determinado que a Câmara é que escolhe os homenageados de cada ano e nós achamos bem. Mas por vezes penso que os nossos artistas se afogam em pouca água. Eles esquecem-se de que há mais tempo, haverá outras edições. Qual é o interesse de homenagearmos muita gente numa edição se haverá outras? Cada um terá a sua hora.
Pelo palco do KJF também têm passado artistas nacionais. É também, para estes, uma porta aberta à internacionalização.
Sempre no KJF temos promovido no palco principal dois artistas nacionais e os que têm feito bons shows têm tido muito bom retorno. Pela boa imagem do festival é importante para o seu currículo referir que actuaram no KJF porque é reconhecido internacionalmente. Mas o retorno também depende se fez um bom show. Quem fez bom show tem tido retorno e é por isso que temos tido muita solicitação de artistas, também estrangeiros, que querem vir tocar até de graça só para terem no seu currículo o KJF. Mas não aceitamos porque o nosso primeiro critério é a qualidade. A maioria das cooperações [estrangeiras] já se ofereceram para trazer bandas dos seus países. Se eu quisesse fazer economia tinha aceite e fazia uma edição só com as cooperações. Mas esse não é o nosso objectivo e não queremos baixar a qualidade. Então o que respondemos é: “se quiser dar-nos um artista de renome do seu país, em que sou eu é que faço a escolha, tudo bem. Mas se for para nos dar um artista médio ou principiante, que vai enfraquecer a minha programação, prefiro não aceitar o seu dinheiro”. Várias das cooperações já têm compreendido e, por exemplo, no ano passado a cooperação francesa financiou-nos a vinda do Sylvain Luc, que foi o artista que pedimos.
Havia desde o início a perspectiva de futuramente os privados assumirem sozinhos a Atlantic Music Expo [marca que ajudou a criar]. Entretanto, o casamento entre a AME e o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas (MCIC) acabou por terminar abruptamente. Como foi para si ver em perigo um projecto já com cinco anos de existência e internacionalmente reconhecido?
É um pouco triste. Houve uma tentativa de acabar com um projecto de 5 anos de sucesso e uma marca. Penso que quando o país consegue uma marca – não é marca do Djô da Silva, é marca do país – feita com o dinheiro do estado, e de um dia para outro pôr no lixo e dizer que vai se tentar fazer outra coisa… Como cabo-verdiano não podia aceitar isso. Foi difícil para nós gerirmos isso, foi difícil ouvir os comentários dos estrangeiros. Porque nós circulamos no mercado internacional e ali ouvimos coisas…
Houve muitos comentários?
Ah, sim! Muitos. A imagem que conseguimos criar em cinco anos, em três dias de mercado Womex … Passamos por palhaços. Todos os que iam ao nosso stand [Harmonia] perguntavam: “É verdade o que ouvimos? Vão acabar com a AME?!”. E nós a tentar explicar … Então ficou um mal-estar, e ficou uma má imagem da AME, do MCIC. Eu já tinha praticamente abandonado a ideia de continuar mas depois do mercado decidi que tinha que tentar salvar alguma coisa, então vim a Cabo Verde e em três dias fiz alguns contactos. Foi então que a Câmara Municipal mostrou que de facto não queria perder a marca, que tudo o que a AME trouxe para a cidade da Praia é importante. Depois fui ter com o Primeiro-ministro e também correu bem. Ele era o presidente da câmara quando criamos a AME e até ofereceu a chave da cidade como reconhecimento da importância da AME. Depois foi ver a solução para continuarmos. Reunimos os produtores da cidade e eu perguntei se eles queriam continuar com a AME. Disseram que sim, então eu respondi que teriam que ser eles a assumir a organização porque eu ia sair. Mas aí criamos a associação, conseguimos garantia de 50% de financiamento e agora é o Gugas Veiga o responsável e que vai estar atrás dos privados para conseguir o restante do financiamento. Mas pelo menos sabemos que há continuidade, a marca não ficou perdida e acredito que vão fazer uma boa Feira que talvez venha a devolver a confiança.
O Djô da Silva é o mais poderoso produtor musical cabo-verdiano. Está numa posição confortável mas isso também traz alguns dissabores, para não dizer “desamores”. Como lida com isso?
Eu entendi isso desde que “pus os pés” na música de Cabo Verde. Sabia que teria aqui inimigos mas… faz parte do jogo. Na África, em geral (e não só em Cabo Vede), o produtor é mal visto, é um ladrão, um explorador, etc. Na Europa e nos EUA, se é um grande produtor, quanto mais sucesso tem, mais consagrado, mais as pessoas reconhecem o seu talento. Nós somos diferentes. Mas não faz mal. Eu sei que é assim. Não trabalho só para Cabo Verde e só para África, trabalho para o mundo. E os artistas com quem trabalho sabem que a minha missão é internacionalizá-los e fazê-los conhecidos ao mais alto nível possível. E eu, como produtor, tenho que ser rigoroso, não posso aceitar todos os artistas. Recebo muitas propostas e sei que cada vez que nego uma proposta é um inimigo que ganho. E em Cabo Verde não é só um; é ele, a sua família, os seus amigos… [riso]. Há grandes artistas cabo-verdianos que já solicitaram os meus serviços mas neguei, porque achei que não lhes iria trazer nada, que eu não sou a pessoa ideal para eles. Mas eles não entendem isso; só percebem que eu os recusei. Há coisas que eu sei que sou capaz de fazer e outras não. Há estilos que são sucesso aqui mas que não saem daqui. E isso não é só com Cabo Verde. Há géneros tradicionais e que não se consegue vender lá fora. Só são compreendidos aqui, as pessoas lá fora não conseguem compreendê-los. Então vais lutar por algo que já sabes que é praticamente impossível? Mas as pessoas não entendem. Em Cabo Verde todos os que cantam consideram que podem ter a mesma chance que alguém que chegou lá fora… Não aceitam que a música tem os seus parâmetros, o negócio da música tem os seus parâmetros.
Como produtor o seu maior feito é o sucesso que Cesária Évora tem no mundo. Entretanto houve outras apostas e algumas não resultaram. Lembro-me, por exemplo, do Zé Luís… O que se passou?
Nós não somos fazedores de milagres. Não sou eu quem sobe ao palco, não sou eu quem cria as músicas. Eu apenas intervenho à volta daquilo que o artista faz. Ele cria e eu à sua volta faço todo um trabalho, abro o caminho… Mas é preciso que a pessoa tenha talento, que tenha consciência do seu talento, que é a parte mais importante porque se não sabe até onde vai, se não sabe gerir o seu talento eu só posso aconselhar, mas não posso fazer por ele. Citou o caso do Zé Luís mas há outros casos… Onde nós fizemos todo o nosso trabalho como fizemos com outros artistas, só que não tiveram a inteligência de aproveitar esse trabalho. O Zé Luís teve tudo, produtora, agente, tudo o que outros tiveram. Ele não conseguiu porque ele mesmo pôs uma barreira que ninguém aceitava. Pôs uma barreira por desconhecimento do meio. Com tantos conselhos que lhe dei mas ele não entendeu… Então todas as pessoas que eu tinha conseguido fugiram. Fugiram porque viram que com aquele artista não tinham futuro. Porque essas pessoas são investidores e hoje em dia quem vai investir em alguém que não dá certeza? Ninguém arrisca. Ele mostrou algumas inseguranças… Quando todos se vão embora o que é que eu posso fazer?~
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 833 de 04 de Abril de 2018.