O intento de dedicar uma atenção especial à guitarra/violão surgiu, conforme referiu o director artístico da Guitarrada do Atlântico, Manel di Candinho, uma vez que o panorama artístico-musical cabo-verdiano é preenchido na maioria por guitarristas. “Constatamos que existem vários eventos, como festivais que acontecem quase diariamente, mas não existe uma atenção voltada para a guitarra/violão, sendo Cabo Verde um país de violão”, considera.
Por trás de um grande intérprete há sempre grandes músicos. Mas os holofotes do palco quase sempre se direccionam para o intérprete da música. Ainda que estejam no palco, para a audiência e os media, passam muitas vezes despercebidos e ofuscados pelo dono do microfone, figura principal do palco.
Em termos instrumentais, violão/guitarra vai ser o rei e senhor dos eventos da Capital Eventos, mas os tocadores, estes virão do mundo inteiro. “Não tem que ser apenas para guitarristas cabo-verdianos. Vai ter uma dimensão maior com a pretensão de abarcar o mundo”, defende Manel di Candinho.
Do mundo para os palcos nacionais poderão vir os melhores guitarristas, mas o contrário é expectável que aconteça. Ou seja, dar visibilidade aos virtuosos nacionais desse instrumento de cordas e projectá-los para fora. “Já não seremos vistos apenas cá dentro, mas o mundo inteiro vai passar a conhecer os músicos de Cabo Verde”, observa.
A mesma porta que se abre para os melhores do mundo actuarem cá dentro, acredita Manel di Candinho, vai levar os músicos instrumentistas para o mundo. “Por enquanto, estamos restritos entre nós, por isso, não sabemos a dimensão que temos porque estamos fechados cá dentro, mas noto que há grandes talentos em Cabo Verde”, diz.
A actividade central do projecto Guitarrada do Atlântico está reservada para o mês de Dezembro. Um festival de guitarra que promete juntar guitarristas internacionais e cabo-verdianos, mas não apenas nos palcos. “Todos os guitarristas internacionais que traremos para cá têm que deixar algum conhecimento. Vamos proporcionar sempre um intercâmbio que vai servir para o nosso desenvolvimento”, explica o director artístico do projecto.
Outro evento em perspectiva, ainda sem data marcada, é um Master Classe com um mestre da guitarra brasileira. Guitarrada do Atlântico assume a pretensão de vencer a fronteira das ilhas e do próprio oceano Atlântico em dimensão. O que se tem visto por cá são pequenos eventos, organizados por câmaras municipais, dando palco aos guitarristas nacionais para actuarem. “É com base nisso que queremos trabalhar. Capital Eventos tem a intenção de dar uma dimensão que com facilidade vai ultrapassar a fronteira”, remata.
A aposta recai na recentragem de Cabo Verde como país capital da música e como destino turístico cultural de excelência. Praia, Mindelo e Espargos são as três cidades que vão acolher os concertos.
Um apoio à candidatura da Morna
O concerto de 29 de Junho vai marcar o arranque da Guitarrada do Atlântico. O espectáculo, para além de homenagear a morna através do violão, vai também demonstrar apoio à candidatura desse género musical tradicional a património imaterial da humanidade. O guitarrista Humbertona, executante da morna instrumental, vai também ser homenageado nesse concerto do músico Manel di Candinho que conta com os convidados Bau e Voginha.
“Morna tocada num violão é muito valiosa. Não é fácil criar uma expressão e fazer alguém sentir uma morna somente através da melodia. Mas pode-se conseguir isso muito mais do que os próprios cantores da morna, principalmente para quem explora a guitarra de aço. Assim, pode-se tocar o coração de uma pessoa mais do que o próprio cantor, mas ainda, se calhar os cabo-verdianos, não experimentaram”, diz Manel de Candinho.
Segundo afirmou o director artístico da Guitarrada do Atlântico o projecto da candidatura da morna a património imaterial da humanidade tem que incluir a guitarra. “O Mundo precisa sentir a morna chorada num violão”, recomenda. “Com certeza, é uma forma nova de veicular uma mensagem da morna para o mundo”, acrescenta Manel di Candinho.
Para este músico a morna tem que ser mostrada em diversas formas e linguagens. “Não apenas na expressão verbal, mas também podemos fazê-lo na expressão melódica e de uma forma incrível”, afiança.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 856 de 25 de Abril de 2018.