Escolhem-se músicos de qualidade (ou pelo menos cotados no mercado), enviam-se as músicas (muitas vezes trabalhadas em estúdio para serem sucessos mercantis), onde o envolvimento do disco com os músicos é apenas de trabalho “mecânico” não sendo assim suficientemente emocional para que ao disco associemos a palavra alma. É um formato discográfico, que não me cabe julgar.
Contudo, há também os discos que antes de começar, já estão completamente esboçados e amadurecidos no pensar do autor, com o conceito bem definito.
Foi claramente o que o autor Nhonhô Hopffer (Frederico Hopffer Almada) escolheu para o seu Santamaria.
Acredito que ainda embebido pela dor da perda quis exorcizá-la pela música. Contudo, nunca perdeu a racionalidade que o fez escolher os músicos certos, duetos valiosos, os autores que escolheu e finalmente em tudo isso um denominador comum: o seu querido Santiago, seu berço, ninho em que num dos temas do disco quase nos oferece a bonita imagem de abraçar a ilha juntamente com a(s) filha(s) , num momento de fusão sentido.
O repertório é assinado por nomes de relevo como Mário Lúcio Sousa, Arménio Vieira, o cada-vez-maior George Tavares Silva, Djoy Amado, Kodé di Dona e a beleza de Eugénio Tavares. Ainda o sentimento de um poema do irmão Zé Hopffer.
Segue-se a selecção de duetos de excelência como, por exemplo, o tema Frederika Santamaria com Mário Lúcio e mais vozes que engrandecem este álbum.
A direcção artística e musical a cargo do prestigiado Quim Alves que lidera os arranjos de forma criativa, que para além dos “nossos” típicos instrumentos, passa também pelo Kora e por um naipe de violinos.
Reunidas as condições, inegavelmente sentidas, chega o momento de falar do que acompanhou todo este processo de construção de Santamaria. E esse foi com certeza da responsabilidade de Nhonhô, que imprime todo um sentimento para que este disco atingisse então o tal estado de alma que acima falamos e que diferencia tudo.
O filho de Assomada celebra num misto de homenagem e saudade dorida, todos os que ama.
Para além do registo discográfico, fica também aqui registado um momento … um pedaço de vida do santiaguense Nhonhô Hopffer.