A obra, que foi apresentada por José Tomaz Veiga e Aristides Socorro Pereira, é uma história inacabada. O autor faleceu aos 59 anos, cerca de dois meses depois de ter escrito o primeiro parágrafo do último capítulo do livro.
No livro de 527 páginas, Euclides Fontes faz um relato sobre vários assuntos que marcaram a sua vida, nomeadamente: a sua história política pessoal, as experiências vividas no liceu da Praia, a prestação do serviço militar em São Vicente, onde descreve os abusos e restrições a que os recrutas estavam sujeitos, assim como, a sua participação na luta pela independência de Cabo Verde.
O autor faz ainda uma narração sobre “os piores momentos” da sua vida, como a deportação, e o internamento forçado no campo de concentração de São Nicolau, Angola, a que foi sujeito, bem como a perseguição e humilhação que sofreu quando abandonou o PAIGC, perpetrado pela polícia política e pelos responsáveis do regime do partido único.
A obra possui uma descrição da Vila da Calheta de São Miguel, local onde o autor nasceu a 19 de Setembro de 1950. Aliás, é com esta narração sobre a sua terra natal que Euclides Fontes começa a contar a história.
José Tomaz Veiga, que prefaciou esta obra conta que o autor possui uma escrita despreocupada, simples, directa, sem floreados, quase falada, muito franca e de uma honestidade intelectual.
“Euclides Fontes era de uma simplicidade desarmante. Espírito irrequieto, sempre à procura de respostas, questionava tudo, inclusive as suas próprias ideias e convicções, com uma humildade e uma abertura de espírito cativantes para todos os que prezam estes valores na convivência humana. Era também um homem de convicções fortes”, recorda.
Conforme relata, ao passar pelas páginas deste livro, o leitor dar-se-á conta de que a história inacabada de Euclides Fontes não é, afinal, e como se poderia pensar, a história das minudências da vida dele.
“É também, e sobretudo, a história de um período crítico da luta pela independência e dos anos que se seguiram, contada na primeira pessoa por quem a viveu. Uma história que tem permanecido obscura e mal contada pelos poucos que a isso se aventuraram”, sublinha.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 883 de 31 de Outubro de 2018.