"Os museus nacionais têm de fazer, à semelhança do que outros estão a fazer na Europa, um trabalho exaustivo de levantamento desses bens coloniais e da forma como estes chegaram às suas mãos. Depois, não têm de, necessariamente, serem devolvidos, mas tem de se iniciar com a outra parte uma negociação" sobre o destino a dar-lhes.
Na opinião do professor catedrático de Coimbra esse trabalho de restituição pode começar pelos "casos em que há uma reivindicação expressa de devolução do país em questão".
E tendo em conta que "muitos desses objectos que se transformaram em peças de arte" dos museus europeus acabam por ter "um valor simbólico muito forte".
O especialista destaca, assim, sobretudo os objectos usados em práticas religiosas ou em rituais colectivos.
"Muitos eram algo sagrado, com um valor insubstituível e não vendável", afirma.
"Não há uma solução genérica para a restituição dos bens. Cada caso é um caso", recordando que a Bélgica vai abrir em Dezembro, perto da capital, Bruxelas, um Museu Africano no qual muitas colecções coloniais "vão ser apresentadas num conceito diferente daquele em que são expostas nos museus etnográficos, ou seja, introduzindo precisamente a questão da origem das peças".
A base para o processo de restituição, porém, é sempre o inventário, daí que este deve começar o quanto antes, diz.
"Há um problema de restituição de extrema complexidade que não se resolve com chavões generalistas", é "preciso ser estudado caso a caso" e "depende muito de negociações que haja a fazer entre as partes envolvidas", considera Sousa Ribeiro.
Na quinta-feira, o académico participa numa conferência em Lisboa precisamente sobre o património e a memória colonial.
"Este processo só pode iniciar-se se houver um reconhecimento das potências europeias, que tem de haver, de que na verdade muitos dos objetos que têm nos seus museus foram trazidos ilicitamente de territórios e subtraídos a populações que não foram tidas nem achadas nesse processo", explicou.
"Esta questão da memória colonial, não se coloca apenas nos países colonizadores mas também se coloca nos países colonizados, que tiveram no caso português, sobretudo Angola e Moçambique, mas também Guiné-Bissau, um período pós colonial bastante conturbado", afirma.
Além disso, são países cujas elites de dirigentes "têm as suas próprias versões do processo de emancipação colonial e do colonialismo que não são também necessariamente as mais corretas", afirmou o professor.
Sousa Ribeiro é docente do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Germanísticos) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e com obra publicada na área, nomeadamente, em 2016, o livro "Geometrias da Memória: Atitudes Pós-coloniais".