Elas - uma viagem musical no feminino, de Vera Cruz

PorChissana Magalhães,7 dez 2018 8:07

Cartaz do musical "Elas - Uma viagem no feminino"
Cartaz do musical "Elas - Uma viagem no feminino"(divulgação)

Regressa este Domingo ao palco na Praia, depois de em Novembro ter sido a peça que encerrou o festival internacional de teatro Mindelact, o espectáculo musical que celebra as mulheres “sem mensagens acusatórias” e com uma viagem por cinco séculos de história e de estórias.

“Uma loucura”. Assim resume Vera Cruz a empreitada de criar e por em palco o musical “Elas – Uma viagem no feminino”.

Estamos na livraria Nhô Eugénio e a actriz e produtora cultural, antes que entrevista se inicie, aproveita para se informar sobre a venda dos bilhetes para o espectáculo de Domingo, convidar um amigo que lá encontra a ir assistir, atender a telefonemas e passar instruções a algum colaborador da produção.

Vera Cruz tem um daqueles perfis multifacetados e, ao longo de já décadas de carreira, canalizou a sua criatividade para a actuação (no teatro e no cinema), para a escrita (poesia e letras de música) e para a performática (tanto como produtora quanto como declamadora no CidadiPoesia e no Spoken Word Cabo Verde). Desta vez estreia-se como dramaturga e encenadora.

“Fizemos uma primeira versão desta peça, a 27 de Março (Dia da Mulher Cabo-verdiana) no Centro Cultural Português da Praia, inserida na programação do Grito Rock. No dia seguinte, recebemos logo o convite para que esse espectáculo fosse a peça de encerramento do Mindelact 2018. O João Branco [director artístico do festival] pediu-nos que introduzíssemos mais informações cénicas para que, não deixando de ser um musical, tivesse mais de teatro. Para mim foi um verdadeiro desafio porque nunca escrevi um guião. Já escrevi letras de música, já escrevi um texto ou outro mas, não sou propriamente uma escritora”, diz Vera Cruz que conta sobre as noites em claro, debruçada sobre o tal guião em busca de “chegar a porto seguro”.

O guião desta segunda versão só seria fechado a dois dias da estreia no palco do mais antigo e internacional festival de teatro do país.

É uma segunda versão e não a versão final. Porque a criadora já sabe que esta será sempre uma peça “mutante”.

“É inevitável que aconteçam alterações. Cada vez que a fizermos vamos estar a parir a peça e ela terá ingredientes diferentes. Não vamos mudar nada de essencial mas, sempre há espaço para alterar um ou outro aspecto, para melhorar”.

Na encenação que se irá apresentar no dia 09, no Auditório nacional Jorge Barbosa, as mudanças mais notórias acabam por ser a troca dos músicos que acompanham as intérpretes em palco e Soren Araújo a substituir Ivan Medina na direcção musical.

Vera Cruz já tinha criado, em 2016, “Gin com Elas” inspirado na peça “Monólogos da Vagina”. Este “Elas - uma viagem musical no feminino” acaba por ser uma outra forma de abordar uma vez mais o universo feminino.

"Elas” é um musical onde palavras faladas e cantadas por mulheres, deixam a marca das lutas no feminino”, descreve o texto de divulgação do espectáculo que também fala de “uma viagem da mulher cabo-verdiana, e do mundo, ao longo de cinco séculos de história”.

A encenadora reforça:

“É uma homenagem às mulheres. De Cabo Verde, do Mundo. Então havia alguma angústia do tipo “de quem posso estar a me esquecer”? Tantos nomes, tantas mulheres activistas, outras que perderam a vida no exercício desse activismo… Não queria ser injusta com ninguém. Mas também em apenas uma hora não se consegue apanhar um universo de mulheres que fizeram mil e uma coisas. Mulheres como Marie Gouze, como Maya Angelou, como Bibinha Cabral, ou mesmo a mãe negra africana, a mulher dos dias de hojel e os problemas que enfrenta. Porque as leis hoje já prevêem muita coisa mas depois, na prática, nós sabemos que não é bem assim. Então acaba por ser um convite á reflexão”.

Para Vera Cruz abordar estes temas através de um musical é uma forma positiva de tomar uma posição. “Não estamos ali para castrar e a mensagem não é acusatória e “anti” o que quer que seja; na verdade é “pró”. O que trazemos de novo são as vozes femininas. Temos alguns autores cabo-verdianos que falam da mulher nas suas músicas e poemas e desta forma, criando alguma emoção, acho que conseguimos trazer estas questões”.

Os textos e as canções que dão corpo ao espectáculo são entregues através da simulação de um programa radiofónico á moda antiga, em que a música que passava nas rádios era tocada e cantada ao vivo, nos estúdios. E a encenadora não poderia estar mais orgulhosa do seu elenco.

Ana Lisboa Santos, Fattú Djakité, Nilde Mulongo, Su Marie Maltese, Vera Figueiredo e Zubikilla Spencer são as actrizes que a acompanham em palco e com quem diz não ter sido difícil trabalhar, mesmo com duas delas em avançada fase de gestação. “São vozes maravilhosas”, elogia.

Outro elogio e reconhecimento que faz questão de deixar é ao Banco Interatlântico, o patrocinador desta produção. “É preciso dizer porque é cada vez mais difícil conseguir patrocínios, e sem este não seria de todo possível subirmos ao palco no próximo Domingo”.

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Autoria:Chissana Magalhães,7 dez 2018 8:07

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  7 dez 2018 16:02

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