Tem uma voz que parece ser o veículo que vai buscar a música da cantora, que está docemente bem escondida, guardada, quase que para um processo de maturação, aguardando o momento próprio para sair… e nos encantar.
Na verdade Eriykah Badu canta com a alma enquanto os preciosos movimentos que vai fazendo com o corpo, embalando-se a si própria, fazendo assim com que a música também saia com o groove necessário prendendo assim quem a ouve.
E, na verdade, ela consegue pôr-nos em estado tal que, sem querer, vamo-nos misturando com ela, e numa só vibe, nos envolvemos, dançando sentados sobre os sons da Badu.
“Baduizm” foi o seu primeiro álbum, e talvez o grande momento da carreira de Erykah, até então. Fizeram parte da produção os enormes “The Roots” e gravou para a “Kedar Records”.
Foi lançado em 1996 quando o “new-soul” começava a aparecer. Grande parte da crítica musical considera este álbum com um dos marcos deste género musical (apesar de não podermos deixar de ter em conta que antes “D’Angelo“ já tinha também trazido ao público este género de soul, muito orgânico, que proporciona uma sensação de proximidade total entre quem ouve e quem canta.
Para mim, mais do que isso, trouxe-nos a calma e a doçura, que talvez tenha ficado mais atrás, desde a época “Motown”. Terá Erykah resgatado a “Motown”? Poderá ser uma responsabilidade pesada para lhe ser atribuída, entretanto uma coisa é certa: houve algo suavemente novo, com o lançamento de “Baduizm”.
Obrigatório.
Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 901 de 05 de Março de 2019.