Nascido na localidade de Tabugueiro, em Santo Antão, a 25 de Junho de 1922, Guilherme Chantre faleceu no domingo, em Lisboa, aos 98 anos.
Lembrado pelos antigos alunos pelo nominho de Chantrim, Guilherme Chantre é recordado por todos os seus alunos com um misto de carinho e reverência. “Homem de rigor”, “exigente”, mas também “humano” e “pedagogo” são algumas das palavras que antigos alunos usam para recordar um professor e pedagogo que, dizem, “marcou gerações”.
Nascido “numa família de agricultores de Santo Antão”, como lembra César Monteiro, Guilherme Chantre faz toda a sua infância e adolescência na ilha das montanhas. “Aluno brilhante” depois de concluir o Liceu “começa a dar explicações” e a partir daí “a sua vida fica ligada ao ensino”.
Concluído o Liceu, faz o curso de Magistério Primário em Portugal e regressa a Cabo Verde e “envereda pelo ensino”. “Começa pelo Liceu Gil Eanes e mais tarde ingressa na Escola Técnica onde faz toda a carreira até à sua exoneração em 1974, altura em que parte para Portugal e por lá fica até à morte”.
Guilherme Chantre, recorda Xisto Almeida, é um nome “que significa muito, porque depois dos meus pais foi ele quem mais contribuiu para eu ser o homem que sou”. “Devo muito a ele, com muito sentimento, muito carinho”, continua.
“É com profundo sentimento pela perda do nosso grande professor” que Xisto Almeida recorda a influência que Guilherme Chantre teve na sua vida e na vida de vários alunos da Escola Técnica do Mindelo. “Para mim, em Cabo Verde, foi um marco na educação e no ensino. Um líder carismático, um grande pedagogo. Confesso que fez de mim e dos meus colegas bons alunos, bons cidadãos e bons profissionais. E se eu sou o que sou hoje é graças aos meus pais e também ao nosso professor Chantrim”.
Recordado como um “homem de rigor” foi com esse rigor que “contribuiu para o desenvolvimento da Escola Técnica”, assegura Xisto Almeida.
“Guilherme Chantre foi extremamente importante para a nossa geração”, lembra por sua vez Leão Lopes. “Foi uma referência fundamental na nossa formação. Foi meu professor e teve uma direcção muito particular, porque acompanhava de muito perto os estudantes e era ele que promovia os estudantes para prosseguirem os estudos tentando conseguir bolsas para que continuássemos os estudos em Portugal e que nunca deixou de ser nosso amigo e de nos acompanhar mesmo como adultos”.
Leão Lopes recorda que “até há pouco tempo” teve “contacto com ele” e que Guilherme Chantre, apesar de viver em Portugal desde 1974, “sempre esteve atento ao país, porque teve uma postura política, cívica e crítica, extremamente interessante e inspiradora para nós”.
“Lamento imenso saber da morte dele”, acrescenta Leão Lopes.
António Pascoal destaca que antes de se falar de Guilherme Chantre é preciso falar da escola onde este deu aulas durante quase toda a sua carreira. “A Escola Técnica teve uma importância fundamental porque veio inaugurar o ensino técnico em Cabo Verde e formou gente que se destacou em várias áreas antes e na altura da independência. E eu tenho a honra de ter sido um desses antigos alunos da Escola Técnica” e “Guilherme Chantre é o grande promotor cabo-verdiano da Escola Técnica”, aponta António Pascoal.
“Era de um rigor terrível e, ao mesmo tempo, tínhamos admiração e medo dele”.
“Tive a felicidade de ter sido aluno não só dele. Mas ele era um grande director que lutava pela Escola Técnica”, recorda António Pascoal.
No livro ‘Guilherme Dias Chantre, um educador e líder carismático’, organizado, em 2010, por César Monteiro, por ocasião de uma homenagem a Guilherme Chantre, estão compilados diversos testemunhos de antigos alunos daquele estabelecimento de ensino técnico.
Guilherme Chantre é, por todos eles, recordado com palavras de afecto. De entre eles destaca-se o colega Rolando Vera-Cruz Martins que o recorda pela sua “competência científica e pedagógica, clareza de exposição, capacidade de captar o interesse dos alunos e de os motivar para uma participação activa na aula, (…) exigência aos alunos de um comportamento disciplinar adequado, sem excessos autoritários, são alguns dos predicados que definiam o perfil do professor Guilherme Chantre”.
“Sempre sensível aos problemas escolares, familiares e sociais dos alunos, que eram muitos e de variada ordem, desenvolvia todos os esforços para os ajudar na sua resolução ou mitigação. São exemplos de iniciativas nesse sentido a criação de uma cantina que servia almoços a preços simbólicos ou gratuitos”, recorda ainda Rolando Vera-Cruz Martins.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 990 de 18 de Novembro de 2020.