Mesmo antes de haver a instituição da imprensa em Cabo Verde – em Outubro de 1877, um ano antes do fim oficial da escravatura, viria a aparecer na Cidade da Praia o primeiro jornal – a preocupação da elite intelectual, de Hypolito da Costa Andrade a Eugénio Tavares e José Lopes, centrava-se na identificação do tipo ideal de jornalismo que conviria às ilhas.
As posições defendidas por esses intelectuais eram coincidentes e, por vezes, complementares: um jornalismo independente dos poderosos e alheio à baixa política, que não fosse um repositório de lisonjas nem uma folha de “curcutição” (maledicência) e que concorresse para o levantamento espiritual do seu povo.
Em 2022, ano em que se assinala os 145 anos da imprensa escrita em Cabo Verde com a publicação do “Independente”, vivendo o país num regime democrático multipartidário instituído há 30 anos, o balanço, neste particular, é pouco animador ou mesmo preocupante. O país que em 2019 tinha dois jornais impressos a circular ficou reduzido a um. O jornal Expresso das Ilhas, fundado em 2001, sofreu, em 2010, uma profunda estruturação destacando-se a experiência ininterrupta até hoje de apresentar um editorial em todos os números do semanário, caso único na história da imprensa escrita em Cabo Verde.
Em 2017 a Direcção do jornal tomou a iniciativa de publicar em forma de livro 100 de entre os mais de trezentos editoriais escritos nesse intervalo de tempo 2010/2017 com o propósito de “dar uma visão da evolução do jornal no período referido e deixar claro a sua Nota Introdutória reorientação no sentido de melhor servir o público, a democracia e o legítimo interesse de todos em ver Cabo Verde desenvolver-se”.
Muitos leitores dessa primeira edição de editoriais deixaram saber que valorizaram a iniciativa ”por se prestarem a uma espécie de primeira leitura histórica de acontecimentos recentes no país” pelo que o jornal decidiu manter essa opção, seguindo-se os editoriais de 2018, 2019, 2020, e agora os de 2021.
Os jornais são periódicos que têm saídas regulares e um tempo curto de vida – diários, semanários ou quinzenários – e depois são deitados fora. Os seus textos registam e fixam matérias do quotidiano tanto de ordem social, como política, económica ou cultural, relevantes para se ter uma visão dessa sociedade. É, pois, responsabilidade das instituições do Estado arquivar e manter um repositório desses jornais com esse propósito.
Estes editoriais do Expresso das Ilhas vêm permitir fazer uma retrospectiva dos temas que marcaram a actualidade em cada semana do ano de 2021. Estando organizados em livro, facilita-se essa leitura e as pesquisas nas bibliotecas e nos arquivos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1059 de 16 de Março de 2022.