Alexandrino Lopes, mais conhecido por Titio, o proprietário do espaço, conta que Tronku é resultado de uma pesquisa académica. “Um trabalho inovador, pois foi resultado da minha pesquisa de mestrado”.
“Abrimos o Tronku em 2018, fui fazer o meu mestrado no Brasil e quando regressei, em 2021, renovei o espaço. O Tronku renovado já está a funcionar há um ano. É um espaço onde o meu pai tinha uma lojinha e é uma homenagem a ele”, explica.
O projecto nasceu, segundo Alexandrino Lopes, da necessidade de oferecer aos praienses algo diferente daquilo a que estão habituados. “Tronku surgiu para dar resposta a uma demanda local. Surgiu numa zona com problemas pelo que assumi o desafio de criar algo, já que antes tínhamos que ir a outros bairros para nos divertir. E aí pensei: por que não criar um espaço aqui?”.
Segundo o seu promotor, Tronku representa força, raiz, unidade, justiça, subalternidade, emancipação, africanidade, vontade, prazer, progresso e positividade, representa aquela energia e vontade que sempre assumiu.
O espaço tem atraído vários turistas. “É oportunidade também para os jovens começaram a se relacionar com os turistas e estamos a conseguir trazer turistas para cá. Os turistas antes eram vistos no Platô, eram outras pessoas e outras classes sociais que tinham oportunidade de interagir com eles, mas agora temos oportunidade de fazer as pessoas desta zona colaborar com os turistas”, destaca.
Conforme explicou, Tronku é outro produto que querem vender, que é “algo imaterial, pois não é palpável, mas é algo que se sente. Não é necessário uma estrutura grande, é só uma rua que tem magia. É aquilo que sempre digo, vendo magia ou alegria, porque tudo é feito dentro de muitas perspectivas e não há limite”.
“A nossa ideia é romper com a barreira e criar pontes para que as pessoas possam estar juntas porque para mim a educação é mais do que quatro parede ou livro para estudar. Educação para mim é experiência, vivência e quando vêm cá ministros ou deputados conviver, as crianças da zona criam uma referência e tem outra perspectiva, pois tem oportunidade de conversar com pessoas com condição social ou económico mais elevada”, sublinha.
Ecomimia local
Com o projecto, Alexandrino Lopes explica que tem conseguido que várias famílias das redondezas tenham um rendimento. Além de dar emprego aos jovens do bairro, o projecto já fez com que o negócio de muitos vizinhos progredisse. “Trabalhamos com mais de 30 jovens da zona. Conseguimos pôr a economia a funcionar dentro desta estrutura e todos os que estão ao redor estão a ganhar com isso”.
Para Titio, o que lhe dá motivação e que o faz acreditar neste projecto é quando ouve relatos de vizinhos que a vida deles mudou com o Tronku.
“Muitas pessoas que estavam com os seus negócios fechados, hoje estão a prosperar, muitas casas que estavam fechadas, porque ninguém queria morar aqui, hoje estão supervalorizadas graças ao Tronku porque trouxemos economia e capital para esta zona e as pessoas estão a tirar partido disso e a ideia é isso mesmo”, sublinha.
“Nós hipervalorizamos esse espaço, criamos condições para fazer negócio, os apartamentos aqui estão supervalorizados, pois o preço das casas aumentou muito com esse projecto. Hoje temos apartamentos aqui de 30 mil escudos, derivado ao Tronku”, afirma.
Titio explica que a sua ideia não é competir nem ter um monopólio desse lugar. “A minha ideia é criar uma centralidade, um centro de referência para agregar muitas pessoas e fazer o meu redor funcionar”.
Por outro lado, garantiu que todos quantos vão ao Tronku sentem-se agradados porque o lugar proporciona outra energia e outra visão. “Tronku é uma alternativa social, é um projecto mais do que privado, pois nasce num âmbito social, de empoderamento, de alternativa local, perspectiva nacional de Cabo Verde”.
“E é isso que é a minha felicidade, não existe outra. Tronku começou lá dentro, depois o espaço começou a ficar cheio, então saímos para fora”, acrescenta.
Criminalidade
Alexandrino Lopes revela que com o projecto conseguiu tirar a zona de Fundo Cobon do mapa da criminalidade e passá-lo para um mapa de prazer, de beleza e de boniteza. “Era um espaço que não tinha alternativa e que hoje está na boca do mundo. E Tronku não orgulha só Fundo Cobon, mas a Cidade da Praia e Cabo Verde”.
“A ideia não é a pessoa emancipar-se, é combater a criminalidade, aqui era um espaço escuro, sem luz eléctrica onde as pessoas podiam passar e cometer crimes”, indica. Hoje, tem iluminação e tranquilidade. “Estamos aqui todas as semanas a fazer força de resistência e hoje é um grande sucesso. Tronku criou um movimento e hoje tens um relato diferente daquilo que tínhamos antes”.
Conforme contou, Tronku já recebeu pessoas de várias classes sociais. “Já recebemos deputados, ministros, pessoas de vários lugares e até das embaixadas sediadas na capital do país”.
“Tronku já é uma marca e está na boca do povo”, garante, dizendo que Tronku é um património nacional, “para a minha grande alegria seria bom que outras instituições abraçassem este projecto”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1072 de 15 de Junho de 2022.